Esta matéria decididamente não é para os amigos do Jeep Clube, que já são experts no assunto. É dedicada a todos os outros mortais que possuem um veículo 4x4 e o usam preferencialmente na cidade. Segundo pesquisas sérias, mais de 70% dos veículos 4x4 vendidos, e aí se incluem picapes, vans, SUV´s e até alguns esportivos, são usados essencialmente no asfalto, sem nunca terem pisado (ou rodado) em uma estrada de terra. Afinal, poucos se habilitam a encarar um lamaçal com um carro caro, alguns acima de R$ 150.000,00. Mas todos os 4x4 são projetados para encarar desafios, alguns mais leves e outros bem mais pesados.
Não se pode, porém, comparar veículos entre si apenas por terem em comum a tração nas quatro, como o Ford Ecosport e um Land Rover Defender, por exemplo. São conceitos diferentes, já que o Ecosport é um SUV familiar que, com a tração 4x4 se habilita a ir ao sítio ou à praia com mais tranqüilidade, enquanto o Defender é um verdadeiro jipão para qualquer terreno.
Entretanto, proprietários de picapes Ranger, S10, Hilux, Frontier, dentre outras, devem entender como funciona o sistema de tração total de seu veículo, mesmo que só o utilizem esporadicamente ou em emergências. O principal é que existem dois tipos básicos de tração nas quatro: parcial ou permanente. A diferença é que a parcial funciona no asfalto como 4x2 e permite que a 4x4 seja ligada ou desligada na terra. Já a permanente está sempre em 4x4, inclusive no asfalto, e para isso tem um terceiro diferencial central, que interliga os outros dois diferenciais nos eixos, para compensar o efeito do movimento em curvas. Por isso que em sistemas parciais (os mais comuns) nunca se pode usar o 4x4 no asfalto, apenas na terra ou no molhado, onde há maior escorregamento.
Uma amiga que tem uma Ranger 4x4 disse-me que foi instruída pelo vendedor da concessionária a ligar a tração 4x4 em caso de chuva forte, para maior aderência na estrada... ela fez isso uma vez e a conseqüência foi o diferencial dianteiro estourado. Falta de preparo das concessionárias no treinamento de seus vendedores!
Um outro aspecto importante é o uso do sistema de roda livre, que desacopla a roda quando não estiver sendo tracionada. Comumente este dispositivo é automático, mas em caso de uso mais pesado (em jipes, por exemplo), o indicado é que seja manual. Neste caso, ao engatar-se a tração total, precisa-se conectar também a roda livre, para transmitir o torque às rodas. Não se deve esperar atolar para ligar a roda livre, recomenda-se que se conecte ainda no asfalto, em 4x2, e siga rodando. Assim, quando necessitar da tração extra nas quatro rodas, basta acionar a alavanca ou o botão que o carro estará apto a sair da encrenca.
Alguns modelos dispõem também da reduzida, que é uma desmultiplicação do câmbio, usada apenas quando a tração 4x4 estiver ligada e que aumenta em muito a força do motor. Deve ser usada apenas em situações muito críticas, para sair de atoleiros ou erosões, subidas íngremes ou na necessidade de muita força extra de reboque. Um sistema 4x4 torna o veículo mais versátil, passando por praticamente qualquer lugar, mas também o deixa mais pesado, menos ágil, menos econômico e bem mais caro. Geralmente é muito carro só para ir ao shopping...
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CORREIO TÉCNICO
Quero trocar os bancos do meu Gol por outros mais confortáveis. Posso usar bancos de outras marcas, do Marea, por exemplo, ou tenho que ficar com os originais?
Lauro P. S. Sandrix - Pirajuí - SP
Lauro, bancos são dimensionados para o tamanho e o modelo do carro, levando-se em conta a ergonomia interna e o posicionamento do motorista e passageiros. Por tudo isso, recomendo que, se quiser substituir os seus bancos originais por outros, faça-o dentro da mesma família do seu carro, no caso, procure um de Parati ou de Saveiro, ou mesmo de um outro Gol, de versão mais luxuosa. As dimensões do Marea são muito grandes para caber num Gol, ficando pouco espaço livre nas laterais para regulagens de encosto e avanço e deixaria você em posição desconfortável para guiar. De qualquer forma, use sempre os trilhos originais do banco para ancoragem no assoalho, pois estes foram homologados em crash test.
Sugestões para a coluna e perguntas à seção Correio Técnico devem ser enviadas ao e-mail automerc@jcnet.com.br ou à redação do Jornal da Cidade, na rua Xingu, 4-44, Higienópolis. É obrigatório informar nome completo, RG, endereço e contato (telefone ou e-mail).
* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e assina uma coluna na revista Quatro Rodas Nitro. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.