Tribuna do Leitor

40 anos da morte de Márcio Leite de Toledo


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Neste 23 de março completaram-se quarenta anos da morte de Márcio Leite de Toledo, militante da Ação Libertadora Nacional - ALN, acontecimento até hoje cercado de controvérsias e contradições.

Márcio havia abandonado as faculdades que fazia na cidade de São Paulo, para realizar treinamento de guerrilha em Cuba, sonho de todo jovem revolucionário daquela época.

Destacou-se durante os treinamentos, mostrando persistência, vontade e, principalmente, coerência ideológica. Entretanto, no retorno ao Brasil, a triste constatação de que a luta contra a ditadura caminhava a passos céleres para a derrota. A organização a que pertencia havia perdido sua liderança maior, o ex-deputado baiano Carlos Marighela, os integrantes de seus Grupos Táticos Armados estavam presos, mortos ou exilados. Era necessidade urgente um recuo estratégico na luta.

Assim pensavam os integrantes da Tendência Leninista no Exterior e, desta forma, Márcio começou a pensar e agir. Sonhava, como tantos sonharam, na unificação das organizações de esquerda, visando um salto de qualidade na luta contra a tirania. Suas posições antagônicas às defendidas pela jovem direção da ALN começaram a preocupar os companheiros mais próximos, dentre eles Renato Leonardo Martinelli, o Lobato, e Casemiro Taleics, que insistiram para que o companheiro se retirasse momentamente da organização, esperando a poeira assentar. Pouco antes de sua morte, manteve um encontro com o irmão Mauricio, recém-eleito deputado federal pela Arena que lhe transmitiu a proposta do pai, para que se retirasse do país, pois a repressão estava fechando o cerco.

De nada adiantaram os apelos de camaradas de lutas e de familiares, Márcio seguia de forma persistente na defesa dos ideários que havia abraçado. Certa vez, escrevera aos pais:

"Não vou ficar sentado, esperando pacientemente aquilo que o futuro me reserva e sim vou lutar para ter o futuro que almejo". Não pressentia que o perigo morava ao lado e, decidido a aguardar o retorno dos companheiros que haviam treinado em Cuba e lá saíram da ALN para criar o MOLIPO, resolveu comunicar à direção de que estaria se afastando da organização. Mal sabia que o militante Clemente já havia colocado suas preocupações para o coletivo de que Márcio sabia muito e um dia, quem sabe, poderia vir a trair.

Ao chegar ao "ponto", na pequena rua Caçapava, foi recebido a tiros pelos seus companheiros de luta. Dentre eles Clemente. Opção errada e equivocada, todavia, consumada.

Hoje, Clemente faz autocrítica e nela acreditamos, muito embora não tenha o poder mágico de devolver a vida de Márcio. Triste é saber que enquanto Márcio tombou morto pelas "balas amigas" de Clemente, outro militante da organização, José da Silva Tavares ? Severino ? que comprovadamente levou Joaquim Câmara Ferreira ? Toledo ? à morte, continua vivo.

A esquerda que sobreviveu à ditadura militar não pode continuar a "fazer de conta" que a morte de Márcio não existiu. Sua memória tem que ser devidamente resgatada, como prova inequívoca de que assumimos nossos erros, ao contrário dos adversários.


Antonio Pedroso Junior - chineloneles@hotmail.com

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