O câncer de pele é o tipo de tumor maligno mais freqüente do Brasil, respondendo por 25% dos casos, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão ligado ao Ministério da Saúde. O excesso de sol é um dos responsáveis pelo crescimento da doença, que atinge preferencialmente pessoas de pele clara. A cirurgia continua sendo a principal forma de tratamento da patologia, mas, nos últimos anos, especialistas tentam descobrir recursos menos invasivos contra o câncer de pele. A grande novidade é a terapia fotodinâmica com Metvix, nome comercial para o cloridato de aminolevulinato de metila, substância apresentada em forma de um creme e que promete bons resultados estéticos sem intervenção cirúrgica. Mas o produto não funciona para todos os tipos de tumores (confira os principais tipos ao lado). Segundo o dermatologista Wagner Monteiro Cardoso, o tratamento com Metvix pode substituir a cirurgia dos tumores conhecidos como carcinoma basocelular, o tipo mais comum de câncer de pele, que corresponde a 75% dos casos. Já para melanoma, tipo de tumor mais agressivo e perigoso, a cirurgia é a melhor opção. O tratamento com Metvix provoca uma reação química que mata as células do tumor, explica Cardoso. O creme é aplicado em cima da lesão e penetra na pele, principalmente no tecido maligno. “Em seguida, o médico oclui (protege) a região com esparadrapo e papel especial para não pegar luz externa, por aproximadamente três horas.” Depois, detalha, o creme é retirado e uma luz vermelha é colocada sobre a lesão. Denominada aktilite, esta luz corresponde a uma faixa estreita de fonte de luz fria vermelha que, colocada a uma distância de 5 a 8 centímetros do local do tumor, é capaz de atravessar a epiderme e chegar à camada mais profunda da pele. A exposição à luz produz uma reação que mata as células cancerosas. O tecido saudável é preservado, explica Cardoso. “Este creme faz com que as células tumorais produzam uma substância chamada porfirina, que é fotosensibilizante e, em reação à luz, consome o tumor. Esta luz é usada por 7 minutos e 24 segundos.” De acordo com o dermatologista, para o tratamento de uma lesão são necessárias, em média, duas sessões de terapia fotodinâmica com Metvix. Os resultados são visíveis, destaca ele, e as chances são de mais de 90% de cura do tumor. O produto, que já é utilizado em países europeus, tem diversas vantagens se comparado ao procedimento cirúrgico. Além da alta taxa de cura, aponta Cardoso, a técnica não é invasiva e os resultados estéticos tendem a ser melhores. “O tratamento é dirigido especificamente ao tumor e tem rápida cicatrização, pois não possui corte cirúrgico. Sem contar que várias lesões podem ser tratadas ao mesmo tempo”, diz. Segundo ele, o tratamento de uma lesão custa, em média, R$ 1.500,00. A técnica com Metvix não se limita apenas à cura do câncer basocelular. Ela também funciona para tratar da queratose actímica, lesão pré-maligna que pode ser provocada pela exposição excessiva ao sol. “Ela se assemelha a um carocinho que fica vermelho, com descamação em cima, e que pode virar um câncer de pele”, observa Cardoso.
Prevenção
Ao perceber sinais diferentes na pele, como uma ferida que não se cura, pintas que aumentam de tamanho, lesão endurecida ou carocinho brilhante que muda de cor, é fundamental ficar atento e procurar um dermatologista.
“Uma bolinha pode ser várias coisas. Se a pessoa tem pele tipo 1, ou seja, pele clara e muitas vezes olhos claros, com ascendência italiana ou germânica, ela tem de passar pelo médico porque a incidência de câncer de pele é maior nesta população. A pele negra é um pouco menos suscetível à doença, uma vez que a proteção da melanina é maior, mas pode apresentar quelóide, que não é um câncer e sim uma cicatriz hipertrófica que começa a aumentar de tamanho”, diz Cardoso. Para prevenir o câncer de pele, a primeira regra é o uso de filtro solar todos os dias. “No período da manhã, na hora do almoço, no meio da tarde e para o resto da vida”, aconselha o dermatologista. “Mas é necessário respeitar o tipo de pele de cada um. Pessoas mais claras devem optar por um protetor solar com fator alto (mais de 30 FPS). Para pessoas de raça negra ou que se bronzeiam mais facilmente, é indicado filtro solar com fator um pouco menor (a partir de 15 FPS). Outro cuidado essencial é evitar tomar sol entre 10h e 16h por conta dos raios ultravioletas UVA e UVB, que são cancerígenos. E, fora deste período, se a pessoa se expor ao sol, deve usar roupas claras e leves.
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Instituto divulga técnica a especialistas da região
Para divulgar aos dermatologistas de Bauru e região novas técnicas cirúrgicas e terapêuticas, o Instituto Lauro de Souza Lima realizou no último final de semana o “Curso de cirurgia dermatológica e terapia fotodinâmica”. Entre os eventos do encontro, foi realizada uma demonstração com o Metvix, técnica que recentemente chegou ao País
O curso teve participação de médicos de universidades de São José do Rio Preto e da Escola Paulista de Medicina, além de especialistas de Bauru e região. O evento debateu técnicas de correções cirúrgicas, diagnósticos de melanomas e inovações como a tecnologia de terapia fotodinâmica, apresentada no último dia do curso por um especialista do Hospital do Câncer.
De acordo com o dermatologista Ivander Bastazini Júnior, chefe de residência de medicina em dermatologia do instituto, apesar da tecnologia não estar disponível para atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), manter especialistas atualizados com novas técnicas e procedimentos é uma das metas do Lauro de Souza Lima. “Como uma instituição de pesquisa, temos que trazer as novidades para manter a reciclagem constante dos especialistas”, diz.
Para Bastazini Júnior, uma das inovações apresentada no curso, a terapia fotodinâmica com o produto Metvix, proporciona tratamento rápido e eficiente para destruição de lesões cancerígenas mais leves, que são as mais comuns na população brasileira. “Esta técnica já existia, mas o novo produto traz uma tecnologia aprimorada. Entre outros procedimentos, como cirurgias e cauterizações, esta terapia leva vantagem por ser mais rápida e não ser invasiva”, avalia.
Outra vantagem apontada por Bastazini Júnior é que a recuperação do paciente é mais rápida e o procedimento é indolor. “O paciente só vai sentir o local um pouco mais quente, pois a luz que desencadeia a reação química gera calor”, explica. (Lígia Ligabue)
Tipos
Carcinoma basocelular Responde por cerca de 75% dos casos de câncer da pele. Mais freqüente após os 50 anos, atinge principalmente pessoas de pele clara (tipo 1), sendo mais comum em homens do que em mulheres. Está relacionado à exposição crônica ao sol. Se caracteriza por um pequeno carocinho brilhante com vasos sangüíneos no centro; é mais comum no rosto e normalmente não apresenta sintomas. Não causa metástase (quando o câncer se espalha pelo corpo), mas cresce por contiguidade nos tecidos adjacentes.
Carcinoma espinocelular
É o segundo tipo mais comum de câncer de pele. Também cresce por contiguidade, mas pode causar metástase; em geral apresenta no início uma ferida no local, que vai se espalhando. É muito comum em lavradores devido à exposição prolongada ao sol.
Melanoma Tipo mais perigoso, com grande chance de provocar metástase. Entre suas causas está a incidência genética. É mais freqüente entre pessoas de pele clara e, normalmente, se inicia com uma mancha escura. Ela pode ser resultado de uma pinta que começa a aumentar de tamanho e ganhar formato diferente. O melanoma tem cinco graus e, quanto mais avançado, maior a chance de complicações. Ele representa 2% dos tumores de pele em geral, mas 20% dos tipo de câncer que matam. Sua distribuição é atípica e pode ocorrer em qualquer lugar do corpo. (CG)