No dia 29 de novembro, o professor Alberto Consolaro escreveu um artigo no JC “Ciência no dia a dia” com o título: “Cérebro: precisa ser alfabetizado?”. Caríssimo sr. professor Alberto Consolaro. Vejo com bons o-lhos o objetivo geral do texto. O tema abordado é de extrema relevância para os nossos dias. Discutir política, inteligência, sabedoria e analfabetismo, é muito saudável. Todavia, professor, o senhor cometeu um grave erro. O Jesus histórico não deveria ter sido fonte para ilustrar seu artigo. Embora Jesus não precise de defesa, a sociedade merece algumas ponderações sobre o assunto. O senhor argumentou o seguinte no texto: “Mas a bíblia sagrada em nenhum lugar descreve, cita ou demonstra, mesmo que indiretamente, a figura de Jesus lendo ou escrevendo. Sim, as evidências revelam nas escrituras sagradas que Cristo não sabia ler e nem escrever”. Qualquer cristão assíduo leitor da Bíblia perceberá que as considerações supracitadas foram estranhas e obtusas. Nem a Bíblia Protestante, ou outro cânon, nem qualquer outra tradução que conheço, muito menos os manuscritos gregos podem estribar suas afirmações a respeito de Jesus, o Cristo. Até mesmo historiadores como Josefo, Tácito e outros do primeiro século não arriscaram fazer tais afirmações sobre Jesus. Os teólogos modernistas, nem mesmo os liberais se atreveram a afirmar tanta grosseria. Albert Schweitzer espantou o mundo teológico com a obra sobre O Jesus Histórico. Todavia, não se aventurou em questionar a escolaridade de Jesus. Alguns autores, como Eugene Peterson e Joachim Jeremias, chegaram a afirmar que Jesus teria crescido entre a comunidade dos Essênios, um grupo judaico que formava profetas e vivia nas cavernas de Qunram, às margens do Mar Morto. Nessa comunidade Jesus teria lido e estudado inúmeros manuscritos do AT, já que era a cultura monástica da comunidade essênia.
Gostaria de saber as fontes consultadas para fazer tantas afirmações infundadas. Jesus sabia ler e escrever e a Bíblia não apenas aponta esse fato indiretamente, mas diretamente também. São evidências que contradizem sua afirmação no texto em pauta. Jesus sabia ler e escrever, com absoluta e inquestionável certeza! Dos quatro idiomas conhecidos no primeiro século na região da Palestina, Hebraico, Aramaico, Grego e Latim, Jesus conhecia os três primeiros, já que o último era utilizado nos círculos políticos romanos e militares.
Jesus era Judeu, pois seus pais, José e Maria, também eram. A criança judia balbuciava as primeiras palavras da Toráh (instrução no hebraico). Geralmente, já estavam alfabetizadas no Hebraico aos 7 anos. Os judeus sempre foram rigorosos no ensino do Hebraico, pois é um idioma sagrado. Jesus não poderia deixar de falar e escrever no seu idioma religioso.
Jesus falava e lia aramaico. Joachim Jere-mias, um reconhecido exegeta católico, ensinou a respeito dos aramaísmos e hebraísmos no NT. Ele chegou a traduzir alguns textos gregos para o aramaico, a fim de interpretar os significados das palavras proferidas por Jesus. Ainda afirmou o seguinte: “Deve-se dizer ainda mais exatamente que a língua materna de Jesus é o dialeto Galileu do aramaico ocidental”1. Por exemplo, no Evangelho de Mateus, escrito para uma comunidade de judeus cristianizados, utiliza-se de aramaísmos, hebraísmos e semitismos em abundância. Em Marcos, Evangelho mais primitivo e base para redação de Mateus, Lucas e João, Jesus utilizou palavras como: talitha qum (Mc 5,41), corbán (Mc 7,11), effatha (Mc 7,34), geenna (Mc 9,43), abbá (Mc 14,36), Eloí, Eloí, ¿lemá sabactháni? (Mc 15,34), que provam o domínio desse idioma. Esse era o dialeto coloquial naquele tempo, comumente falado e escrito por Jesus e os discípulos.
Jesus provavelmente também conhecia o Grego. Naquele tempo, esse idioma era utilizado na política e no comércio, sobretudo na filosofia pós-socrática nos meios escolásticos. Após o domínio de Alexandre, o Grande, a Palestina tornou-se palco da cultura, pensamento e idioma grego. O Novo Testamento foi redigido e transmitido nessa língua. Jesus precisaria conhecer o dialeto, por exemplo, para dialogar com Pilatos.
Jesus fora reconhecido como Rabi (Mestre) em vários textos Bíblicos. No judaísmo, o Rabi é alguém que conhece as Escrituras do AT e ainda, a tradição rabínica. Jesus conhecia profundamente os textos do Antigo Testamento. No Evangelho de Lucas, capítulo 4, versos de 16, 17 e 20 se lê a respeito de Jesus: 16 Chegando a Nazaré, onde fora criado; entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. 17 Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; e abrindo-o, achou o lugar em que estava escrito: (...) 20 E fechando o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
Ainda há outros textos para comprovar Jesus lendo, inclusive escrevendo. Jesus não precisaria saber ler e escrever para ser admirado por todos, entretanto ele sabia e muito bem. Embora não queira apenas ser admirado ou usado como amuleto para passar num concurso, Jesus quer ser seguido por verdadeiros cristãos. Portanto, com muita probabilidade, Jesus não era apenas alfabetizado, como também trilíngue. Enfim, que Jesus seja mais que admirado. Seja seguido, amado e adorado, como Salvador do mundo, Senhor das eras e governador do Universo!
O autor, reverendo Thiago Gigo Pereira, é pastor da Quinta Igreja Presbiteriana Independente de Bauru - thiagogigo@hotmail.com