‘Quero viver 100 anos; a vida é maravilhosa’
Miguel Zaidan Daré é um desses exemplos de que criatividade e talento não são para quem quer e sim para quem os tem. O menino que tinha medo de manequins de vitrines viu sua paixão pela moda despertar bem cedo, aos 7 anos de idade, quando ficou fascinado com a coreografia e o figurino de uma artista de circo.
“Nem sabia o que era moda, mas sabia que queria fazer”, lembra. Os 25 anos de contato com passarelas, modelos e figurinos também são divididos com outras paixões. Há 13 anos, Miguel está à frente do grupo filantrópico “Voluntários em Ação”, que leva alegria e cor aos que precisam. “A filantropia é meu alimento, minha segunda família”.
Colunista Social do “Auê”, do Jornal da Cidade, há 13 anos, ele fala sobre os difíceis momentos que passou com a perda da mãe, o carinho e o amor com o irmão especial, projetos, eventos e baladas em São Paulo e muito mais. Leia os melhores momentos da entrevista.
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Jornal da Cidade - Quando percebeu que tinha talento para a moda?
Miguel Zaidan Daré- Quando criança, eu não sabia nem o que era moda. Fui criado no Centro de Bauru e até tinha medo dos manequins. Porém, havia uma loja de uma amiga da família, a Suréia Boutique, que tinha uns manequins diferentes, bonitos, e eles me deixavam mexer nas perucas, roupas. Eu tinha apenas 7 anos de idade, mas já era o gosto pela moda que brotava. Mais ou menos nessa época, chegou um circo na cidade e eu dava reforço escolar de inglês para as crianças que estudavam na mesma escola que eu. Fiquei fascinado com o circo. Lembro-me de uma coreografia com uma mulher cheia de plumas laranja. O quintal da minha casa era muito grande, então fiz um circo lá.
JC - Deve ter sido uma criança criativa...
Miguel - Ah, muito. Mas eu fazia o circo para mim mesmo, não fui um menino de muitos amigos. Então eu fazia o espetáculo para os amigos imaginários. Vivia pegando restos de tecidos e “coisas” para montar o circo em casa. Depois fiquei fascinado com o Carnaval e decidi que também faria em casa. O desfile era na Nações Unidas e um tio meu me levava. Eu gostava de ir nos últimos dias para pegar adereços e restos dos carros alegóricos que sobravam na avenida e montar meu Carnaval. Fazia os carros, empurrava...Também fiz boutique no porão da minha casa com os bustos de manequins que ganhava. Por outro lado, também fui arteiro, escalava o Fórum e chegava ralado. Tinha muitos carrinhos e brincava com meu irmão, mas gostava mesmo dessa parte mais artística. Tudo o que eu via, queria fazer.
JC - E quando começou a trabalhar com moda?
Miguel - Também era muito novo. Comecei a ler jornal e, nos anos 80, todo mundo era modelo em Bauru. Eu lia: fulano de tal foi produzido por não sei quem e fotografado por não sei quem. Procurei entender o que aquilo significava. Peguei uma vizinha, a Elaine Cristina, que tinha uns 11 anos, e fiz maquiagem, cabelo, coloquei alguns acessórios e colares da minha mãe, tudo escondido porque ela não gostava. Por último, fiz as fotos dela com um fundo feito com lençol. Achei que uma das fotos havia ficado boa e consegui que fosse publicada como a nova modelo e o novo produtor que se lançavam...E isso faz 25 anos.
JC - A partir dessa época...
Miguel - Nunca mais parei. Já fiz muita coisa relacionada à moda em Bauru, região e em outros Estados, como o Paraná. Fiz produção de revistas que circulam no Brasil inteiro e até fora do País. Fiz a primeira capa da da revista Todateen, uma das revistas para adolescentes mais lidas no Brasil. Quando realizava concurso de beleza, desfiles, eu improvisava muito. Montava e amarrava passarela, colocava tapete, ensaiava, fazia cabelo, maquiagem...Nunca tive orientação. Aprendi tudo sozinho. Era fascinado pelo assunto. Comprava muitas revistas e aprendi observando. Tenho registro profissional de moda, sou diretor de produção artística. Nunca fui carnavalesco, mas saí uma vez na Mocidade, fui convidado várias vezes para júri, já dei ideias e bolei roupas para crianças e para bloco de senhoras.
JC - O que mais lhe deu prazer nessa época?
Miguel - Em 1999, o JC me convidou para fazer a capa do jornal para saudar o Ano Novo. Foi um desafio muito legal. Vesti quatro meninas com folhas de jornal, brindando o ano 2000. Foi uma coisa futurista. Também fiz o concurso “Miss Centenário” quando a cidade completou 100 anos e a coordenação de camarim da Adriane Galisteu quando ela esteve em Bauru. São algumas coisas bacanas que me marcaram. Também gostava muito de coreografias e ensaios. Dei curso de modelos para mais de 100 alunas. Ensinava as meninas a andar, desfilar...Tudo isso. Hoje já não há espaço para desfiles. A sociedade perdeu esse charme. Naquela época fazíamos tudo por prazer. Nunca vivi de moda.
JC - E quanto ao funcionalismo público?
Miguel - Era aquela coisa de família. Meu pai era funcionário público... Quando fiz o concurso para a prefeitura, era super novo, faz mais de 20 anos. Já fui encarregado de pessoal, auxiliar administrativo, diretor e hoje sou técnico administrativo, sempre na Secretaria dos Negócios Jurídicos.
JC - Você também faz um “auê” na cidade...
Miguel - (Risos) Faz 12 anos que sou colunista social do JC. Eu era convidado do JC para assistir aos jogos da Seleção na antiga Cervejaria dos Monges. Foi quando o diretor me convidou para ser colunista. Peguei um guardanapo para anotações, uma caneta e foi assim que tudo começou. Gosto muito do que eu faço.
JC - Quem pode ser destaque na coluna do Miguel?
Miguel - Todo mundo (risos). Gente bonita, interessante, que faz parte daquele acontecimento que fui cobrir...Sempre gostei muito dessa coisa de balada e reuniões sociais.
JC - E a paixão por Monique Evans?
Miguel - Já fui muito tiete. Até brigava por ela. Comprava tudo quanto era revista para guardar recortes. Tenho muitas fotos com ela. Mas a gente vai ficando adulto e perdendo esse encanto. Hoje não sou mais tiete de ninguém. Faz seis anos que minha mãe faleceu e mudei muito com essa perda. Minha vida pode ser definida como antes e depois da morte dela.
JC - Ela foi um exemplo?
Miguel - Ela foi tudo na minha vida. Acho que as mães de verdade não deveriam morrer. Ela me faz falta todos os dias. Fica a memória, uma luz, uma energia zelando pela gente...Mas acabou. Escrevi um livro que conta a vida de minha mãe e seus 41 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI): “41 Dias - Uma História de Vida”. Foi um livro escrito para dividir minha dor. Não escrevo mais nada, a não ser poemas e contos que falam sobre a realidade nua e crua da vida. Gostaria de dar continuidade ao livro sobre a minha mãe para contar como está a vida agora. Tomei muitos medicamentos antidepressivos por receita médica. Hoje apenas um. O tempo vai amenizando tudo.
JC - Você tem um irmão especial. Ele o ajudou a sair da tristeza?
Miguel - Deus sabe o que faz. Minha mãe teve o Júnior com 40 anos. Ele tem síndrome de Down, nasceu doente. Depois, minha mãe engravidou e perdeu a criança. Já quando ela tinha quase 44 anos, engravidou de mim. Acredito que nasci para cuidar do Júnior. Ele é um anjo de pessoa. Tem suas limitações, mas é maravilhoso, educado e meu companheiro. Adora dançar, contar histórias, é muito divertido. Não é peso nenhum cuidar dele. Algumas pessoas até me magoam quando dizem que ele é uma cruz que minha mãe me deixou.
JC - Você é muito ligado à filantropia...
Miguel - A caridade começa dentro de casa. Minha mãe cuidou de três sobrinhos depois que minha tia faleceu em uma tragédia. Ela era muito caridosa e foi com ela que aprendi a ser assim. Há 13 anos tenho o grupo “Voluntários em Ação”. Tudo começou quando fui com minha mãe fazer uma visita ao abrigo do Paiva e vi as abrigadas andando com bonecas e colares. Fizemos uma campanha e arrecadamos muita coisa para elas. Levei tudo e, quando vi a alegria, nasceu o Voluntários em Ação. Hoje, o grupo está mensalmente no Paiva, no Projeto Seara de Luz do Ferradura Mirim, no Projeto Comendo, na Vila São Paulo, bazares da pechincha, brechós, organização de almoços e jantares...Todo fim de semana eu estou em um lugar.
JC - E o que a filantropia representa?
Miguel - É o meu alimento. Levar a alegria a quem precisa é algo inexplicável. Nasci para isso. Sinto-me muito amado. As pessoas me beijam e me abraçam. São minha família. Minha veia artística se transferiu para os projetos porque decoro, invento festas temáticas. Uso o lúdico e o artístico para alegrar.
JC - Você sempre foi festeiro?
Miguel - Adoro festas, principalmente a organização. Aqui em Bauru não saio muito, a não ser para coberturas. Gosto de baladas e eventos em São Paulo. São Paulo é maravilhosa. Lá tem lugares para sair todos os dias da semana e no Interior não temos muitas opções.
JC - Histórias picantes das baladas? (Risos)
Miguel - Não muitas (risos). Já curti muito em São Paulo: restaurantes, baladas, teatros, semanas de moda, boates maravilhosas com gente famosa, artistas...Vivi muita coisa boa. Já cheguei a sair de boates às 8h da manhã e mal sabia o horário. Hoje estou um tanto parado. Embora ainda tenha o mesmo pique, me falta tempo. Para mim, São Paulo é como se fosse minha segunda casa.
JC - Muitos romances?
Miguel - Nunca amei ninguém verdadeiramente, neste sentido. Nunca tive um relacionamento sério. Todos deveriam encontrar alguém para estar sempre ao lado. Alguém que seja amante, amigo e que te entenda. Mas hoje isso é muito difícil. Não sei, talvez minha vida seja isso mesmo: somente estar rodeado de amigos.
JC - Envelhecer é um problema?
Miguel - Ah, é sim. Talvez não para mim porque ainda tenho muita disposição, mas porque as pessoas rotulam e falam o que você pode ou não fazer de acordo com a idade que tem. Por isso não gosto de falar a minha. Ainda tenho muitos projetos que gostaria de colocar em prática, como um site bem bacana com dicas de moda do cotidiano e uma loja de acessórios e presentes. Em relação à moda, o que vier e for bacana, estou dentro.
JC - O que você vê quando olha para o espelho?
Miguel - Uma pessoa muito simples, amiga, briguenta e que procura seu espaço. Sou muito crítico de mim e do que vejo. Também sou vaidoso e me cuido muito, embora não tenha conseguido manter o peso (risos).
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Perfil
Nome: Miguel Zaidan Daré
Idade: A idade que o leitor achar que tenho
Local de Nascimento: Bauru
Signo: Libra
Hobby: Navegar no YouTube
Livro de cabeceira: Livros de autoajuda e o Evangelho
Filme preferido: Sunshine
Estilo musical predileto: Música eletrônica, pop rock e algo trash
Time: Não tenho time do coração
Para quem dá nota 10: Para minha mãe, uma pessoa que faz falta todos os dias em minha vida
Para quem dá nota 0: Para a saúde. Quando precisamos de tratamento, precisamos pagar caro para sermos atendidos com um mínimo de dignidade. Zero, também, para a falta de humanismo de alguns médicos
E-mail: zaidandare@uol.com.br