Bairros

‘Profissão não tem futuro’, afirma alfaiate de 82 anos

Rodrigo Ferrari
| Tempo de leitura: 2 min

Maciel tem 82 anos de vida e já confeccionou ternos para bispos, prefeitos e juizes. Em tempos áureos, ele chegou a ter oito funcionários sob seu comando na Tesoura de Ouro. Naquela época, em que ternos eram considerados verdadeiras obras de arte, o alfaiate mais famoso de Bauru podia se dar ao luxo de não aceitar encomendas a partir de novembro, pois sabia que não daria conta de atender a todos os pedidos. Hoje, porém, com a proliferação das lojas de roupas masculinas, Ortiz foi vendo seu mercado minguar.

Há pouco mais de 15 anos, ele “soube”, por meio de uma reportagem na TV, que sua profissão iria se extinguir. O tempo passou, e ele continuou confeccionando seus ternos, como sempre; só que, desde então, não há pessoa que consiga lhe tirar da cabeça que o ofício ao qual ele vem se dedicando há quase sete décadas não irá desaparecer do mapa.

Na última semana, ao ser questionado pela reportagem do Jornal da Cidade sobre a possibilidade de uma entrevista, Ortiz foi enfático: “Por mim, tudo bem. Já sei que você vai falar que a profissão de alfaiate está desaparecendo. Fazer o quê? Está mesmo...” Horas mais tarde, em seu estabelecimento, ele continuava insistindo na tese de que sua profissão estaria por um triz.

“Perdi as contas de quantas pessoas aprenderam a ser alfaiates comigo. Hoje, para ser sincero, não pegaria um garoto para ensinar esse ofício. Seria falta de caridade da minha parte”, disse.

Enquanto Ortiz conversava com a reportagem, o aposentado Wilson Vilas Boas, 72 anos, adentrou à sala. Natural da Capital, ele está vivendo em Bauru há pouco mais de seis meses.

Após se inteirar sobre assunto que estava sendo tratado na entrevista, ele resolveu entrar na discussão. “Você está doido. Essa profissão não vai acabar nunca”, disse Vilas Boas ao alfaiate. “Como não?”, rebateu Ortiz. “Então, por que os jovens não querem mais saber de seguir este ofício?”, questionou.

“Oras”, rebateu Vilas Boas, “hoje as pessoas se tornaram preguiçosas e não estão mais dispostas as aprender nada de útil na vida”, completou. Ortiz não engoliu os argumentos. Ele acha que, dentro em breve, os alfaiates desaparecerão para sempre da paisagem da cidade.

“O futuro da profissão não causa sofrimento, pois soube aproveitar a época em que os alfaiates eram valorizados. Nos anos 70, meu filho me aconselhou a montar uma fábrica de jeans. Respondi que preferia morrer de fome. Sei que teria ficado rico, mas não teria vivido de acordo com meus ideais”, pondera.

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