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Econofísica é ferramenta financista


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O sistema financeiro com toda a sua complexidade e oscilações marcantes, capazes de mudar o rumo da história, se tornou um excelente objeto de estudo para aplicações de mecânica estatística - um ramo da física que permite analisar um sistema composto por diversos elementos que estejam vinculados de alguma forma - onde é possível construir funções que descrevem tal sistema, e então desenhar suas propriedades e prever seu comportamento dentro das variáveis. Tradicionalmente, os economistas têm sido fortemente influenciados por matemáticos, mas os físicos estão aí para provar que também têm seu lugar.

Acostumados a modelar e analisar comportamentos, os físicos ganham mercado e agora utilizam todo o conhecimento acumulado, para prever crises, bons momentos para movimentações financeiras, impacto de operações de mercado, e várias outras propriedades que podem fazer a diferença no competitivo mundo dos negócios. De acordo com Marcelo Byrro Ribeiro (UFRJ), atualmente a Econofísica usa primariamente, mas não exclusivamente, a física estatística para entender a natureza do mercado, seu possível “equilíbrio”, funções de distribuição relacionadas à variação dos valores das ações em mercados de ações, etc.

Isso inclui também estudos acerca da distribuição individual de renda: fractalidade, distribuição de Pareto, além do estudo da taxa de falência e da distribuição do faturamento das empresas. Perguntas não faltam quando a idéia é se prevenir. Ainda conforme o pesquisador da UFRJ, para os analistas de mercado é importante ter as respostas sobre quais os fatores responsáveis pela variação dos preços em curto e longo prazo. Banqueiros e investidores se preocupam em saber qual o risco de um investimento. Pode-se controlar este risco? Se sim, com quais estratégias?

Para buscar as respostas para essas e outras dúvidas, o grupo de Econofísica do Instituto de Física Teórica da Unesp, reúne diversos pesquisadores que se debruçam sobre cálculos que assustam os mais desavisados. Entre eles está o professor Antônio Fernando Crepaldi, da Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Bauru, que estuda o comportamento estatístico de um sistema computacional semelhante ao mercado financeiro, visando entender de forma mais clara o seu funcionamento. Voltada para a análise de multifractalidade em séries temporais geradas por jogos virtuais, onde os agentes do jogo (que no programa são uma representação algébrica dos operadores do mercado que atuam comprando e vendendo ações) se comportam de forma semelhante ao mercado financeiro real. Esse tipo de simulação é chamado de jogo da minoria. Ele permite aos agentes interagirem de acordo com estratégias estabelecidas.

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Estratégia do jogo

Um jogo da minoria simples pode ser exemplificado da seguinte forma: numa determinada rodada 100 agentes devem escolher entre duas estratégias, comprar ou vender um produto. Se 60 agentes escolherem a ação de compra e 40 agentes escolherem a ação de venda, o grupo que escolheu vender será beneficiado, pois de acordo com a “lei da oferta e da procura”, poderá aumentar o preço do produto, como exemplo. A cada nova rodada os agentes utilizam do seu conjunto de estratégias àquela que se mostrou mais eficiente nas rodadas anteriores, de acordo com um sistema de pontuação.

Nesta pesquisa, o jogo da minoria utilizado foi modificado de forma a se tornar dessincronizado, ou seja, conjuntos de agentes atuam no jogo em tempos diferentes além de cada um ter a opção de não jogar em determinadas rodadas. “Alteramos o modelo de jogo da minoria para que se tornasse mais próximo do comportamento do mercado real, e isso não só conseguiu reproduzir a maior parte dos comportamentos estatísticos do mercado financeiro, como também conseguiu gerar dados com características multifractais”, afirma o professor Crepaldi.

Nesta pesquisa o grupo analisou 100 mil pontos. Se formos comparar com o mercado real pode-se dizer que, em quatro décadas, os valores diários das ações de uma empresa na bolsa gerariam em torno de 10 mil pontos. “Isso exemplifica a necessidade de um volume grande de dados para se fazer a análise estatística do comportamento dos mercados mundiais. O que se consegue hoje, para aumentar o volume, é utilizar dados intraday, ou seja, as cotações com freqüência de minutos”, resume Crepaldi.

A idéia é de que no futuro os pesquisadores consigam uma modelagem cada vez mais próxima do real, e assim, se aproximar do comportamento do mercado financeiro enxergando as probabilidades de alterações que gerem uma crise, por exemplo, baseando-se na análise das variações apresentadas ao longo dos anos.

Os resultados da pesquisa foram publicados num artigo na revista científica internacional “Chaos, Solitons and Fractals”, considerada na classificação da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) como máxima, por seu grau de impacto em determinadas áreas científicas.

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