Na década de 50, o trem parava na estação Itatingui para carregar lenha, banana, leite e outros itens para serem levados para Jaú. Os produtos eram transportado para todo o Estado de São Paulo. Nessa época, o bairro de Pederneiras era composto de inúmeras propriedades rurais. As crianças tinham escola própria, o armazém tratava de suprir a despensa das casas enquanto o salão de baile cumpria o item divertimento.
Hoje, da estação de trem restou apenas o prédio, a placa e as recordações de quem viveu os áureos tempos do bairro. Outros imóveis, como um ocupado pela família da dupla Craveiro e Cravinho, famosos no meio musical sertanejo, ainda estão em pé. Alguns vazios e outros ocupados apenas por dois moradores fixos de Itatingui.
O bairro, que, atualmente remonta mais lembranças do que atualidades, tem duas festas tradicionais, uma em abril e outra em agosto. Nessas ocasiões é que o bairro recebe ?visitas? tanto de ex-moradores como de moradores de toda a região. Nos finais de semana, o bairro recebe times de futebol para uma boa pelada. É o momento que o único bar fatura. Nos demais dias do ano, Itatingui é um bairro ?fantasma?.
O antigo armazém de Itatingui está sendo ?tocado? pela 2a geração da família Lima. "A venda começou com meu pai há quase 40 anos quando ele adquiriu o estabelecimento. À época era um armazém de sortidos. Tinha arroz, feijão, açúcar, um pouco de tudo que as famílias consumiam."
Dos tempos áureos restou pouca coisa. Os balcões e as prateleiras de madeira, uma frondosa árvore que abriga uma mesa e cadeiras para o churrasco após o jogo e um ?estacionamento? para cavalos. As prateleiras vazias e as poucas mercadorias expostas no balcão sinalizam que o bairro rural está decadente.
Nadir Simões é filho da terra e há 30 anos responsável pela conservação da igreja de São Luiz Gonzaga que anteriormente foi uma capela de mesmo nome e de menor tamanho. Ele lembra com saudade do tempo em que o trem chegava de Pederneiras e era carregado na estação Itatingui.
"Aqui tinha muitos sítios e todo mundo vivia aqui. Esses espaço eram lotados de casas. Só restou a ?venda? que é tocada pelo filho do dono. A casa do feitor está vazia. Na estação morava o chefe da estação. A festa em louvor ao santo tinha só uma barraquinha, mas vinha muita gente de toda a região."
Segundo ele, os antigos moradores de Itatingui estão morando em Agudos, Campinas, Lençóis Paulista, Pederneiras e Jaú. "Antigamente nas propriedades havia gado, plantação de café, mas tudo foi arrendado para a cana. Aqui tem a algodoeira Lopes que beneficia algodão, mas nos últimos anos, com o preço em baixa, também não funciona a todo vapor", comenta.
No álbum de recordações de Simões também figuram as cenas de quando criança ter aberto um guarda-chuva dentro do trem. "O trem era de madeira e tinha muita goteira, então usávamos o guarda-chuva". Outra lembrança do morador é quanto as salas de aula da única escola. "Eram duas salas, uma para meninos e outra, para as meninas. O professor dava aula para os meninos e a professora para as meninas."
O clube recreativo de Itatingui foi palco de inúmeros eventos, recorda o antigo morador. "A inauguração foi com a dupla João e Ditinho, irmãos dos Craveiros. Ultimamente o local era utilizado para alojamento de trabalhadores rurais."
Alfredo Guedes é uma minicidade dentro de Lençóis
O bairro de Alfredo Guedes, no município de Lençóis Paulista, surgiu com a ferrovia. Região rica em café à época, tinha na estação ferroviária o transporte ideal para que a mercadoria chegasse até o porto de Santos. O prédio da estação ainda existe, mas está em péssimas condições estruturais. O distrito hoje acolhe cerca de 700 moradores que trabalham com a cana-de-açúcar. O povoado é contemplado com toda a infraestrutura necessária para o atendimento básico, uma minicidade dentro de um município.
No orçamento municipal, R$ 355 mil estão destinados ao local. A verba é da Diretoria administrativa para despesas de pessoal, despesas corrente e investimentos. Por ser um bairro, não tem subprefeitura e sim um coordenador da vila.
Da época do café pouco restou em Alfredo Guedes além de lembranças gravadas na memória de alguns moradores. Atualmente a Usina Zilor é a maior empregadora. Recentemente, uma fábrica de doces que ocupava uma espaço na incubadora de empresas de Lençóis Paulista mudou-se para o distrito.
O coordenador Walterlei de Camargo conta com satisfação que Alfredo Guedes tem escola, creche, posto de saúde, centro educativo, farmácia, padaria e açougue, só falta um hospital. Em pouco tempo, comenta ele, o distrito passará a ser conhecido em toda a região. Isso porque um empresário de Lençóis vai abrir um restaurante típico e um hotel fazenda no local anteriormente ocupado por uma empresa de beneficiamento de arroz.
"É um restaurante de comidas típicas. Turistas poderão conhecer melhor Alfredo Guedes. Temos um posto policial, mas é muito tranquilo. Tem um baixo índice de criminalidade, todo mundo se conhece. A maioria das famílias que vivem aqui ainda mantém costumes rurais. Possuem árvores frutíferas e horta no quintal. Tem alguns que ainda possuem fogão a lenha e fazem o pão em casa."
A área urbana é cortada pela linha de trem, e a parte baixa, como é chamada, sofre com alagamento nessa época de chuva. "Essa é a nossa preocupação atual."
Ele lembra que até o ano passado a estação estava ocupada por famílias que invadiram o local. "A prefeita conseguiu encaixar as sete famílias em um programa do CDHU e hoje elas moram em outro local."
As duas igrejas, a São Bom Jesus e a São Benedito cuidam da religiosidade dos moradores. "Todos os domingos têm missa. Um padre de Lençóis vem para cá para a celebração. No mês de agosto é a festa em louvor a São Bom Jesus e várias barracas são montadas, tem quermesse e almoço. Ocasião que recebemos muitos visitantes."
Distrito de Santelmo sofre com problemas das cidades grandes
Santelmo tem 1.700 moradores e fica a 20 quilômetros de Pederneiras, município que administra o distrito. Apesar de ser um povoado considerado pequeno sofre com problemas de cidade grande. Conseguir uma casa para morar demora pelo menos 60 dias, não há moradias para locação e venda. A ausência do Estado, não há posto policial, está fazendo com que a criminalidade ganhe espaço.
A falta de sinal isola a população do distrito que não conta com os serviços de celular e Internet. Para o comerciante, vereador, presidente da Câmara de Pederneiras, que mora há 16 anos no distrito, Francisco Ricardo de Moura Ferreira, a geografia não ajudou a conectar a população ao mundo. "O distrito fica em uma baixada e o sinal não chega."
Segundo Ferreira, já foram feitos vários requerimentos para Anatel. "No ano passado fui até Brasília, no Ministério das Comunicação e ainda não consegui resolver. A prefeitura está estudando com uma empresa de Bauru para implantar uma antena para Internet com a possibilidade de colocar um receptor para captar o sinal de celular."
O acesso ao distrito é um problema que o vereador está lutando para resolver. "A vicinal que liga Santelmo a Pederneiras necessita de recape. "São 8,8 quilômetros que serão recapeados. A reivindicação foi feita ao Projeto Pró-Vicinais do governo estadual, mas ainda não temos previsão de quando o problema será resolvido."
De todas as preocupações do vereador eleito há dois anos como representante do distrito, a segurança é a prioridade. "Desde o primeiro dia de mandato estou tentando trazer um posto policial. Não temos policiamento e tem necessidade. Temos problemas de adolescentes andando de moto sem capacete, empinando o veículo e colocando em risco a vida de terceiros. Temos assaltos, eu mesmo fui assaltado duas vezes e o consumo de drogas tem aumentado. Os consumidores sabem que não tem polícia e migram de Pederneiras para cá."
O distrito, que tem mais de 100 anos, começou a se formar, depois que um fazendeiro doou 20 alqueires de terra para a construção da única igreja católica, a São João Batista que hoje divide espaço com mais quatro protestante.
A população conta com três tipos diferentes de atividades econômicas que em plena expansão admite seus funcionários no próprio povoado. "Temos fazendas de cultivo de laranja, três cerâmicas que fabricam telhas e tijolos e vários barracões de granja."
Com emprego fixo, a população anseia pela casa própria. "Temos um déficit de pelo menos 60 casas. São famílias que têm condições de adquirir um imóvel, mas estão morando em casas alugadas. A população é crescente."
População de Nogueira é decrescente
O distrito de Nogueira já teve muitos moradores quando o trem passava por ele. À época, um laticínio era o grande empregador. O trem não passa mais e o vilarejo tem sete famílias no seu ??quadro? populacional. São quatro ruas onde poucos jovens moram, a maioria são idosos aposentados que procuram sossego.
Para fazer compras, os moradores têm que se deslocar para Avaí ou Bauru, pois no lugarejo não tem armazém, supermercado ou padaria. As poucas crianças estudam em Avaí e são transportadas por uma Kombi. O distrito não tem orçamento próprio. Desde o fechamento do latícinio que pelos cálculos da prefeitura aconteceu antes da década de 60, a população passou a decrescer.
Migração não ocorre só do Nordeste para São Paulo
A migração dos pequenos vilarejos para os grandes centros ocorria e ocorre dentro do Estado de São Paulo e não somente das cidades do Interior do Nordeste para São Paulo e Rio de Janeiro, ressalta o professor de história, Célio Losnak. " O migrante tradicional é aquele que sai do Nordeste para os grandes centros, mas no Estado de São Paulo e Paraná também ocorre esse movimento. Embora no Paraná tenha municípios menores com mais aglomerações rurais."
A mudança de endereço muda também o modo de vida e a cultura do homem do campo. "Ele tende a se incorporar ao universo urbano. A relação com a vizinhança, o trânsito e as atividades de lazer mudam. Para ter acesso a muitos serviços e bens, ele terá que se adaptar. Há uma mudança de valores."
Uma saída mais atual para evitar a migração seria usar esses elementos antigos como atração turística. "Hoje o turismo é mundialmente uma grande fonte de renda. O lugarejo teria que ter um atrativo. Se pudesse explorar uma certa história, a tradição poderia ser interessante. Tem que estudar cada caso."