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Dr. Automóvel: Completando a água do radiador

Consultoria: Marcos Serra Negra Camerini*
| Tempo de leitura: 4 min

Na semana passada respondi a perguntas de leitores com relação a acessórios ou produtos alternativos disponíveis no mercado, que causam confusão na cabeça de muitos em função da propaganda e multiplicidade de ofertas disponíveis. Algumas lojas de peças e postos costumam empurrar o que têm no estoque e não o que realmente pede ou precisa, gerando as dúvidas. Isto sem contar com os experts palpiteiros que sabem de tudo e dão consultoria de graça por aí... E com os carros novos, o que acontece? A grande diferença é que um carro novo ainda está na garantia e se você começar a trocar componentes ou não fazer procedimentos recomendados pode perder a garantia. Depois da garantia, faça o que quiser por sua conta e risco, por isso sugiro que faça a coisa certa.

Nosso amigo leitor Antonio de Mello perguntou-me na semana passada:

“-Comprei um Fiat Weekend 1,4 zero quilômetro, em abril deste ano. Está com 7.000 km rodados e até hoje nunca coloquei água no radiador, nunca abri a tampa. Orientaram-me a não abastecer o reservatório com água simplesmente, e sim com uma solução a 30% de Paraflu. Minha dúvida é a seguinte: o marcador do expansor está no mínimo, o que indica que preciso repor água até o nível exato. Posso completar com água pura?  Se ficar acrescentando Paraflu toda vez, não vai saturar o radiador? O Paraflu evapora junto com a água?”

Boa pergunta. O fato de um veículo ser novo não quer dizer que não consuma água ou mesmo óleo do motor. Isto não é um atributo apenas de carro velho. A água do radiador depois de aquecida pelo motor, parte dela vaporiza-se e é condensada novamente na caixa de expansão. Como foi re-condensada, a água não se perdeu e volta ao circuito de refrigeração.

Mas se a pressão do vapor for muito alta, e isso geralmente acontece quando o motor trabalha muito quente por longo período, a válvula de segurança na tampa do expansor se abre e permite a saída do vapor, diminuindo a pressão e evitando o rompimento de mangueiras e da própria caixa. Com a saída do vapor, diminui o volume de líquido no sistema e este deve ser reposto quando a marca atinge o mínimo. Claro que isto vale para carro novo ou velho, é um processo normal. Agora, depois desta explanação técnica, vem a resposta à sua pergunta.

A recomendação da concessionária de não reabastecer apenas com água procede, pois o fluido de refrigeração é composto de água e aditivo em uma proporção adequada, 30% no seu caso. Portanto, se colocar apenas água vai alterar esta proporção. De outro lado, se colocar apenas o aditivo, vai realmente saturar a mistura como você mesmo disse. Na prática, pode fazer o seguinte: como o volume a ser reposto é pequeno considerando a capacidade total do sistema, e lembrando que a proporção água/aditivo não precisa ser exatamente 30% mas tem uma boa tolerância para mais ou para menos, complete uma vez apenas com água e na próxima manutenção com aditivo e um pouco de água, de forma a manter a proporção ideal. O aditivo não evapora integralmente com a água, mas parte dele pode ser carregada juntamente com o vapor, e é por isso que deve ser reposto. É recomendado que guarde em casa uma garrafa do aditivo indicado (o Paraflu no seu caso) e faça esta manutenção você mesmo, sempre com o motor frio e antes de dar a partida. Assim, não corre o risco de se queimar com o vapor da caixa de expansão nem de deixar seu motor trabalhando sem refrigeração adequada. Verifique no manual qual o período ideal para a troca total do fluido de refrigeração e limpeza do sistema.

Situação semelhante ocorre com o óleo do motor de um carro novo. Muitos pensam que se a primeira revisão será apenas aos 10.000 km, não tem que se preocupar com nada até lá. Pura bobagem. Um motor novo ainda não está perfeitamente assentado e os pistões e anéis precisam de um pouco de tempo para se acasalarem adequadamente e proporcionarem boa vedação e compressão nos cilindros, portanto é normal que um motor novo consuma mais óleo nos primeiros 2.000 km e depois se acomode no consumo regular. Desta forma, um carro novo poderá necessitar repor 1 litro de óleo lubrificante após 5.000 km e isto é perfeitamente normal, e se for esperar a revisão só aos 10.000 km seu motor poderá ter trabalhado sem óleo por muito tempo, comprometendo sua vida útil. Manutenção básica se faz desde novo, pela vida toda.

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* Marcos Serra Negra Camerini é engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP, pós-graduado em administração industrial e marketing e engenharia aeronáutica, com passagens como executivo na General Motors (GM) e Opel. Também é consultor de empresas e é diretor geral da Tryor Veículos Especiais Ltda.

Seu site é www.marcoscamerini.com.br.

Sugestões para a coluna e perguntas à seção Correio Técnico devem ser enviadas ao e-mail automerc@jcnet.com.br ou à redação do Jornal da Cidade, na rua Xingu, 4-44, Higienópolis. É obrigatório informar nome completo, RG, endereço e contato (telefone ou e-mail).

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