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Mulher pode desenvolver próstata, revelam pesquisas

Vinicius Lousada
| Tempo de leitura: 3 min

Estudos indicam que, ao contrário do que muitos pensam, a próstata pode não ser um órgão exclusivamente masculino. Pesquisas sugerem que o desenvolvimento da glândula em mulheres pode estar ligado a alterações hormonais de origem patológica, por meio de terapias de reposição e pelo uso de anabolizantes. Além disso, a existência da próstata feminina explicaria casos de lesões na região da uretra que não são devidamente diagnosticadas e poderiam ter relação com o câncer de próstata feminina.

Doutora em biologia celular, a bauruense Sabrina Rochel vai se dedicar a estudos nessa área em seu pós-doutorado na Universidade de Houston, nos Estados Unidos. Ela explica que existem registros de 1906 que evidenciam a existência da próstata feminina. "Essa ideia já é relativamente bem aceita entre pesquisadores, mas pouco conhecida pela medicina", constata.

Segundo Sabrina, por muito tempo a chamada glândula de Skene, localizada em torno da uretra, foi tratada como um órgão vestigial, que não exercia qualquer tipo de função no organismo feminino. No entanto, estudos realizados em gerbilos, uma espécie de esquilo que vive na Mongólia, foi constataram que essa glândula presente nas fêmeas produz um fluido semelhante ao que é excretado pela próstata masculina na composição do sêmen.

O desenvolvimento da próstata masculina depende da testosterona, o que não ocorre nas mulheres devido a ausência dessa substância. No entanto, o órgão poderia se desenvolver na idade adulta caso haja alterações hormonais no organismo feminino. A pesquisa de Sabrina Rochel com gerbilos comprovou a relação do desenvolvimento da glândula com a composição hormonal. "Mostramos que há alterações na próstata feminina no período do ciclo menstrual, mas não sabemos ainda qual o impacto disso na reprodução desses animais", explica.

Sabrina conta que a espécie de roedor foi escolhida para os estudos porque 50% das fêmeas apresentam próstata. Nos experimentos, foram administradas doses de testosterona e constatou-se o aumento no tamanho da glândula e o desenvolvimento de lesões pré-malignas. "Nos gerbilos, o desenvolvimento dessas lesões tem relação com a idade avançada das fêmeas", aponta.

No caso das mulheres, o desenvolvimento da próstata e possíveis lesões no local podem ser consequências de alterações hormonais causadas por patologias, como o hiperandrogenismo, que ocorre quando há dosagem elevada de testosterona no organismo feminino. "Acredito que todas as mulheres possuam o resquício da próstata, mas nem todas desenvolvam o órgão", explica.


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Prazer sexual

Por conta da produção de um líquido protético semelhante ao excretado pela próstata masculina, estudos do professor Hernandes Carvalho, coordenador do curso de farmácia da Universida Estadual de Campinas (Unicamp), indicam que a próstata feminina estaria associada com a chamada ejaculação feminina. A pesquisa aponta que o órgão poderia estar ligado também ao polêmico Ponto G, zona erógena que seria responsável pelo orgasmo das mulheres.

No entanto, a pesquisadora Sabrina Rochel garante que nada disso é cientificamente comprovado. "Já li algumas coisas a respeito, mas os estudos precisam ser aprofundados", afirma.


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Hormônios

Além disso, é necessário dedicar atenção a atletas que possam fazer uso de anabolizantes, a transexuais submetidos a tratamentos hormonais complementares e a mulheres que lançam mão de terapias de reposição hormonal durante a menopausa.

"Não existem casos registrados como câncer de próstata feminina, mas as evidências apontam que muitas lesões podem estar sendo tratadas como câncer de uretra ou até mesmo classificadas como desconhecidas, mas são, na verdade, câncer de próstata", afirma a pesquisadora.

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