São Paulo - O corpo do empresário Girsz Aronson, 91 anos, que ficou conhecido como o “rei do varejo” em São Paulo com a venda de eletrodomésticos, foi enterrado ontem no Cemitério Israelita do Butantã. Aronson, que morreu na noite de anteontem, estava internado desde fevereiro no hospital Sírio-Libanês por causa de um linfoma.
O dono da rede G. Aronson descobriu que sofria de um câncer em novembro. Ficou internado por três meses no hospital Oswaldo Cruz, até ser transferido ao Sírio-Libanês.
A morte ocorreu às 20h50, depois de ficar dois dias inconsciente. “Meu pai acreditava que era eterno”, disse a filha Eliane Aronson. “Ele só deixou de trabalhar porque ficou doente.” Segundo nota do hospital, ele morreu em decorrência de insuficiência de múltiplos órgãos.
Girsz Aronson deixa a mulher, Naid Mandra Aronson, quatro filhos e três netos.
Nascido em 18 de janeiro de 1917, o russo de origem judaica construiu um império de lojas que chegou a contar com 34 unidades no Estado e faturamento de R$ 250 milhões por ano. Chegou ao país com 2 anos e começou no comércio aos 12, vendendo bilhetes de loteria em Curitiba, onde morava com a mãe – viúva - e os irmãos.
A fama veio quando vendeu um bilhete premiado e recebeu do apostador parte do dinheiro. A notoriedade lhe valeu convite de uma empresa de casacos de pele do Rio para ser representante de vendas em São Paulo, em 1944. Foi naquele ano que abriu a empresa G. Aronson.
Nos anos 60, criou a Gurilândia, especializada em artigos infantis. A rede G. Aronson começou a se expandir nos anos 70, após comprar loja de fogões em dificuldade financeira.
Em setembro de 1998, Aronson foi vítima de seqüestro dentro de sua empresa. Passou 14 dias no cativeiro e só foi solto após o pagamento de um resgate de R$ 117 mil. O caso teve repercussão nacional.
Em junho de 1999, a G. Aronson faliu, com dívidas de R$ 65 milhões. Na época, o comerciante culpou a explosão da inadimplência e a redução do poder de consumo da população. Em setembro de 2000, ele voltou ao varejo e inaugurou a primeira loja, com 20 m2, na rua Conselheiro Crispiniano, no centro de São Paulo, com o nome G.A. Utilidades Domésticas, com a ajuda dos filhos. Em novembro do mesmo ano, abriu a segunda loja, na avenida Brigadeiro Luís Antonio, com 700 m2.
A família chegou a manter quatro lojas abertas em São Paulo. Depois que Aronson ficou impossibilitado de trabalhar por causa da doença, a família fechou três estabelecimentos, conta Eliane. Apenas a loja na Conselheiro Crispiniano ainda funciona.
Girzs Aronson era um empresário de hábitos simples. Gostava de negociar diretamente com fornecedores e clientes. Durante anos, ia trabalhar de bicicleta. Mesmo nos tempos áureos dos negócios, sempre tinha tempo para falar com clientes e atender jornalistas. Era um dos poucos empresários, nos anos 90, que não tinha receio de falar sobre aumentos abusivos de preços da indústria eletroeletrônica e criticar o governo por causa da elevada taxa de juros.
Para o presidente da Fecomercio-SP, Abram Szajman, a rede criada por Aronson representa um marco no varejo ao antever o potencial do consumidor de baixa renda, baseado no crédito e em prazos longos. “Só que ele fazia isso sem o suporte de uma financeira. Por esta atitude arrojada, acabou pego no contrapé de uma crise de explosão da inadimplência.”