Regional

Casarões de Bocaina foram construídos na época da cafeicultura

Rita de Cássia Cornélio
| Tempo de leitura: 3 min

Quem chega a Bocaina (69 quilômetros de Bauru) percebe logo que o município foi um berço dos barões do café. O Centro da cidade está repleto de ‘palacetes’. Na praça da matriz, o bar do Jonas, antigo armazém e moradia, foi restaurado há quatro anos. A construção tem mais de 100 anos, calcula o proprietário Jonas de Souza Amaral. “Não mexi na fachada, só pintei. Achei importante conservar as características arquitetônicas por causa do turismo. O piso é cerâmico e da época em que foi construído.”

Ele explica que, embora a prefeitura tenha oferecido ajuda, ele dispensou. “Eu sou um bocainense e lembro que aqui moraram uns chineses. Acredito que ainda preciso refazer alguns pontos, há reboque danificado.”

Nas contas do chefe do patrimônio do município, Walmir Furlaneto, são 250 casarões que foram construídos quando a cidade ainda era chamada de Villa de São João. “Grandes plantações de café foram se expandindo com a chegada de colonizadores vindos de regiões de Campanha (MG), Bananal,Vale da Ribeira, São Paulo, Jaú, Brotas e Piracicaba.”

Os casarões construídos pelos fazendeiros começaram a surgir na área central da cidade, fruto do lucro com o precioso grão que também proporcionava viagens à Europa. Os casarões surgiram por volta de 1920, quando o município passou a ser denominado São João da Bocaina.

De acordo com Furlaneto, os casarões tinham um imenso porão, sótão, adegas e em alguns até escritório, coisa pouco necessária e comum para a época. “Muitos casarões tinham os tetos decorados com desenhos. Em um deles foi construída uma gruta com um altar de Nossa Senhora de Lourdes.”

A era das construções dos casarões teve amargo fim na bancarrota da Bolsa de Nova York, lembra o chefe do patrimônio do município. “Muitos barões do café chegaram a ficar praticamente na miséria, pois havia o produto, mas não havia o comprador, e as dívidas eram muitas. Depois de 1929, somente em 1951 foi feita nova construção na cidade, o novo Posto de Puericultura.”

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Prédio mais antigo foi demolido

Bocaina deve ter ainda uns 250 casarões, memória viva de um período em que o café era o principal produto cultivado na região. São diversos estilos arquitetônicos: eclético, neocolonial, art-déco e romano.

Em 1903, os imigrantes italianos, a maior imigração que chegou a Bocaina, edificou um prédio de quase mil metros quadrados entre as ruas Floriano Peixoto e Sete de Setembro. Ali funcionava aulas de teatro, dança, música, escola para filhos de imigrantes, cinema, reuniões festivas e bailes. Era uma bela construção cujo prédio mostrava traços ao estilo romano.

Também com a derrocada do café foi aos poucos ficando inativo, mas apresentando boa conservação. Na década de 50, os remanescentes filhos dos imigrantes italianos doaram o prédio ao município que na sequência doou ao Governo do Estado. Em 1963, o imóvel foi demolido para construção da Casa da Lavoura. Houve protesto da população.

A igreja matriz, segundo pesquisas, é arquitetura renascentista, unindo traços de estilos de forma harmoniosa: o gótico, romano e o grego. O Paço Municipal, construído por volta de 1909, foi uma obra do engenheiro Manoel Gomes Amorim.

A pintura original do prédio era azul e branco. Por algum tempo, a casa sofreu mudanças e só em 2008 é que o imóvel voltou a ter sua pintura original. O Grupo Escolar, construído pelo governo do Estado em 1910 e concluído um ano depois, foi projetado com oito salas de aula. O imóvel conserva linhas arquitetônicas apesar de ter passado por diversas reformas.

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