Ser

O privilégio de chegar aos 50 anos


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Elas são bonitas, bem-sucedidas, sabem se cuidar e gostam de sair para se divertir. O perfil das mulheres na faixa dos 50 anos mudou. E muito. Elas não querem mais ser apenas mãezonas nem usar roupas que envelhecem. Hoje elas vivem plenamente, dedicam parte do tempo cuidando da aparência, acreditam ser possível amar de novo - após casamentos desfeitos -, e há aquelas que até “ousam” começar uma nova carreira. Tudo isso com o respaldo da experiência e da tolerância conquistadas com a maturidade.

“Chegar aos 50 anos é um privilégio. Nessa fase, a mulher se sente madura o bastante para enfrentar novos desafios. Em geral os filhos já estão crescidos e ela, enfim, pode cuidar da sua vida”, afirma a psicóloga Eloina Crenith, especializada em psicoterapia de base analítica e psicanálise.

Assim, o papel de dona de casa, esposa e mãe se ampliou. Elas são, acima de tudo, mulheres, donas de seus narizes. A empresária Mariangela Bordon, de 51 anos, é um exemplo disso. Mãe de uma garota de 20 anos e dona da EOS Cosméticos, não deixa de correr no Parque do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, antes de se dedicar ao trabalho.

“É terapêutico correr ao ar livre e eu adoro, além de fazer um bem enorme para a saúde”, diz. Divorciada, ela tem namorado e, quando está de folga, gosta de ir ao cinema, ao museu e ao teatro. “Hoje, graças à evolução dos produtos de beleza, estou ótima!”

Além das mudanças comportamentais, as mulheres de 50 hoje também usufruem as conquistas médicas e conseguem retardar a ação do tempo. Isso se reflete na saúde, na beleza e até no sexo. “Envelhecer não é uma doença. O desejo sexual não deve diminuir com o passar dos anos. É cultural achar que as mulheres, só porque estão envelhecendo, não têm mais desejo. Além de proporcionar prazer, o sexo na pós-menopausa faz bem à saúde”, afirma a psicóloga.

Os relacionamentos afetivos podem ocorrer com homens mais novos, sem preconceito nem exigências como o casamento, ressalta Eloina. “As mulheres mais velhas têm maturidade e segurança, que tranqüilizam o homem mais jovem, que ainda tem dúvidas, medos e inseguranças. A expectativa de sonhar em ter filhos já passou na mulher madura e a maturidade a deixa livre para usufruir a vida.”

Há também aquelas que preferem ficar solteiras a constituir uma família, diz o psicólogo Paulo Tessarioli, especialista em sexualidade humana. “Ainda existe uma pressão social sobre a mulher que não se casou, mas com menor intensidade do que antigamente. Porém, as que são independentes economicamente, que estão inseridas no mercado de trabalho e integradas ao meio social percebem que essa questão fica em segundo plano.”

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Se cuidar para chegar lá

Os especialistas concordam que as mulheres maduras de hoje são um reflexo do que foram nas etapas anteriores da vida. “Até pouco tempo atrás, se dizia que a vida começava aos 40. Hoje, percebe-se que isso depende muito mais da cabeça de cada um, ou seja, a idade que você tem e a idade que acredita ter. A forma como cada um vai vivenciar a idade que alcançou é apenas um reflexo de como vivenciou as idades anteriores”, afirma o psicólogo Paulo Tessarioli, especialista em sexualidade humana.

Isso não significa, no entanto, que não dá tempo de correr atrás e mudar de comportamento. Nunca é tarde para mudar. Exemplo disso é o aumento da procura de mulheres nessa faixa etária, muitas sedentárias, pela prática de exercícios físicos.

“Vários motivos levam a isso, em primeiro lugar a saúde e, em seguida, a estética. Elas buscam a academia para aumentar a auto-estima e emagrecer”, observa a educadora física Simone Marques, da Triathon Academia, na zona oeste de São Paulo. Os exercícios mais pedidos por elas são a musculação e a caminhada.

A empresária Maysa Rovai, de 51 anos, até freqüenta as salas de ginástica. Esporadicamente. Assim como Mariangela Bordon, gosta mesmo é de correr ao ar livre, no parque, atividade que pratica com disciplina há três anos. “Sou independente, vivo feliz e corro três vezes por semana”, conta ela, que é mãe de dois rapazes, de 18 e 22 anos.

Maysa descobriu uma profissão nova aos 40 anos. Atualmente, ela é dona de um bufê e consegue controlar melhor seus horários do que quando era mais nova. Separada há quatro anos, gosta de sair à noite com as amigas e viajar.

“Minha vida ficou mais saudável e esta fase é a melhor de todas. Fico surpresa com o que sou capaz. Não dá para ficar pensando em meia-idade, porque não combina. Me sinto jovem e a vida continua.”

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Em busca da sensualidade

As mulheres do autor Manoel Carlos seguem a linha de buscar a felicidade. “Sou fascinado pelo universo feminino. Por isso, minhas personagens nunca ficam trancadas em casa.” A personagem de Natália do Vale da novela “Viver a Vida” dá o exemplo. A fotógrafa Ingrid é mãe dos gêmeos Jorge e Miguel (Mateus Solano), que vivem brigando, cuida do marido Leandro (Nelson Baskerville), que é cardíaco, e ainda encontra energia para incentivar as mulheres de 50 anos, suas clientes, a serem sensuais nas sessões de fotos.

“Aqui, vocês podem falar de tudo. Mal do marido...”, diz para elas. “A Ingrid é uma mulher que exerce autoridade dentro de casa, sem perder o bom senso e o carinho de mulher e de mãe”, diz Maneco.

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Começar de novo

Aos 33 anos, Amy Cohen foi demitida, abandonada pelo namorado e teve de enfrentar a morte da mãe. Em vez de se lamentar, a autora norte-americana de “Nunca é tarde demais” transformou a vida. O primeiro passo foi descobrir quem ela realmente era. “Tinha uma idéia de quem eu gostaria de ser. Queria ser mais independente e me sentir realmente forte. Sabia que não queria ficar sozinha, mas queria me sentir forte o bastante de forma que pudesse ficar sozinha até conhecer a pessoa certa.”

Não foi fácil. No começo, ela teve ataques de pânico e não conseguia dormir, comer ou conversar direito. “Eu estava completamente determinada a me tornar a pessoa que sempre quis ser.” A forma de alcançar isso foi eleger três objetivos que ela queria alcançar por vez. Um deles foi andar de bicicleta - que aprendeu aos 35, após muitos tombos e hematomas.

Amy acredita que não há nada errado em querer desistir no meio do percurso. “Não tenho certeza se você pode se mover e se sentir realmente forte se não compreender esses sentimentos.” Ela provou que a idade não é barreira e que quem a subestimava estava errado. Tem outro emprego, aprende coisas novas e viaja para lugares como Austrália e Vietnã.

“Estava gastando meu tempo esperando em vez de viver.” Hoje, aos 43 anos, com uma vida bem diferente, ela se curte ao máximo. “O mundo pode ser seu em qualquer idade. Basta acreditar Pode não ser na hora em você que esperava, mas vai acontecer.”

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