Bairros

Em meio à poluição do rio Bauru, grupo de garças se alimenta

Mariana Cerigatto
| Tempo de leitura: 3 min

Mesmo com a poluição e o cheiro de esgoto no rio Bauru, que percorre as margens da avenida Nuno de Assis, um fato curioso, e de certa forma admirável, chama a atenção de quem passa pelo local. Diariamente, bandos de garças marcam presença na beira do rio à procura de alimento.

As aves são observadas por comerciantes que trabalham na avenida, como o balconista Marcelo Matos, 39 anos, que se confronta com o ambiente degradado todos os dias.

“Durante nove anos, sempre presenciei esses pássaros. Eles ficam, na maioria do tempo, na beira do rio em pequenos grupos e depois saem sobrevoando o local”, descreve Matos. “É um fato que gera estranhamento. Mesmo com uma área tão poluída, o que essas garças fazem ali?”, questiona.

O empresário Ivan Arraes, 35 anos, também constata, todos os dias, principalmente pelas manhãs, as aves sobrevoando as águas poluídas do rio. “Há épocas em que elas aparecem mais, como o verão. No inverno, pelo que já reparei, há uma menor quantidade delas”, atesta.

“É um fenômeno da natureza que faz a gente parar para pensar. Mesmo com toda a poluição, esses animais inocentes persistem em sobreviver no local”, comenta o empresário, que há oito anos trabalha no local.

Fenômeno

A explicação para o fenômeno é dada pelo biólogo do Zoológico Municipal de Bauru Gérson Rodrigues. De acordo com ele, existe uma espécie de garça, conhecida popularmente por garça-branca-grande ou urubu branco (leia mais no texto ao lado), que se adapta facilmente em áreas degradadas, como rios poluídos.

“Esse tipo de garça encontrada no rio Bauru não é muito exigente com a alimentação. Ela se alimenta de peixes e pequenos moluscos que ali existem. Se reproduz facilmente, por isso é fácil de encontrar a espécie em bandos”, esclarece Rodrigues.

Conforme explica o biólogo, a presença da garça-branca não é necessariamente um sinal de que o local está poluído. “Ela não gosta, necessariamente, de ambientes degradados, mas possui capacidade de se adaptar facilmente a eles. Quando o local, mesmo deteriorado, tem a presença dessas aves, é um sinal de que algum tipo de alimento ainda existe ali”, informa Rodrigues.

A quantidade de garças-brancas que passam pelo local pode também servir de indício para “medir” a poluição de um rio, por exemplo.

“De uma área muito denegrida, poluída, essa espécie de garça é o último animal a abandonar o local. Ela só vai embora quando realmente não há mais nenhum alimento, fato que pode representar um indício de que a poluição naquele local aumentou”, afirma o biólogo, que ainda diz existir outros animais que se adaptam a águas poluídas, tais como certas espécies de peixes e o jacaré-de-papo-amarelo.

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Garça-branca

A garça-branca-grande, também conhecida apenas como garça-branca ou urubu branco, é uma ave de vasta distribuição e pode ser encontrada em todo o Brasil. Trata-se de uma ave completamente branca, com bico longo, amarelado e as pernas e dedos pretos.

Mede, em média, 90 centímetros, e a cor da íris de seus olhos é amarela. Se alimenta de presas aquáticas, depois de aproximar-se sorrateiramente com o corpo abaixado e o pescoço recolhido e bicar seu alimento, esticando seu longo pescoço.

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