Encontrar mulheres com atitudes que antecipam o homem na tentativa de iniciar um namoro é cada vez mais comum. Mais ativas no mercado de trabalho e com maior poder de consumo, elas também têm se mostrado mais participativas durante o processo de conquista.
É o que defende o doutor em psicologia experimental e professor da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru Sandro Caramashi. Ele estuda relacionamentos amorosos e afirma que o papel mais ativo do sexo feminino nos relacionamentos começa a se desenvolver a partir da década de 60.
A última amostra de População e Domicílios do Censo 2000 revela que a população feminina é mais expressiva que a masculina em várias regiões do País, inclusive em Bauru. São 136.796 mulheres contra 128.429 homens - com mais de 10 anos de idade.
O IBGE explica essa proporção: a quantidade de homens nascidos é superior ao sexo feminino, no entanto, essa estatística declina face às taxas mais elevadas de mortalidade masculina.
Assim, na busca para encontrar um parceiro, os números apontam que os homens estão em falta no “mercado”. “Antigamente, acreditava-se que era o homem quem deveria tomar a iniciativa para começar um namoro. Por conta da liberação sexual da década de 60, as mulheres conquistaram mais liberdade para fazer escolhas amorosas e começaram a participar do processo de aproximação na hora da paquera. Antes, elas eram conduzidas pela família”, explica Caramashi.
Atitude
A comerciante Denise Baroni Tiengo, 27 anos, é um exemplo de que a tomada de iniciativa e a persistência podem levar adiante um relacionamento delicado. Juntos há três anos, com uma filha de 2 anos, Denise e o marido, o empresário Jonas Tiengo Neto, 32 anos, tiveram que enfrentar a resistência da família e dos amigos para se casar. “Se não fosse o meu punho firme, se eu não tivesse persistido e tomado algumas atitudes antes dele, provavelmente não estaríamos hoje juntos”, conta.
Denise conheceu o marido numa loja de materiais de construção, onde era sua funcionária. “Começamos a nos aproximar e nos gostar, aos poucos”, recorda. Mas para firmar um vínculo afetivo, Denise e Jonas tiveram que enfrentar uma série de preconceitos, pois ambos estavam envolvidos em outros relacionamentos e com a data do casamento marcado.
“Só quando encerramos esses compromissos que pudemos realmente nos conhecer mais. Tive que ser forte para enfrentar uma série de obstáculos, assim como Jonas. Foi difícil, mas conseguimos comprovar, assim que nos casamos, que o sentimento era verdadeiro e superou todas essas dificuldades”, relata Denise.
Hoje, Jonas e Denise tomam decisões juntos. “É importante que a mulher tome frente às situações, saiba se posicionar antes e durante o relacionamento e não fique à espera de iniciativa apenas de um lado. As coisas devem ser resolvidas por ambos numa relação amorosa”, destaca.
Caramashi explica que mesmo com exemplos de mulheres que tomam atitudes e são capazes de enfrentar obstáculos num relacionamento, ainda persiste na sociedade o mito de que o homem é quem deve tomar decisões, principalmente antes de iniciar a relação.
No entanto, ele afirma que, na hora da paquera, as mulheres possuem um repertório comunicativo muito maior do que os homens. “Elas são capazes de produzir até cinco sinais não-verbais de receptividade e interesse, enquanto os homens emitem um só”, revela.
“Então, as mulheres têm uma participação muito mais ativa no momento em que estão paquerando. E isso facilita a proximidade, pois o homem só se aproxima da mulher quando se sente seguro”, ressalta.
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Psicóloga incentiva a tomada de decisões
A psicóloga Marilza Ramos, que trabalha com adolescentes, acredita que a tomada de decisões antes de iniciar um relacionamento é algo positivo, que resulta do contexto sócio-cultural em que vivemos. “No caso das adolescentes, esse papel é cobrado pela própria sociedade”, examina.
Ela também diz acreditar que esse enfrentamento ajuda a desenvolver um papel participativo, ativo. “Essa tomada de decisões ajuda a assumir responsabilidades”. Mas ela alerta que, muitas vezes, a estratégia utilizada para escolher e conquistar o parceiro pode não ser adequada.
“É importante refletir, avaliar os mecanismos utilizados para conquistar. As adolescentes, principalmente, precisam ter consciência crítica para não serem levadas pelo modismo do ‘ficar’”, aconselha.
Sandro Caramashi complementa e diz que o momento de conquista e paquera é como um jogo de xadrez, no qual é necessário que se conheça bem as estratégias para “ganhar a partida”.
A mulher deve saber como e com qual intensidade esses comportamentos estratégicos devem ser apresentados. Segundo ele, é preciso um equilíbrio, o que fará com que o possível relacionamento seja bem-sucedido.
“O momento de tomar iniciativa é a situação que produz mais conflito e mais estresse na hora de paquera. Surge o sentimento de ansiedade, tensão, insegurança. Assim, essa maior autonomia das mulheres reduz o peso da aproximação em relação aos homens”.