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Entrevista da Semana: Selma Lopes: ?Rádio: paixão que vira vício?

Bruna Dias
| Tempo de leitura: 9 min

Tímida e sorridente. Locutora há 21 anos, Selma Lopes começou a trabalhar em rádio com apenas 17 anos, ainda adolescência. A morena, dona de uma "voz de veludo", nunca achou que tinha uma boa voz para trabalhar em rádio. "Apesar de algumas pessoas dizerem que a minha voz é boa eu nunca achei. Até hoje sou muito crítica comigo mesma", confessou, aos risos. Nascida em Garça, ela começou a conhecer e trabalhar com rádio por lá. A profissão, inicialmente, não era uma paixão. "Eu conheço muitas pessoas que nasceram já com o dom, que ouviam muitas rádios diferentes. Eu não era assim. Aprendi tudo que sei trabalhando em rádio. Eu digo hoje que rádio é uma paixão que vira vício", acrescentou.

Selma veio sozinha para Bauru para trabalhar na 96 FM e lá está há 15 anos. Logo, a mãe dela chegou à cidade para morar com ela e o filho Matheus, 13 anos, seu amigo, companheiro e amor incondicional.

Tendo como "palco" e fundo musical, respectivamente, o estúdio da rádio e o programa, que apresenta, em meio a suas locuções, Selma Lopes contou um pouco de sua vida "tímida" e "retraída" à equipe de reportagem do Jornal da Cidade.


JC- Me conte um pouco de você...

Selma- Eu sou muito reservada. Bem tranquila. Gosto de sair, me reunir com os amigos, mas não constantemente. Eu sou da seguinte concepção: é mais importante com quem você está do que onde você está.


JC- Como a rádio entrou em sua vida?

Selma- Eu nasci em Garça e, quando tinha 17 anos, recebi a primeira proposta para trabalhar em uma rádio no lugar dos locutores folguistas. Eles queriam uma mulher que não tivesse uma voz como as antigas locutoras de músicas românticas. Trabalhava nos sábados e domingos à noite e depois comecei a cobrir férias dos locutores e mais tarde fui contratada. Logo na sequência recebi uma proposta de uma rádio em Marília, onde comecei a trabalhar efetivamente.


JC- E você já achava que tinha uma boa voz para ser locutora?

Selma- Não (risos). Eu nunca achei que tinha uma voz boa para ser locutora. Algumas pessoas me diziam isso, mas eu não levava a sério. Até hoje eu sou muito crítica com a minha voz. Às vezes, quando gravo algum comercial penso: poderia ter melhorado ou ter feito de outra forma. Hoje, já penso pelo lado profissional mesmo. Já desencanei.


JC- Atualmente, você trabalha só na rádio?

Selma- Eu trabalho aqui como locutora, gravo comerciais e também gravo comerciais para TV. Trabalho mesmo com a voz.


JC- Você fez algum curso para aprender a lidar com a voz?

Selma- Não fiz. Tudo o que eu sei hoje aprendi na raça mesmo, trabalhando na rádio. Nós já tivemos um acompanhamento com fonoaudiólogo aqui na rádio, mas não faço mais. Quando tenho que entrar pela manhã venho fazendo algum aquecimento e tomo alguns cuidados diários, como, por exemplo, não tomar muito gelado, comer maçã - eu como todos os dias - e também beber bastante água.


JC- Pensou em ter outra profissão?

Selma- Pensei sim. Na verdade, eu nunca imaginei ser locutora porque eu ouvia rádio da mesma forma que as outras pessoas, esporadicamente. Não era uma paixão. Depois que acabou virando um "vício". (risos) Antes, eu acho que eu queria ser aeromoça, comissária de bordo.


JC- Como você vê essa questão de sobreviver da locução, do uso da sua voz?

Selma- Eu acho muito bacana porque eu faço o que eu gosto mesmo. Sou muito feliz por isso. Antes, tinha aquela coisa de será que vai dar certo? Para ser locutora tem que abrir mão de finais de semana e feriados também. Mas tudo que é feito com dedicação e paixão dá certo.


JC- Me fale um pouco de sua família...

Selma- Meus pais se separaram quando eu tinha 12 anos e eu continuei morando com a minha mãe.


JC- E sua mãe sempre te apoiou em sua escolha profissional?

Selma- No início, ela ficou receosa porque os pais sempre pensam que os filhos devem escolher uma profissão que dê muito dinheiro ou uma certa estabilidade financeira. Mas depois ela me apoiou e nunca foi contra. Ela dizia: ?Será que vai dar certo? dá dinheiro??.


JC- Como foi sua vinda para Bauru?

Selma- Eu recebi uma proposta para trabalhar na 96 FM e como já tinha amigos que já trabalhavam aqui e outros que também já tinham trabalhado comigo antes eu topei. No início, eu morava com alguns amigos. Depois resolvi morar sozinha. Depois que o Matheus nasceu, minha mãe começou a vir alguns dias para me ajudar, mais alguns e mais dias. Por fim, acabou ficando e mora comigo até hoje.


JC- E a chegada do Matheus?

Selma- O Matheus chegou em um momento inesperado da minha vida. Eu digo que depois que me tornei mãe acabei encarando a vida de uma maneira diferente. Eu aprendi a ser melhor filha para a minha mãe, por exemplo. Muitas coisas que ela me dizia antes e eu brigava, hoje eu acabo concordando e depois acho que fui chata com o Matheus.


JC- Vocês são bem amigos?

Selma- Nós somos. Eu tenho uma relação boa com ele e eu tenho que entender que ele é um adolescente bem típico, no ápice da fase. Mas ele é um ótimo aluno, um ótimo filho. Às vezes, ele tem umas tiradas do tipo, eu digo a ele: porque você não faz natação, música? E ele me diz: ?Mãe, esse é um desejo seu, você quer que eu realize uma coisa que você queria fazer". (risos)


JC- Esta fase geralmente os meninos sentem ciúme das mães...

Selma- Ele já passou dessa fase de "pagar mico". Da fase que tem vergonha que a mãe dá beijo na frente dos amigos. Agora, ele está mais tranquilo. Nós saímos para caminhar juntos. Também vamos ao cinema. É claro que ele prefere sair com os amigos do que comigo. Mas saímos juntos também.


JC- Vocês se parecem?

Selma- Fisicamente um pouco, mas em temperamento e atitude nós nos parecemos mais. Eu digo que ele é uma versão minha melhorada. (risos)


JC- Ele gosta que você participe de atividades com ele?

Selma- Atualmente, ele só faz street dance. Antes ele fazia natação, futebol e outras atividades. Hoje, eu vivo brigando com ele para ele fazer algo. Então, nessa época eu participava bastante. Hoje, ele só faz o street, mas eu estou sempre presente.


JC- E as amizades?

Selma- Eu tenho muitos amigos. Tenho muitas pessoas especiais em minha vida que eu sei que posso contar sempre. Não vou citar apenas uma porque seria injusta com as outras. Todas são muito especiais.


JC- Você faz alguma atividade física?

Selma- Eu sempre quero fazer atividade física, mas eu tenho que confessar que travo uma briga com a preguiça e tento vencê-la. (risos) Eu tenho uma vontade enorme de praticar corrida. Até comecei por indicação médica porque o médico disse que eu preciso extravasar, apesar de eu me achar muito tranquila. Mas é uma atividade que eu já tinha vontade de praticar. Às vezes, eu corro. Não dá para fazer uma maratona, mas acho que dá para encarar uns três quilômetros (risos). É uma atividade muito gostosa.


JC- Já enfrentou alguma situação inusitada no ar?

Selma- Muitas. Eu já engasguei, solucei, deixei o microfone aberto. (risos) Mas o bom de trabalhar no rádio é que você pode brincar com a própria situação. Eu tenho muita sorte de fazer o que gosto. Rádio é muito gostoso e dinâmico.


JC- Algum apaixonado (a) louco (a) já te ligou chorando?

Selma- Já (risos). Mas isso aconteceu quando eu tinha um programa específico para isso, com uma maior interação com o ouvinte. Pessoas apaixonadas ligavam pedindo músicas, fazendo declarações de amor, pedindo conselhos...


JC- Tem alguma história engraçada com fãs?

Selma- Antigamente, as pessoas associavam uma voz bonita com uma pessoa bonita e tinham mais curiosidade de nos conhecer, pegar telefone, essas coisas. Hoje em dia as coisas estão mais fáceis com as redes de relacionamento, Internet e não existe mais esse mistério. Antigamente, era muito comum as pessoas quererem saber "quem é o locutor". Hoje nem tanto.


JC- O que mais você curte fazer?

Selma- Gosto muito de ler livros, ouvir música, assistir seriados policiais como o CSI-Miami e Dr. House. Eu tenho muita consciência de meio ambiente. Acho isso muito interessante. Sempre separo o lixo para as coletas domiciliar e seletiva e agora, aproveitando uma reforma que estou fazendo na minha casa, estou construindo uma cisterna para armazenar água da chuva para uma posterior reutilização.


JC- Você é vaidosa?

Selma- Não ao extremo. Diariamente, eu digo que não, minha mãe até fala. Mas quando tenho que sair eu costumo me arrumar, sim.


JC- Você tem alguma música que gosta muito apesar de ouvir diversas diariamente?

Selma- Eu gosto de muitas músicas, de muitas bandas como Pink Floyd outros artistas atuais como Jack Johnson, Bruno Mars. Ah, eu gosto muito de Aretha Franklin. Mas tem uma que eu gosto muito que se chama "No pain, no gain", da Betty Wright. Acho que tem um sentido muito bacana também que sem esforço não há ganho. Nós temos que nos dedicar se queremos uma determinada coisa.


JC- Algumas músicas marcam passagens da nossa vida? Você sente saudade de algum momento especial?

Selma- Sim. Nós temos épocas na nossa vida em que temos todo o tempo do mundo. É desse período que tenho saudades. De receber os amigos em casa, de conversar sem pressa, ficar horas no telefone com as amigas, sair a pé sem medo. Hoje, com a Internet, tudo mudou muito. Mas eu digo que, mesmo hoje, não temos nada a perder.


JC- Você tem alguma frase como lema de vida?

Selma- Eu anoto muitas coisas sempre. Dicas de filmes, de livros, músicas que ouvi em filmes e propagandas e que não escuto aqui na rádio. Coloco tudo em papéis e em seguida guardo na bolsa (risos). Tem uma frase que eu anotei e gosto bastante que é: "Quero adquirir mais conhecimento, ter mais consciência, sentimento, humanidade e mais tolerância".


JC- Gostaria de finalizar a entrevista com algum pensamento?

Selma- Tem um pensamento de um livro do autor Eduardo Ferraz que eu gosto muito. Ele diz assim: "Temos que nos abrir para o novo. Aprenda uma nova habilidade, um novo conhecimento, um novo talento e se desfaça dos hábitos que a mantém num casulo, parada no tempo. Aprenda com a natureza. Abra as asas como uma borboleta. Voe alto como as águias. Mergulhe na alegria dos golfinhos e brilhe como o sol em sua vida". Essa frase é do livro "Porque a gente é do jeito que a gente é".


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Perfil

Nome: Selma Lopes

Idade: 38 anos

Local de nascimento: Garça

Signo: Aquário

Filho: Matheus Lopes

Hobby: Ler e assistir seriados policiais e médicos

Livro de cabeceira: "Cem anos de solidão"

Filme preferido: Sociedade dos Poetas Mortes

Estilo musical predileto: Pop rock

Time: Não tem. Torce para a Seleção Brasileira

Para quem dá nota 10: Para a mãe

Para quem dá nota 0: À injustiça

E-mail: locutores@ 96fmbauru.com.br

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