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Dr. Automóvel: Queimando óleo

Consultoria: Marcos Serra Negra Camerini*
| Tempo de leitura: 4 min

O motor de seu carro está queimando óleo? O do meu também! Aliás, todo motor queima óleo, o que é perfeitamente normal e dentro do planejado no projeto. O problema está quando queima demais. Vamos ver o que acontece dentro do motor.

As partes móveis do motor (pistões, anéis, bielas, virabrequim, bronzinas e casquilhos) precisam ser lubrificadas para não engriparem. Para isso, uma bomba de engrenagens suga óleo do carter e o circula pressurizado por dutos para que acesse os diversos pontos de lubrificação dos componentes móveis. Esta mesma bomba faz com que parte do óleo pressurizado seja espirrado sob os pistões (portanto, de baixo para cima) com duas finalidades: resfriar a cabeça do pistão e lubrificar a parede do cilindro onde deslizam o pistão e os anéis.

A compressão do motor é feita através dos anéis dos pistões. Cada pistão tem 3 canaletas onde se alojam os anéis. O primeiro, mais em cima, é o anel de compressão principal. O segundo anel, na canaleta do meio, é o de compressão secundário e o terceiro anel é o raspador de óleo. A função deste anel é permitir que o óleo lubrificante se espalhe sobre a parede do cilindro quando o pistão sobe e raspar o excesso de óleo quando o pistão desce. Como a parede do cilindro é brunida, ou seja, sofre um acabamento superficial que deixa ranhuras proposital e calculadamente fundas e inclinadas de forma a conter o óleo lubrificante na parede, os anéis e a saia do pistão deslizam sobre um filme de óleo que evita seu desgaste por atrito. Acontece que quando o pistão desce a parede do cilindro com óleo fica exposta aos gases quentes da queima do combustível e que acabam por queimar também este óleo, expelindo os resíduos junto com os gases de escape. Desta forma, a cada movimento de sobe-desce do pistão um pouco do óleo lubrificante é queimado, de forma natural e esperada. É normal queimar até 1 litro a cada 3000 km, por isso que se recomenda verificar sempre o nível do carter pela vareta e completar quando o nível estiver na linha inferior.

O problema ocorre quando o consumo é muito mais alto do que isso. Na verdade, o óleo do carter só sai dali de duas formas: por queima ou por vazamento. Se o motor estiver pingando óleo no chão ou todo melado por fora, com certeza tem vazamento de óleo por juntas ou retentores. Basta trocar as peças danificadas e o problema acaba. A coisa fica mais séria quando o problema é queima excessiva. Sinais claros deste problema são: fumaça azulada pelo escapamento, tubos de escapamento sujos de óleo por dentro, perda de potência do motor por falta de compressão, são os mais comuns. Uma queima normal deixa o escapamento com uma camada de fuligem cinza escuro. Quando passamos o dedo por dentro do cano de escape, a fuligem que adere no dedo pode ser removida com um pano seco. Já se ficar melado de óleo ou impregnado, é sinal que óleo em excesso está saindo pelo escapamento.

Os motivos para esta queima excessiva podem ser de diversas origens, sendo a principal o desgaste dos anéis, que perdem sua função de vedação e permitem a maior passagem de óleo lubrificante para a câmara de combustão. Ainda com os anéis, pode acontecer o alinhamento das folgas entre pontas. Isto ocorre da seguinte maneira: o anel é usinado de maneira que fique aberto com uma grande folga entre as pontas. Quando é instalado no cilindro, o anel ao ser fechado exerce uma pressão na parede pelo efeito de mola passa a ter a forma redonda, com as pontas quase se tocando e oferecendo uma boa vedação. Mas devido a esta folga a vedação não é perfeita, por isso os anéis são montados nas canaletas girados a 180° um do outro para oferecer um labirinto aos gases e aumentar o poder de vedação. Com o movimento alternativo dos pistões os anéis podem girar e acabam tendo suas folgas alinhadas momentaneamente, perdendo vedação. Neste caso um simples realinhamento dos anéis resolve, mas mesmo assim precisa desmontar a parte de baixo do motor. Já um desgaste no brunimento do cilindro precisa ser refeito e com isso, requer a troca do kit pistão e anéis para uma sobremedida. Outro fator comum é o desgaste dos retentores das hastes de válvulas, que permite que o óleo no cabeçote vaze para a câmara de combustão e seja queimado. Uma simples troca resolve também.

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Sugestões para a coluna e perguntas à seção Correio Técnico devem ser enviadas ao e-mail automerc@jcnet.com.br ou à redação do Jornal da Cidade, na rua Xingu, 4-44, Higienópolis. É obrigatório informar nome completo, RG, endereço e contato (telefone ou e-mail).

* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda. Seu site é www.marcoscamerini.com.br.

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