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Associação prepara Parada Gay em Bauru

Por Karla Beraldo | Da Redação
| Tempo de leitura: 5 min

Recém-criada, a Associação Bauru pela Diversidade prepara a 1.ª Parada do Orgulho GLBT da cidade. À la Capital, o evento, previsto para o dia 7 de setembro, pretende ganhar as ruas com trios elétricos, shows e performances. Para completar a programação, haverá Feira Mix, com artigos dirigidos ao público homossexual, uma aposta no poder de consumo do segmento GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) que investe em cultura, lazer, roupas, acessórios e viagens.

Além das atividades voltadas para o segmento GLBT, a associação vai incorporar as ações sociais, até então desenvolvidas pela casa noturna Labirinthus Lounge Mix. “A nossa intenção com esse trabalho não é nos promover. Por isso, por mais que a Labirinthus esteja por trás da iniciativa, criamos a associação para dissociar as ações, de certa forma, do nome da casa. Além disso, queremos ampliar esses projetos e vamos precisar de uma estrutura mais organizada”, explica Marcos Souza, sócio-proprietário da boate e diretor da associação.

A casa, inaugurada em setembro do ano passado, faz reciclagem do lixo produzido nas festas que promove. O dinheiro da venda do material coletado é revertido em doações para instituições assistenciais do município, e, atualmente, as baladas da boate participam da campanha do agasalho, por meio de benefícios aos clientes que colaboram com as doações. Anteontem, a Labirinthus entregou 400 peças à Sociedade de Apoio a Pessoas com Aids de Bauru (Sapab).

Para Souza, a interação com a comunidade é importante na conquista do respeito da população. “É uma forma de fazer com que as pessoas nos olhem de outra forma. Mostramos que não estamos aqui apenas para fazer festa e, sim, que também nos preocupamos muito com o lado social”, defende. Hoje, data em que se celebra o Dia do Orgulho Gay, o empresário comemora o trabalho que tem ajudado a realizar em Bauru. “O público homossexual ainda é muito discriminado. Essas ações são uma maneira de militar em favor dos nossos direitos e conquistar o respeito que merecemos”, finaliza Souza.

Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado no final do ano passado revelou que em 5.435 municípios brasileiros existiam 17 mil casais de pessoas do mesmo sexo vivendo sob o mesmo teto. Esse número corresponde a 0,02% dos homens e 0,01% das mulheres nas cidades pesquisadas. Foi a primeira vez que um levantamento deste tipo foi feito pelo IBGE. Essas cidades têm 60% da população brasileira. Não foram pesquisados os 129 municípios mais populosos do Brasil.

Parcerias

Caracterizado, principalmente, por um público de poder aquisitivo e preocupado com o seu bem-estar, o segmento GLBT tem despertado o interesse de empresas e, segundo Marcos Souza, já é notável o impacto na economia e rotina da cidade. “O público da Labirinthus, por exemplo, é 50% formado por pessoas da região. Pessoas que vêm até Bauru e gastam aqui”, garante.

Para Elton Santos, gerente da TAM Viagens de Bauru, os homossexuais são um segmento que está sendo descoberto pelas empresas como um público interessante para trabalhar. A filial na cidade, que de acordo com Santos há muitos anos trabalha com ações voltadas ao público GLBT, é uma das empresas apoiadoras da Parada Gay em Bauru.

Uma das questões que o gerente faz questão de frisar é a importância dessas iniciativas como forma de apoio ao movimento e não, simplesmente, por ser um filão de mercado. “Descordo de abordagens de marketing que têm por objetivo a simples captação de clientes e vendas. A intenção tem que ir muito além disso. É uma forma de mostrar à sociedade que se deve respeitar o direito de escolha das pessoas”, defende.

Na mesma linha, Wagner Moura, proprietário da Serv Tour Viagens e Turismo (também apoiador da Parada Gay), acredita que as empresas devam ter a função de combater o preconceito. “A questão econômica vem como conseqüência, mas não deve ser o elemento motivador”, completa.

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Projeto

Um dos projetos estudados pela Associação Bauru pela Diversidade, a longo prazo, é a criação de um selo de identificação para lojas e empresas que se propõem a receber bem o público GLBT. “A idéia é fazer uma espécie de certificado ‘gay friendly’ como, por exemplo, existe em lojas dos Estados Unidos”, adianta o diretor Marcos Souza.

De acordo com ele, além da divulgação das empresas ‘amigas dos gays’, o intuito é fazer que, de alguma forma, as discriminações sofridas também sejam divulgadas. “Por meio de um site oficial a ser criado, o público vai poder escolher como e onde consumir ou não consumir”, espera.

Para o empresário Wagner Moura, a iniciativa do selo pode ser viável, mas deve ser amplamente discutida para os resultados não surtirem efeitos contrários ao esperado. “Temos que tomar cuidado e discutir com calma. Muitas vezes, ao invés de homogeneizar, uma taxação como essa pode aumentar a discriminação”, avalia.

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70% dos brasileiros querem que preconceito contra gay seja punido

Pesquisa do DataSenado revelou que 70% dos entrevistados querem que a lei puna os atos de discriminação ou preconceito contra homossexuais. A elevada aprovação se repete em quase todos os segmentos da população, com pouca variação de acordo com região, sexo e idade, e em todos eles a maioria é favorável ao PLC 122/2006.

Os menores índices de concordância estão entre os moradores da região Centro-Oeste (55%), pessoas que cursaram até a 4ª. série do ensino fundamental (55%) e pessoas com mais de 30 anos (67%).

Quanto à religião, para 54% dos evangélicos a discriminação dos homossexuais deve virar crime, enquanto 39% desse segmento defendem a rejeição do projeto. No universo de entrevistados católicos e de outras religiões, mais de 70% defendem a aprovação do projeto. 79% dos entrevistados que se declaram ateus querem a criminalização da homofobia.

O PLC 122/2006 altera a Lei 7.716/99 que trata de crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O projeto estende a punição à discriminação ou preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero.

Também estão previstas alterações no Código Penal e na CLT. Se for aprovado, passa a ser crime, entre outras atitudes, impedir, recusar ou dificultar o acesso de pessoas a ambientes públicos ou privados por conta de sua opção sexual, assim como usar o mesmo argumento para impedir a contratação de pessoas ou sua promoção na carreira profissional.

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