O produto é o mesmo, mas a variação do preço do pão francês vendido por quilo chega a 150% em Bauru. O quilo do pãozinho pode ser adquirido de R$ 2,99 a R$ 7,47, dependendo da padaria, do supermercado ou outro tipo de estabelecimento que comercialize o tradicional alimento presente na mesa do brasileiro. Quem compra um quilo de pão de sal - como também é chamado - leva para casa entre 20 e 21 unidades, considerando-se o padrão normal do produto.
O JC consultou oito padarias, quatro supermercados de redes varejistas e dois mercados de menor porte - estabelecimentos tocados por famílias sem o custo de mão-de-obra contratada. O preço intermediário de R$ 5,00 vale para todas as regiões da cidade. As redes de supermercados cobram, em média, R$ 4,47.
A tendência de padarias cobrarem um preço maior não prevalece. O comércio especializado em panificação no Jardim Bela Vista, no Novo Jardim Pagani, no Alto Paraíso e no Jardim América, bairros de diferentes regiões do município, cobram pouco mais de R$ 5,00 pelo quilo do pão.
Na Vila Industrial, três estabelecimentos disputam a preferência do consumidor na confluência das ruas Itacuruçá e avenida das Bandeiras. O dono de um supermercado, Olívio Chaves Lindolfo cobra R$ 2,99 pelo quilo do pão francês, o menor valor encontrado pela reportagem. Ele diz que consegue manter o preço baixo porque as padarias não negociam a variedade de produtos que seu supermercado oferece.
O comerciante tem uma concorrência acirrada na revenda de pães com uma padaria distante cerca de 200 metros e, de frente, um minimercado concorrente. Para manter a clientela, Lindolfo ampliou a loja, montada há sete anos na quadra 1 da avenida das Bandeiras.
O comerciante vizinho a Lindolfo abriu as portas há um ano e dois meses. O minimercado de Valdecir Botelho revende pãozinho de 50 gramas que sai a R$ 0,20 a unidade. “O comércio da frente vende a R$ 0,16 o pãozinho. Dá na mesma”, cita.
Mesmo com dois estabelecimentos vendendo mais barato, a consumidora Elaine Cristina Rocha Tonetti não troca o hábito de visitar diariamente uma padaria na quadra 2 da rua Itacuruçá. A freguesa paga R$ 4,25 pelo quilo do pão francês e não se assusta. “Acho barato”, define. Ela leva para casa diariamente entre seis e oito pães.
Pão de grife
O pão francês mais caro em Bauru, a R$ 7,47 o quilo, foi encontrado em uma padaria “de grife”, especializada em panificação. O comércio tem duas lojas na região central, sendo uma delas entre as avenidas Rodrigues Alves e Duque de Caxias.
O estabelecimento recebe um grande fluxo diário de consumidores acostumados a aproveitar as delícias espalhadas sobre os balcões e nas gôndolas da loja. Dependendo do produto, a padaria confecciona o alimento, como bolos, por encomenda.
Fidelização
Engana-se quem imagina que o comércio especializado em pães na zona sul de Bauru assusta o cliente que, em tese, estaria disposto a pagar mais pelo pão francês. No coração da área nobre da cidade, na avenida Nossa Senhora de Fátima, a comerciante Vilma Tavares vende o quilo do pãozinho francês a R$ 5,90. É quase o mesmo do que os R$ 5,73 cobrados pelo quilo do produto tradicional em uma padaria na quadra 13 da rua Rubens Arruda, no Centro da cidade.
Vilma acrescenta que o preço era R$ 6,90 há um ano, quando assumiu a padaria e confeitaria na quadra 10 da avenida, e resolveu baixá-lo. “Não é porque eu estou em um bairro nobre que vou ‘enfiar a faca’”, argumenta.
O negócio da comerciante é vender para ter clientes e lucrar em produtos que agreguem maior valor, como o irresistível sonho. Esse tipo de alimento feito artesanalmente representa um faturamento expressivo por unidade. “Tenho minha clientela e aumentou 90% a venda de pães só no boca a boca”, comemora.
A padaria dela atende grandes encomendas do produto tradicional da alimentação do brasileiro. A comerciante ressalta que, diariamente, os padeiros produzem 4 mil pãezinhos, durante três turnos de trabalho. Só no período que vai do meio-dia até a noite, a padaria produz 1.800 unidades do pão de sal.
Ela conta que a receita de farinha, fermento e água misturadas pelas mãos hábeis do padeiro mantém a qualidade que o freguês deseja em um pãozinho. “Não tem lógica querer um preço absurdo no pão. Você não terá lucro. As pessoas vão comprar menos”, define.
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Consumidor perde referência unitária
A obrigatoriedade da venda do pão francês ou de sal por quilo passou a vigorar no dia 20 de outubro de 2006, definida em portaria do Instituto Nacional de Metrologia Legal, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), órgão do governo federal.
Desde então, o comércio e o consumidor passaram a se adaptar à nova maneira de adquirir um dos produtos mais presentes na dieta do brasileiro. O economista Reinaldo Cafeo explica que as pessoas perderam a referência do quanto passaram a pagar pela unidade do pão de sal ao adquirir o produto por peso.
Ele lembra que o baixo valor pago por uma certa quantidade de pão faz com que o consumidor não exerça um controle mais assíduo, como faz com mercadorias de maior valor agregado - carne, leite, arroz, entre outros.
Para o economista, esses dois aspectos fazem com que o comprador tenha uma falsa sensação de que está adquirindo um produto barato. O consumidor não faz um controle rigoroso por não ter uma motivação de comparar os preços praticados entre, ao menos, dois estabelecimentos.
“O consumidor é mais desligado em relação aos preços. Há uma indução pelo baixo valor que ele representa na conta final e pelo fato dele ter perdido a noção de quanto é por unidade”, finaliza.
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Fala-povo: ‘Você percebe a diferença de preços entre o pão francês vendido por quilo?’
“Em casa se compra poucos pães. A gente guarda na geladeira e vai tirando quando quer” -
Guiomar Pinto
“Por quilo é mais caro. Comprava todo dia e não compro mais diariamente” -
Adriana Oliveira dos Santos
“É mais caro. Prefiro pagar mais porque é mais gostoso” -
Aline Giglio Martins
“Adoro pão francês. Só que diminuiu o pãozinho e você tem que comprar mais” -
Alice Cruz