Na cidade onde viveu a cafetina mais conhecida do País, o meretrício só é romântico nas recordações da famosa Eny ou em seletos versos nostálgicos. Ao conviver com a prostituição em frente de casa, moradores do Higienópolis em Bauru relatam situações nada poéticas. Pelo contrário, até patéticas, embora a prática não seja crime. Numa ofensiva contra o problema, decidiram filmar clientes interessados em moças e travestis.
O alerta consta em cartaz afixado no portão de uma casa situada na esquina das ruas Conselheiro Antônio Prado e Borba Gato. A idéia é inibir os motoristas de carros último modelo que estacionam de forma discreta sob árvores frondosas.
“As meninas que ficam por aí são muito simples, nem ligam para a imagem. Já os donos dos carrões, mais abastados, devem sentir vergonha. Correm o risco de serem identificados”, diz o morador que confeccionou a faixa e a colocou num local onde o vaivém é mais intenso. Até o momento da entrevista, ele, que preferiu não se identificar, ainda não tinha ligado o equipamento, que espera aposentar após a ação policial.
Na madrugada de ontem, a Delegacia de Investigações sobre Entorpecente (Dise) deflagrou uma operação nas imediações (entre a Praça das Três Pedras - na altura da quadra 15 da avenida Nações Unidas - e a Praça do Líbano), apreendeu drogas, prendeu pessoas por tráfico de entorpecente e indiciou outras por favorecimento à prostituição, perturbação da tranqüilidade e vadiagem (leia matéria abaixo).
Constrangimento
A medida recuperou a esperança de moradores das imediações incomodados com o intenso trânsito de pessoas em frente de casas, durante toda a madrugada. “A gente fica com medo de chegar um pouco mais tarde. Toda manhã, a calçada tem um monte de preservativo e fezes humanas. É uma nojeira. Dá vergonha de receber alguém”, comenta uma moradora, que preferiu não se identificar.
É comum veículos pararem em frente à casa dela, local escuro em virtude de uma grande árvore. “Logo que eu mudei, jogava bombinhas no imóvel ao lado, que é comercial. Eles ouviam o estampido e saíam rapidinho”, comenta. Um outro morador relatou que, ao deixar a residência pela manhã, flagra travestis nus pela rua. Eles aproveitam a via pouco movimentada para trocar de roupa.
“Tem quem mantenha relações sexuais lá mesmo, com adolescentes. Isso sem contar no tráfico de drogas, que a gente percebe. A gente já procurou o poder público, a polícia, fizemos boletim de ocorrência e agora vamos fazer um abaixo-assinado”, explica.
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Outras medidas
Para evitar que as ruas Borba Gato e Conselheiro Antônio Prado continuem como pontos de prostituição e tráfico de drogas, a Polícia Militar (PM) informou que vai intensificar o patrulhamento já existente nas imediações, informa o comandante da 1.ª Companhia da PM, capitão João da Costa Duarte.
Já a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) enviará um fiscal ao local para verificar a necessidade da realização de poda nas árvores. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, a pasta realiza diariamente o serviço em áreas públicas (praças, bosque, prédios públicos) e ruas da cidade, conforme cronograma da pasta.
Em relação às adolescentes encontradas no local, a titular da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes), Egli Muniz, informa que a pasta firmou convênio com o Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Violência, serviço oferecido pela Fundação Toledo. De acordo com ela, o órgão dispõe de um programa específico de enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de adolescente.
Normalmente, as meninas são encaminhadas pela Polícia Militar ou pela Delegacia da Defesa da Mulher (DDM). “A Polícia Civil tem feito operações, batidas. Vai verificar, desde que haja denúncias fundamentadas. Quando o fato é caracterizado, são tomadas as medidas que o caso requer”, explica o titular da delegacia, Dinair José da Silva.
No caso de perturbação de sossego, o ideal é acionar a PM para que as pessoas sejam identificadas, explica Ismael Cavalieri, delegado do 3º Distrito Policial, onde a ocorrência também pode ser registrada.