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Entrevista da semana: A motivação que vem do trabalho

Gustavo Cândido
| Tempo de leitura: 12 min

Não são necessários mais do que alguns minutos de conversa com César Augusto Barboza para perceber que ele é uma pessoa que sabe o que quer e não tem medo de buscar o seu objetivo. Esse desejo de conquistar talvez explique o seu êxito à frente da Graduados, empresa parceira da Sagae Eventos em Bauru e região que domina o mercado quando o assunto são festas de formatura, apesar de também realizar eventos que vão de casamentos a encontros empresariais.

Formado em engenharia elétrica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), ex-professor, especialista em matemática financeira, Barboza personifica o conceito de self made man - aquela pessoa que se faz por si mesma, alcançando uma situação social superior graças ao próprio esforço – que não foge do trabalho mesmo já estando em uma situação na qual poderia apenas delegar tarefas.

Workaholic convicto, na entrevista a seguir Barboza fala de formaturas e de como consegue ser onipresente em todas as etapas de trabalho da sua empresa. Leia os principais trechos.

Jornal da Cidade – Como o senhor veio para Bauru?

César Augusto Barboza – Sou de uma família muito simples de Valparaíso. Minha mãe era professora do Estado, hoje é diretora de escola no município, e o meu pai é policial militar. Passei no vestibular da Unesp e em mais dois lugares e vim para cá porque minha avó paterna estava aqui e assim não teríamos o custo da moradia. Era o aluno mais CDF da turma, nunca tirei menos que 8 no primeiro ano, até que um dia invoquei que tinha que morar em república e avisei a minha mãe que a partir dali, me sustentaria. Fui monitor por dois anos e meio e logo comecei a dar aula em um cursinho. Então comecei a dar aula com 17, 18 anos.

JC – Ao mesmo tempo em que fazia faculdade?

Barboza – Ia para a Unesp de manhã e ficava até o final da tarde. À noite eu dava aula. Dei aulas de matemática financeira no Senac durante quase 10 anos, dei aulas em vários cursinhos de Bauru, no colegial da USC. Dei aula naquilo que eu podia enquanto não tinha diploma.

JC – Quando começou o seu envolvimento com a promoção de eventos?

Barboza – Quando estava no quarto ano de faculdade conheci o maior amigo que já tive na vida, o Adnan Shahateet, que infelizmente faleceu com apenas 31 anos. Ele e o irmão, Feres, eram sócios de João Cabreira no Camarim e eu fui trabalhar com eles como relações públicas na fase áurea da casa, de 1988 a 1992, organizando a parte de festas. Foi lá que cheguei ao lance da formatura. Pensei: quem faz isso em Bauru? E não tinha ninguém. Daí surgiu a Sagae, que é a empresa que até hoje está comigo. Estou com ela há quase 20 anos, sendo que ela tem 25 anos de mercado e ela continua fazendo a parte de foto e filmagem para nós até hoje. Foi um crescimento meio junto do César com a Sagae. Eles confiaram em mim, que era um aluno de 4.º ano de faculdade. Só que naquela época eu trabalhava no meu tempo vago, quando precisava de dinheiro. Enquanto isso estava na boate também, organizando festas e dava aula. A minha profissão mesmo era professor, sempre adorei dar aulas.

JC – De onde é a Sagae?

/Barboza – A Sagae começou em 1986 ou 1987, em Bandeirantes, no Paraná, com quatro irmãos. Eles tinham pouquíssimos contratos no Brasil... Eu trouxe a Sagae para Bauru e hoje tenho, aqui dentro, 140 contratos a vencer até 2010. A Sagae hoje tem 14 franqueados no Brasil e fotografa, em média, 30 mil alunos por ano. Eu sou o franqueado em Bauru e também em Ribeirão Preto, a minha empresa e do meu sócio, José Eduardo Fernandes Kronka, se chama Graduados. A Sagae só faz foto e filmagem e o franqueado faz o evento. No Brasil, todos os franqueados da Sagae fazem por ano de 900 a mil eventos. Ela é considerada hoje a maior empresa do Interior do Estado de São Paulo e no começo eles nem faziam eventos. Eu é que introduzi isso aos poucos. Quando uma turma vem sentar conosco, uma garantia que eles têm é que, qualquer que seja o franqueado, além da empresa com a qual eles assinam o contrato há a Sagae Eventos por trás.

JC – O senhor atende Bauru e região?

Barboza – Hoje trabalhamos em Bauru e em uma área de 200 quilômetros em volta, e vou para Ribeirão Preto uma semana sim, uma não, porque também tenho a franquia lá. O engraçado é que aquilo que eu fiz um dia hoje eu tenho 15 pessoas fazendo, todas elas treinadas por mim. Não é legal pegar uma pessoa que vem de outra empresa porque ela vem com um vício que para mim não é interessante. Eu formo os meus funcionários, eles têm que trabalhar no perfil que eu quero, para que tudo o que nós fazemos tenha uma harmonia. A nossa equipe é bem estruturada, o que está a menos tempo comigo está há seis anos. Esse ano estou treinando cinco novos. Quis dar o retorno para aquilo que me fez crescer um dia, peguei estagiários de publicidade, turismo e jornalismo das faculdades de Bauru.

JC – Há quantos anos o senhor tem a empresa?

Barboza – A Graduados tem 12 anos mas eu estou no negócio há 18 anos. Foi um crescimento bem rápido. Hoje temos tudo, só terceirizo o buffet e a banda para os eventos. O nosso prédio inclusive é 50% da Graduados e 50% da matriz. Tivemos um arquiteto fantástico mas o desenho é meu, fiz o salão com todas as coisas que eu sonhei um dia, com a escada, a rampa, a luz... tudo que via que faltava nos salões de fora, que não funcionava, nós acertamos aqui.

JC – Como foi a sua formatura na faculdade?

Barboza – Fui o presidente da minha comissão de formatura. Comecei ali a entender como funcionava o esquema de formatura. Foi em 1990 e fui eu quem contratei tudo, não peguei uma empresa.

JC – A que o senhor credita esse sucesso tão rápido?

Barboza – O meu crescimento veio com a chegada do meu concorrente, isso me deu mais força de trabalhar do que no tempo que eu não tinha concorrência. A chegada deles nos fez pensar nesse novo prédio e em toda uma reestruturação que nos levou a um avanço assustador de seis anos pra cá. Acho que sem concorrência eu não teria tido a ousadia – a mesma que tive um dia quando me uni à Sagae – de querer crescer mais.

JC – E antes da concorrência?

Barboza – Acho que o que me moveu foi a vontade de vencer, por tudo o que eu passei. Dava aulas particulares para me sustentar... fiquei seis anos sem falar com o meu pai após a separação dele da minha mãe... Aquilo que não vem fácil e você tem garra para buscar tem um valor inestimável, faz você ter vontade de partir pra cima com tudo. Devo muito a meu sócio também e, é claro, ao crescimento das universidades de Bauru. Quando comecei havia a USC, com muitos alunos, a ITE, com um pouco menos e a Unesp, onde era difícil entrar. Hoje são nove universidades, então tive a sorte desse crescimento universitário na cidade e na região.

JC – O senhor aparenta ter sempre o controle de tudo. É assim mesmo?

Barboza – Total. Se você me perguntar todos os eventos que nós fizemos este ano, que foram 71, eu te falo a data e qual foi um por um, de cabeça. Sou de centralizar as coisas. Sei delegar tarefas mas antes elas têm de ser centralizadas em mim. Eu sei o que cada um está fazendo em cada evento em cada dia. Por menor que seja a turma, nós temos que falar a mesma língua.

JC – O senhor ainda trata diretamente com as turmas?

Barboza – Nunca vou largar o campo. Divido a região com os meus representantes mas tenho a minha também. Às vezes, quando dá tempo, ainda supervisiono o que eles fizeram. Então a qualquer momento apareço para falar com uma turma com a qual não fechei para saber se está tudo certo, como eles estão sendo atendidos... A última reunião antes do evento acontecer é sempre feita por mim ou pelo meu sócio, que é quando vamos nos inteirar de tudo. Hoje meus representantes colocam tudo em atas e aos sábados, eu estou sempre lendo para ver o que acontece aí fora.

JC – As festas de formatura mudaram muito ao longo dos anos?

Barboza – Elas mudam todo ano e se você parar e não for atrás do que acontece, principalmente na Grande São Paulo, fica ultrapassado. Todo mês de setembro eu passo 15 dias na Grande São Paulo me reciclando, sabendo o que está acontecendo. Esse é o espelho do mercado. O lance legal desse ano foram os fogos indoor, que é queimar os fogos dentro do salão. A cada ano, tem uma coisa que, se você não fizer, sai fora do mercado.

JC - O que ficou ultrapassado?

Barboza – Não se toca mais “Coração de Estudante” em homenagens, por exemplo. Ninguém suporta mais. A música do Milton Nascimento é maravilhosa mas se tornou maçante. Então cada detalhezinho precisa ser trabalhado, até a música. O evento tem um lance assim: criticar é muito fácil, elogiar é muito difícil, porque são muitos detalhes. Eu sempre brinco que não vindo a crítica, já está bom, significa que foi bem feito.

JC – Algumas festas também saem de moda, outras voltam, mas as formaturas sempre vão existir, não é?

Barboza – É óbvio que casamentos e aniversários são interessantes pra mim porque vêm em diferentes épocas do ano, mas a grande vantagem do filão do meu mercado é que a formatura nunca vai acabar. Nós levamos um susto com esses cursos de videoconferência que acabam em dois anos, mas esse ano tive uma surpresa, fui convidado pela Unisul e fizemos uma colação de grau no BTC por videoconferência, sendo que eu decorei, levei o equipamento e foi uma coisa nova porque havia os formandos, um representante da Unisul e a mesa diretiva estava lá na Unisul. Ali ficou claro para mim que a formatura não iria acabar. Foi muito interessante.

JC – O senhor acompanha os eventos?

Barboza – Acompanho. Mas às vezes nós temos quatro ou cinco eventos ao mesmo tempo, que é o máximo que nós pegamos porque temos cinco pessoas com treinamento para administrar um evento, mas se tiver só um sou eu que vou. Então temos uma escala, mas ela começa por mim. Eu também sou o mestre de cerimônia das colações de grau que nós fazemos, faço isso desde o começo e vou até o resto da minha vida.

JC – E suas aulas, nunca mais?

Barboza – Parei de dar aula só em 2005. Sou fissurado por dar aulas, por giz. Tenho muito prazer nisso. Comecei a dar aulas depois de formado em 1992 na Unimar, depois dei aulas na USC por dez anos, no colegial, no Colégio São Francisco... Hoje tenho os estagiários e com eles tenho uma opinião jovem sempre.

JC – O senhor disse que lê atas das reuniões dos seus representantes aos sábados. O senhor não desliga nunca?

Barboza – Nem nos domingos. Mesmo em casa, as idéias vão surgindo e eu vou anotando, minha esposa até brinca com isso, mas é uma coisa minha. Ou eu invento um churrasco, uma coisa para me ocupar, ou começo a achar que o domingo não é legal. Daí parto para os DVDs. Sou muito elétrico, muito agitado, não consigo ficar parado. Não tenho horário para sair do trabalho. Defendo para mim um ditado do Ricardo Semmler do livro “Virando a Própria Mesa”: “O bom empresário não tem que ter horário para chegar, mas também não tem que ter horário para sair. Ele tem que chegar na hora que precisa e sair na hora que deu para ele sair”. Tenho uma esposa que sempre me entendeu muito e devo o meu sucesso muito a ela, que nunca me cobrou, ao contrário, sempre me incentivou em tudo.

JC – Como o senhor se define?

Barboza – Eu sou uma pessoa muito feliz pelo fato de ter uma família incrível. Uma esposa da qual não posso falar nada, que é muito compreensiva, duas filhas pelas quais sou fissurado... Acho que a pessoa pode se definir como feliz quando ela está conquistando não apenas o financeiro mas quando faz o que gosta. Eu faço o que eu gosto, não faço nada forçado.

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Perfil

Nome completo: César Augusto Barboza

Local de nascimento: Valparaíso, SP

Idade: 38 anos

Esposa: Débora Regina Kronka Barboza (37 anos)

Filhas: Isabela Kronka Barboza (13 anos) e Gabriela Kronka Barboza (6 anos)

Hobby: “Cinema, gosto de ver filmes em casa”

Livro de cabeceira: “Não tenho um livro em especial. Gosto de ler o jornal. Se eu não ler o jornal pela manhã, parece que o dia não começou”

Filme preferido: “Adorável Professor”, de Stephen Herek. “É um filme motivacional fantástico que utilizei muito com os meus alunos”

Time de coração: Corinthians

Para quem daria nota 10: “Papa João II, a presença dele era muito forte, principalmente com o jovem”

Para quem daria nota 0: “Para ninguém, nem para aluno eu dava nota zero. Acho que 0 desmotiva demais. Por pior que seja a pessoa, acho que ela sempre tem o direito de tentar de novo”

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