Cultura

Dança dos Negros

Adriana Fricelli
| Tempo de leitura: 4 min

Aos passos do break, funk e hip hop, jovens da periferia de Uberlândia (MG) dançaram por boa parte do Brasil e até mesmo pela Europa. Agora, o que hoje é a Cia. Balé de Rua vem a Bauru com a coreografia “O Corpo Negro na Dança”, apresentado nesta noite, às 20h, no Serviço Social do Comércio (Sesc). O espetáculo abre a VII Mostra de Dança de Bauru.

A coreografia usa a linguagem da dança para falar de forma poética e não linear da construção do corpo negro brasileiro, desde a vida na África, a travessia pelo Atlântico até os dias atuais. “Não ficamos de forma panfletária denunciando a discriminação e o racismo. Quisemos mostrar a capacidade do negro de superação, que conseguiu manter viva sua cultura e contribuiu para a formação do Brasil”, salienta um dos fundadores e diretor geral da Cia., Fernando Narduchi.

E são corpos negros que dançam a história de luta, resistência e liberdade marcada em cada músculo e memória dos afro-descendentes. “A Cia. é formada basicamente por negros e nós sempre retratamos em nossos espetáculos a nossa realidade, o nosso dia-a-dia”, explica o diretor.

A idéia de concepção do espetáculo surgiu durante a participação na 4.ª Bienal de Dança do Sesc de Santos, realizada em 2004, sob o tema “O Corpo Brasileiro na Dança”. “Foi quando pensamos: por que não fazer o Corpo Negro na Dança? Uma história que também é dos brasileiros”, explica Narduchi.

A coreografia foi montada por Marco Antônio Garcia com base nos mesmos elementos que ergueram a Cia. há 15 anos: o break, o funk e o hip hop. Em cena, os próprios bailarinos tocam percussão, além de dançar ao ritmo do percussionista mineiro Naná Vasconcelos e de outras sonoridades ligadas à cultura afro-brasileira.

Com um estilo original que os consagrou nacional e internacionalmente, o espetáculo - cuja estréia foi em março de 2006 em Ipatinga (MG) - é dançante, com momentos de alegria, emoção e contemplação. “Nosso objetivo é que as pessoas sintam que estão participando de uma grande celebração”, diz o fundador.

Com os corpos praticamente nus, sobem ao palco do Sesc 14 homens e uma mulher. São eles: Alexandre de Silva, Denner Moreira, Diórge Marlon dos Santos, Edson Quintiliano, Guilherme Souza, Jardel Silva, José Marciel Silva, Jhony Marcos Rodrigues, Júlio César Ferreira, Paulo Bertoldo, Paulo Edson Rodrigues, Paulo Augusto Santos, Robledo Silva, Wisney Silva e Sandra Mara Gabriel.

Amanhã, a VII Mostra de Dança segue com apresentações de grupos da cidade e da região, às 21h, no Teatro Municipal, além da participação especial da Cia. de Dança de São José dos Campos. O evento é uma realização da Associação de Dança de Bauru (Adab), Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e Sesc, e conta com apoio do Grupo Nelson Paschoalotto, Bauru Painéis, Jornal da Cidade e Gera Arte.

Workshop

Hoje, das 14h às 16h, a Cia. Balé de Rua, de Uberlândia, oferece um workshop gratuito com percussão ao vivo no Sesc. A atividade propõe a vivência de um estilo desenvolvido pelo próprio grupo ao longo de seus 15 anos: hip hop com sabor brasileiro dentro de uma abordagem contemporânea. As vagas são limitadas.

• Serviço

Espetáculo “O Corpo Negro na Dança”, com Cia. Balé de Rua, de Uberlândia, será apresentado hoje, às 20h, no ginásio de eventos do Sesc (avenida Aureliano Cardia, 6-71). Ingressos por R$ 2,50 (trabalhador no comércio e serviços, matriculado e dependentes), R$ 5,00 (usuários inscritos, estudantes com comprovante, professores da rede pública e maiores de 60 anos) e R$ 10,00 (outros). Mais informações : (14) 3235-1751.

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História

A Cia. Balé de Rua foi fundada de maneira espontânea em 1992 por jovens da periferia de Uberlândia (MG). Na década de 90, a cidade era agitada por um forte movimento de dança de rua. Fernando Narduchi pertencia a um desses grupos quando se encontrou com Marco Antônio Garcia, que dançava em outro bairro. Juntos, eles criaram a Balé de Rua.

“Nosso objetivo nunca foi fazer trabalho social e sim dançar. Mas, através da dança, é possível resgatar muitos valores e todos melhoram como seres humanos”, defende Narduchi. Em 2000, o grupo se tornou profissional graças ao patrocínio da Usiminas e dos recursos provenientes das leis estadual e federal de incentivo cultural.

“Viver da dança é muito difícil, inclusive para quem tem formação acadêmica. Ainda mais um grupo formado por negros e proveniente da periferia. Por isso, somos um diferencial na dança”, analisa Narduchi.

Desde 2002, o grupo passou a se apresentar também na Europa, principalmente na França e na Alemanha. Neste ano, a Cia. inaugurou o Centro Cultural Balé de Rua, em Uberlândia, onde funciona uma escola de dança para um público mais carente. “Hoje, atendemos 300 alunos de diversos bairros da cidade”, conta o atual diretor da Cia.

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