Considerado uma brincadeira para muitos e esporte para a minoria, a prática do bumerangue ainda é pouco conhecida. Apesar de existir há 23 mil anos, no Brasil o esporte ganhou força nos anos 80 e o último campeão brasileiro, consagrado em 2007, foi o são-carlense Luiz Carlos Otoboni.
Popularmente conhecido como Sanca no mundo do bumerangue, Luiz é bumeranguista há seis anos. No ano passado foi campeão brasileiro na modalidade Indoor, em competição realizada no Sesc Pompéia (São Paulo), e 6° colocado no 3° Campeonato Brasileiro, que ocorreu em Franca.
“Sou um profissional no esporte, mesmo achando que um profissional é aquele que vive somente da atividade que pratica. Tenho bumerangue desde os 13 anos, era uma brincadeira”, conta Luiz. “Em 2002, fiquei curioso com a física do objeto e conheci, pela Internet, pessoas de São Paulo que participavam de encontros e clínicas. Foi aí que tudo começou. Tenho bumerangue há mais de 20 anos, mas sou bumeranguista há seis”, acrescenta.
Confundido com os kylies (armas de arremesso), os bumerangues foram criados para voltar à mão do arremessador e jamais atingir um alvo. O esporte pode ser praticado tanto por homem como por mulher, pois existem bumerangues feitos com materiais que atendem todos os tipos de força, tamanho, idade e ventos diferenciados.
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História
Foram encontrados, em várias partes do mundo, desenhos e indícios do bumerangue. Mas, na Austrália, o bumerangue foi usado por mais tempo e desenvolvido como objeto útil para a caça. Depois do descobrimento da Austrália, o bumerangue foi reencontrado e levado, novamente, à Europa. Foi modificado para uso esportivo.
Na era moderna, o bumerangue começou a ser desenvolvido para uso esportivo em vários países, como Alemanha, Japão, Estados Unidos e França. Foram estudados os aspectos da aerodinâmica e aplicados novos materiais, o que levou a um grande padrão de precisão e variedade de modelos.
Hoje o Brasil é reconhecido como um país com bumerangues de excelente padrão de qualidade, shapers, fabricantes e atletas de projeção internacional - o Brasil está inserido no rol dos países que mais se desenvolveram e se desenvolvem no esporte.
Já a Associação Brasileira de Bumerangue (ABB) nasceu com a missão de ajudar nessa divulgação, tanto em âmbito nacional quanto internacional, promover eventos, ter ações sociais em seus objetivos, fazer treinamentos, divulgar técnicas e prover a representatividade para o crescimento organizado do esporte no País.
Atualmente, o Brasil conta com uma safra nova de jogadores e shapers que fazem com que o bumerangue esteja sempre em destaque. Entre os eventos realizados com regularidade estão: competições regionais como os “Desafios de Bumerangue”, os encontros-treinos Raia Livre e a BumerFest (festival de bumerangue anual que ocorre em Jaraguá do Sul - SC). Além disso, fabricantes patrocinaram iniciativas como o Shape Day (encontros para trocas de informação sobre shape) e realizaram um Campo de Treino (eventos para prática das modalidades, com a presença de uma dupla de jogadores americanos). Estas iniciativas fazem com que o Brasil seja uma aposta no cenário mundial.
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Competição
Os campeonatos são divididos em duas categorias: outdoor, realizado em campos gramados que giram em torno de 200 x 300 metros sem barreiras, como morrinhos, buracos, pedras, entre outros; e indoor, que ocorre em quadras poliesportivas.
O próximo campeonato de bumerangue é o Indoor e está previsto para junho ou julho deste ano, ainda sem local definido. “Como fui campeão em 2007, estou tentando trazer o campeonato para São Carlos”, afirma Luiz.
De acordo com o bumeranguista, um campeonato de cada modalidade é realizado por ano. Neles são demonstrados a habilidade de cada jogador.
Modalidades
• Enduro: O jogador tem de fazer o maior número de pegadas.
Outdoor cinco minutos (média 45 pegadas)
Indoor três minutos (média 55 pegadas)
• Fast: O jogador deve pegar o bumerangue no menor tempo.
Outdoor cinco pegadas (média de 23 segundos)
Indoor seis pegadas (média de 13 segundos)
• Trick catch: Pegadas acrobáticas
Single - fazer dez arremessos com dez pegadas pré-determinadas.
Dobler – fazer cinco arremessos com dois bumerangues juntos e fazer dez pegadas pré-determinadas.
Nas duas modalidades, a cada arremesso aumenta a dificuldade de cada pegada, sendo que a última deve ser feita com os pés.
• MTA (Máximo de Tempo no Alto): O jogador tem cinco arremessos para manter o bumerangue o maior tempo voando – soma-se os três melhores tempos.
• Precisão: Na modalidade, o jogador faz dez arremessos com o objetivo de deixar o bumerangue cair o mais próximo do alvo, sem poder por a mão, até o juiz liberar.
Treino
Em São Carlos, os treinos ocorrem todos os domingos, às 9h, em um campo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Além disso, Luiz realiza um trabalho em escolas de ensino fundamental. “Quero que as crianças tenham uma nova opção de esporte. Apesar de ser um dos esportes mais antigos da história, ainda é pouco conhecido”, afirma o campeão.
Raia Livre
A cada dois meses, ocorre o Raia Livre, idealizado por jogadores de Brasília e São Paulo. O evento prevê a realização de um campeonato-treino e atividades de demonstração do esporte.
“O Raia Livre não tem valor para campeonatos. É um treino, pois ocorre simultaneamente em várias cidades do Brasil. Cada município tem uma pessoa que fica responsável por mandar os resultados para o organizador”, explica.
O primeiro ocorreu em janeiro de 2006 e contou com a participação das cidades de Brasília, São Paulo, Porto Alegre, Marília, Franca e Bertioga.