Bairros

Bairros são terreno fértil para negócios

Rodrigo Ferrari
| Tempo de leitura: 4 min

Nas últimas décadas, as transformações ocorridas nos bairros periféricos de Bauru foram imensas. Isso não é novidade para ninguém. O interessante nesse processo, porém, é o crescimento vertiginoso apresentado pelo comércio desses locais.

Cerca de dez anos atrás, muitos bairros de Bauru não contavam com um estabelecimento sequer. No máximo o que se encontrava eram alguns botequins de esquina. Com muita sorte era possível se ter acesso a alguma mercearia, mas só para casos de emergência, uma vez que a ofertas de produtos nesses lugares não era das mais variadas.

Padarias, açougues, videolocadoras e salões de beleza eram quase inexistentes. Academias de ginástica ou consultórios médicos, quase inimagináveis. Mas isso foi há bastante tempo e hoje a realidade dos bairros carentes é bem diferente.

O processo é mais notório em grandes avenidas da periferia, como a Lúcio Luciano, na zona leste, ou a Castelo Branco, na região oeste. Devido ao grande movimento de pessoas e veículos que apresentam, essas vias se transformaram em importantes corredores comerciais da cidade.

Atualmente é possível se achar de quase tudo nelas. Não que os negócios existentes nessas avenidas possam ser equiparados aos existentes em áreas mais tradicionais da cidade, como o Centro e a zona sul. Ainda assim, elas já se mostram capazes de “fisgar” diversos consumidores ao redor da cidade.

“Esse processo é natural. Como as regiões periféricas não contam com muitas opções de consumo, o espaço para o surgimento de empreendimentos acaba sendo maior. É por essa razão que os bairros pobres estão ficando repletos de novos negócios”, explica a analista Lúcia Helena Tragante, responsável pelo setor de educação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Atualmente, por exemplo, os moradores da zona noroeste (considerada a mais carente do município) já não precisam mais ir ao Centro para ter acesso a uma série de bens de consumo. Nos últimos anos, a avenida Ayrton Busch se transformou em um verdadeiro corredor de negócios.

“O comércio anda crescendo bastante por aqui”, observa Elisabete Naba, 43 anos, dona de uma loja de roupas instalada na quadra 6 da via. Antes de se fixar no local, há aproximadamente um ano, ela possuía um estabelecimento no Parque Bela Vista.

Apesar de o bairro da zona oeste ser bem mais antigo que o Santa Edwirges e possuir um população de maior poder aquisitivo (ao menos isso é o que pessoas costumam imaginar), Naba se mostra para lá de satisfeita com a mudança. “Na Bela Vista o negócio andava muito parado”, reclama.

A comerciante conta que costumava passar dias inteiros sem receber um único cliente. “Eram sempre as mesmas pessoas, que iam até lá pegar uma coisinha ou outra”, afirma. Um dos problemas da Bela Vista, de acordo com ela, é que o bairro fica muito próximo do Centro.

“Para um morador de lá é mais fácil ir até o Calçadão num momento de necessidade. Os moradores daqui não têm a mesma facilidade e compram na vizinhança aquilo que precisam”, analisa. Quando resolveu mudar o endereço da loja, o negócio já não era rentável há bastante tempo. “Não entrava nem saía mercadoria”, garante.

A escolha do imóvel onde a loja está instalada atualmente se deu após a inauguração de um supermercado na avenida Ayrton Busch, meses atrás. “Imaginei que o movimento da região ficaria maior, então resolvi procurar uma espaço aqui perto para mim”, diz.

Outros comerciantes da região também se mostram confiantes com relação ao futuro do comércio do bairro. Apesar de morar no Núcleo Joaquim Guilherme, zona sudoeste de Bauru, Fabiana Modolo, 28 anos, preferiu investir em uma farmácia no Parque Santa Edwirges.

E por que não escolheu o Centro, que é bem mais movimentado? “Não vale à pena, pois a concorrência lá é grande demais. Nossas chances são maiores aqui”, pensa. Segundo ela, no último sábado, o estabelecimento recebeu aproximadamente 20 clientes.

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Na curva do ‘estradão’

Chão de terra batida, árvores e mato tomando conta de tudo, ausência quase completa de elementos da vida urbana, como casas e postes de iluminação. A vegetação é tão densa que chega a esconder até mesmo as torres de alta tensão que transmitem energia para todo o País.

Assim é a via que liga o Núcleo Gasparini à Pousada da Esperança, na zona norte da cidade. A situação existente na Sebastião Arantes Figueiredo é tão precária que ela nem costuma ser chamada de rua pelos moradores.

“O pessoal a chama de ‘Estradão do Gasparini’”, explica Gertrudes Aparecida da Silva, 49 anos. Ela é dona de um dos poucos estabelecimentos comerciais da rua, uma prova de que o capitalismo é capaz de estender seus tentáculos até os pontos mais inusitados do planeta.

O pequeno brechó, localizado na Pousada da Esperança, costuma passar tempo sem receber clientes. Enquanto isso, Brunhati Kaomiyama, 70 anos, marido de Silva, aproveita para passar as manhãs ouvindo rádio. Para que o negócio fosse montado a família gastou cerca de R$ 2.000,00, usados na construção de um cômodo na entrada da residência.

Por enquanto, o retorno financeiro não é dos mais animadores. “Por mês, rende em torno de R$ 600,00”, calcula Kaomiyama. Os artigos expostos no brechó são baratos: nenhum custa mais que R$ 30,00. Ou melhor, quase nenhum. “Tem um vestido de noiva da minha cunhada que vale R$ 300,00”, lembra Silva.

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