Macatuba - Fé, emoção, mistério, desconfiança. Foram estes os sentimentos que invadiram o dia dos moradores de Macatuba (46 quilômetros de Bauru) ontem, tão logo a notícia de que a imagem do Sagrado Coração de Jesus “chorou” sangue se espalhou pela cidade. Não demorou muito para que uma pequena procissão, que foi ganhando corpo ao longo do dia, se formasse na Igreja Matriz de Santo Antônio, em frente à imagem, que precisou ser protegida por bancos para não ser tocada.
Até por volta das 21h30, a cena que se via no local era a mesma: pessoas vindas de todos os cantos da cidade, movidas pela fé ou pela curiosidade, passavam pela imagem.
Algumas choravam. Outras rezavam. Outras tiravam fotos. Na saída, questionadas, não sabiam o que dizer do fenômeno. “Acho que vem coisa muito boa por aí, a cidade foi abençoada”, diziam alguns. “Acho que precisamos ficar atentos. Deus quer nos mostrar alguma coisa”, falavam outros. E em meio a tantas opiniões, o padre José Raimundo de Carvalho, pároco da Matriz de Santo Antônio há oito anos, pedia cautela nas avaliações dos fiéis.
Ninguém sabe explicar ao certo o horário exato em que a imagem do Sagrado Coração teria começado a verter sangue pelos olhos. Logo pela manhã, às 7h30, como faz todos os dias há cerca de dois anos, Florinda Estrada, responsável pela limpeza interna e externa, abriu a igreja. Logo depois, uma mulher, cujo nome as pessoas não souberam precisar, mas que vai todos os dias à igreja antes de seguir para o trabalho, no Centro de Macatuba, chegou ao local. E como também faz todos os dias, rezou. Antes de ir embora, passou pela imagem do Sagrado Coração de Jesus.
“Ela me procurou chorando. Estava muito nervosa mesmo. Disse que tinha alguma coisa errada com a imagem e queria que eu dissesse o que era”. Mas Florinda disse não ter a resposta que a mulher queria.
Assim como Florinda, outras pessoas ligadas à igreja e que estavam nas proximidades preparando guloseimas para uma festa da sobremesa foram chamadas, já que o padre José Raimundo estava em Bauru, onde cursa direito. Sem explicação e sem saber ao certo o que fazer, o grupo resolveu manter a porta da igreja - que fica aberta diariamente das 7h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h - encostada. Tão logo padre José Raimundo chegou, as primeiras providências foram tomadas.
Sangue
A primeira medida foi verificar se o líquido que vertia dos olhos da imagem de Cristo era sangue. Padre Raimundo procurou o farmacêutico José Henrique Soares. No local, havia gotas do líquido vermelho no chão. Nelas, Soares pingou água oxigenada e houve uma reação típica da que ocorre quando há sangue - a mistura “ferveu”, a exemplo do que ocorre quando há um ferimento na pele e alguém aplica água oxigenada.
Cerca de cinco pessoas, segundo Soares, acompanharam a ação. O sangue também foi confirmado pelo laboratório de análises clínicas da cidade, que apresentará amanhã um laudo ao padre José Raimundo. Difícil dizer neste momento, porém, se trata-se de sangue humano ou não.
Soares não tem uma opinião formada sobre o fenômeno. Católico, mas não-praticante, observou que as gotas de sangue que estavam no chão e um pingo que se formou na face da imagem estavam coagulados. Mas preferiu não avançar nas suas avaliações. Farmacêutico há 30 anos, disse nunca ter se deparado com qualquer fenômeno parecido. Questionado sobre o que sentiu ao se aproximar da imagem, respondeu rapidamente: “Uma emoção muito forte.”
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Outro caso
Esta não é a primeira vez que Macatuba fica às voltas com fenômenos envolvendo a Igreja Católica. Em abril de 1983, segundo os moradores mais antigos, um busto de Jesus Cristo com a coroa de espinhos começou a verter óleo. O busto ficava na casa paroquial, na época habitada por padre José Cursino.
O fenômeno agitou Macatuba e a região. Porém, dias depois, padre Cursino foi morto na casa dele, a golpes de faca. O acusado foi condenado e preso. Por causa disso, muitos moradores temem que uma nova tragédia está por vir.