O brilho da quarta edição da Virada Cultural em Bauru, evento que entre as 18h de sábado e as 18h de ontem reuniu cerca de 30 mil pessoas apenas no Parque Vitória Régia, segundo estimativa da Polícia Militar (PM), foi ofuscado pelo fato de um artista sair no meio do show e outro nem começar a cantar. No sábado à noite, Tom Zé, que se apresentava no Sesc, deu um chilique após um espectador insistir no “fiu-fiu”. Depois de dizer palavrões ao microfone, abandonou o palco para a indignação geral da plateia. E a cantora Ná Ozzetti, que faria um dos shows mais aguardados da tarde de ontem, nem pisou no palco. De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, ela desistiu de se apresentar por causa de atraso na liberação do Teatro Municipal, onde seria o show.
Por questões técnicas, a peça teatral Aldeotas, atração no Teatro Municipal antes do show de Ná Ozzetti, marcado para às 16h30, atrasou 40 minutos, de acordo com o secretário de Cultura de Bauru, Pedro Romualdo. “Ela disse que tinha outros compromissos e não podia esperar”, explicou ao JC. Os fãs que foram ao Teatro se depararam com um cartaz informando que o show havia sido cancelado.
A dentista Alexandra Kesan, que saiu do Parque Vitória Régia, onde participava de outras atrações, para ver Ná Ozzetti cantar, expressa a frustração do público. “Eu cheguei lá e as portas do Teatro Municipal estavam fechadas. Ninguém explicou nada para gente. Minha amiga veio de São Paulo hoje (ontem) só para assistir ao show dela na Virada Cultural e acontece isso! E justo com a Ná Ozzetti que eu nunca vi cantar. Foi frustrante”, lamentou.
Ela iria apresentar “Balangandãs”, disco que homenageia Carmen Miranda, a “Pequena Notável”. O trabalho foi vencedor do prêmio Bravo!Prime 2009 - ano do centenário de nascimento da artista - e traz canções como “Camisa Listrada” e “Tico Tico no Fubá” e outros clássicos da música popular brasileira. Ao público que esperava um belo show de MPB para coroar a Virada Cultural só restou frustração e indignação.
Chilique
Com sua ópera pop, denominada “Pirulito da Ciência, o cantor Tom Zé prometia arrasar com seu show na Virada Cultural no sábado à noite. Conseguiu! Ele revelou um lado inusitado ao grande público que foi prestigiá-lo e, em troca, recebeu a interrupção repentina da apresentação para que o artista explodisse em palavrões contra um espectador que teimava no fiu-fiu próximo ao palco. Depois da cena bizarra, para se dizer o mínimo, Tom Zé ordenou que sua banda saísse de cena, enquanto ele próprio deixava o palco.
Cerca de 15 minutos após, Tom Zé e banda retomaram a apresentação para uma música e foram embora encerrando melancolicamente a apresentação de um dos grandes destaques da Virada Cultural em Bauru. O chilique performático de Tom Zé foi dirigido contra uma única pessoa entre as milhares que acompanhavam atentas e participativas sua performance em um dos palcos mais qualificados de Bauru, o Sesc. Se Tom Zé pretendeu provocar, ele conseguiu pois o público em geral não o aplaudiu ao final da apresentação em um gesto de elegância.
Aos 73 anos e mais de 40 de carreira, Tom Zé desfruta de um inconteste reconhecimento artístico no Brasil e mundo afora. Porém, ele se excedeu na insistência de interação público-palco no último sábado. Em um show para milhares, Tom Zé impôs um tom intimista com paradas para histórias, leitura de recados da plateia e outros adereços que o público entendeu como sendo sinal para compartilhar o espaço cênico. O resultado foi lamentável. Antes que alguém imagine que não houve entendimento da proposta inovadora do artista por parte do público bauruense, nada justifica aquele ataque histriônico.