Os primeiros imigrantes japoneses chegaram a Bauru em 1914. Portanto, seis anos após a chegada do navio Kasato Maru, no porto de Santos, vindo de Kobe, no Japão. Era a primeira de muitas viagens que se seguiram trazendo centenas de japoneses para trabalhar na lavoura brasileira. Neste ano, a imigração japonesa ao Brasil completa 100 anos. Para celebrar a data, a colônia nipônica em Bauru está preparando uma série de eventos com início previsto para abril e término em agosto.
Os pioneiros da imigração japonesa em Bauru vieram com o objetivo de plantar algodão. Para isso, instalaram-se inicialmente na zona rural. De acordo com o nissei Massaru Ogino, um estudioso da história japonesa no Brasil, a maior parte dos imigrantes que vieram para Bauru era proveniente da província de Okinawa, uma ilha localizada no extremo sul do Japão. Um levantamento feito em 1930 constatou que das cerca de 23 famílias japonesas que viviam em Bauru, dez haviam partido dessa ilha.
A outra parte dos imigrantes eram pessoas que escolheram Bauru para morar depois de terem cumprido o contrato com as fazendas de café espalhadas pelo Interior do Estado. O período de permanência nessas fazendas eram de três anos, aproximadamente, segundo Ogino.
“Sem nunca terem visto um pé de café, os imigrantes vieram para trabalhar nas fazendas, principalmente, da região de Ribeirão Preto”, relata. “Na época, muitos fugiram na calada da noite por causa das condições subumanas”, revela Ogino.
Em Bauru, os imigrantes procuravam se instalar em locais onde havia água em abundância, já pensando na irrigação das suas plantações. Teisho Tokuhara, um dos pioneiros da imigração, por exemplo, quando chegou à cidade, por volta de 1926, escolheu a então Vila Caraguá, hoje Parque Vitória Régia, para morar. Trata-se do local onde nasce o ribeirão das Flores, que hoje segue canalizado até a avenida Nuno de Assis. De lá, mudou-se para a região da Vila Falcão, onde também havia água em abundância e onde Tokuhara fundou o bairro Água do Sobrado, hoje Vila Independência.
Mais tarde, o bairro transformou-se no local preferido da colônia japonesa em Bauru. Não demorou muito, os imigrantes se organizaram e criaram a Associação Cultural Okinawa Água do Sobrado (Acoas), que existe até hoje no bairro.
“Houve uma preferência pela região da Vila Independência, por causa do córrego Água do Sobrado, que oferecia água em abundância e a maioria dos imigrantes era de plantadores de verduras que vieram de Okinawa”, explica Ogino. Foi naquela região da cidade que nasceram também as igrejas Tenrikyo e Budista.
Das cerca de 2.300 famílias de descendentes japoneses que existem atualmente em Bauru, grande parte continua morando na Vila Independência ou na Vila Nipônica, bairro vizinho.
No início, uma das principais dificuldades encontradas pelos imigrantes foi a língua. “Não porque a língua seja difícil, mas porque os imigrantes não tinham nenhum interesse em aprender o português. Eles pensavam em voltar para o Japão num prazo de quatro a cinco anos. No entanto, ninguém conseguiu ajuntar fortuna em cinco anos nem mesmo em dez anos. Por isso, permaneceram,” diz Ogino.
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Propaganda enganosa
Shigueru Ogino era militar no Japão e veio com a família para o Brasil por dois motivos. O primeiro era a busca do enriquecimento fácil alardeado equivocadamente pelos primeiros imigrantes que chegaram ao País. O segundo motivo era para escapar da Segunda Guerra Mundial. “Meu pai (que tinha patente equivalente a sargento) já estava desconfiado de que algo de ruim aconteceria”, conta o filho Massaru Ogino. “Então, a convite de um cunhado dele, meu pai veio para o Brasil.”
Na bagagem, poucas roupas, a mulher Aki Ogino e três filhas. Massaru nasceu pouco depois em Presidente Venceslau. Ele conta que a família nunca ficou rica e o pai acabou morrendo “por excesso de trabalho” e pelo uso constante de inseticida. A exemplo de quase todos os imigrantes que vieram ao Brasil, Shigueru também tinha a terra como seu principal “ganha-pão”.
Segundo Massaru, o povo japonês sempre se identificou muito bem com a agricultura, mas a topografia do país nunca permitiu que essa atividade fosse plenamente explorada.
“O Japão é um arquipélago formado por 3.400 ilhas. A maioria tem terrenos íngremes e formações rochosas. Cerca de 70% das terras não são agricultáveis. Então, eles chegavam no Brasil e viam esse montão de terra boa para o plantio, eles ficavam loucos”, relata.