Regional

Caçador quer instituição ligada à reprodução da vida selvagem

Ricardo Santana
| Tempo de leitura: 3 min

Garça - O pecuarista Jorge Alves de Lima Filho aos 81 anos é uma personalidade especial por sua trajetória sinuosa. Hoje, mais acomodado, Lima está envolvido em preservar o paraíso onde cria oito tigres e quatro leões. O pecuarista estuda alternativas para a institucionalização do lugar, que conta com um acervo significativo de fotos documentais, peças históricas, documentos, além da área ampla onde cria os felinos soltos na natureza.

Ele se formou em ciências políticas pela Universidade de Bradley, no final dos anos 40, e partiu para a África, sem as bênçãos do pai que tentou evitar que o filho seguisse o sonho de caçador profissional. Inicialmente, residiu em uma choupana por dois anos.

Sobreviveu por décadas na África em lugares distantes das facilidades comuns em cidades. Era uma época em que safaris poderiam demorar 30 dias ou até um ano. Hoje, conta o caçador, as pessoas vivem muito compromissadas e, portanto, dispõem de menos tempo para si mesmas. Por isso, há expedições de caça com duração de apenas 10 dias. Jorge mantém sua vivacidade, talvez adquirida no período em que permaneceu entre feras no continente africano.

Parte de suas histórias vividas ao ar livre, caçando, matando e se arriscando a ser morto, convivendo com povos, que na época usavam pouca vestimenta e até nenhuma, organizando safaris, está registrada em um livro ainda numa versão na língua inglesa. “Era uma África perigosa, com tribos selvagens, animais e doenças”, relembra empolgado.

A tradução do livro é um dos projetos que o caçador está envolvido. Projetos representam a vida de Lima. Formado em uma universidade norte-americana, ele tinha muitas alternativas. Escolheu um caminho menos convencional ao partir para a África com disposição para enfrentar o inimaginável. Ele conta que, bem no início, usou um rifle calibre 30.06 norte-americano numa região inóspita.

Matou elefantes para tirar as presas de marfim e vendê-las. Com uma personalidade complexa, o caçador frisa que a carne era doada para os nativos que jamais conseguiriam abater um gigante de seis toneladas e que só dispunham de lanças e flechas.

Rinocerontes, leões, elefantes, búfalos e leopardo mortos em suas aventuras integram uma coleção de fotos emolduradas e fixadas lado a lado num salão no casarão da fazenda Kirongozi. As imagens foram captadas por uma câmera Kodak modelo Medalist II, hoje exposta no canto do salão em um tripé. Ele viveu por cerca de 20 anos, a partir de 1948, na região compreendida na época como África Equatorial Francesa.

“Se eu pudesse voltava, mas agora está tudo civilizado. Abomino tudo que é tecnológico. Sou brasileiro, mas eu nunca vi tanta corrupção. É muita tolerância e tinham que estar todos na cadeia. Eu gosto do Brasil mas não tenho mais o patriotismo”, ensaia uma reflexão sobre os males que atingem as sociedades modernas. Lima fez questão de estampar na porta da caminhonete em que circulava na África a bandeira do Brasil. Ao todo, fundou três companhias de safaris.

A última, com base em Ângola, deixou marcas negativas no caçador. Lima estava em viagem para captar clientes europeus e norte-americanos e, ao chegar a São Paulo, recebeu uma péssima notícia do governo português. Um telegrama anunciava que seu acampamento em Ângola tinha sido atacado por guerrilheiros que, além de saquear o lugar, mataram de sete a oito funcionários. “Tive perdas materiais. Mas as perdas sentimentais foram enormes. Fiquei desgastado”, explica.

Depois desse lamentável episódio, o caçador tentou montar companhias na Índia para caçar tigres, porém o projeto não vingou. Daí se estabeleceu no Brasil, inicialmente no município de Eldorado. na região do Vale do Ribeira, e depois em Garça, onde passou a criar nelores, que lhe renderam vários prêmios no setor da pecuária. O conhecimento desenvolvido enquanto caçador na época da África foi reproduzido no paraíso natural com tigres e leões em Garça.

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