Estou certo de que estar em Roma e ter podido vivenciar intensamente os dias que precederam a morte e o sepultamento do Papa João Paulo II, o João de Deus, para nós brasileiros, foi uma oportunidade e, de certo modo, um privilégio que a Providência Divina me ofereceu. Nesse momento em que as atenções se voltam novamente para Roma, por ocasião da beatificação de João Paulo II, no próximo domingo, tomo a liberdade de partilhar minha reflexão pessoal desse fato histórico. Procurei estar presente nos vários momentos tão bem divulgados pelos meios de comunicação. Tive a graça de ficar 10 minutos diante do corpo do Santo Padre, rezando e agradecendo a Deus o dom de sua vida e vocação. Sua face era serena; seu corpo exposto como sinal de vida que foi consumida pela causa da vida e do amor.
O longo e fecundo Pontificado de João Paulo II ofereceu ao mundo uma preciosa contribuição favorecendo a eliminação de muitos obstáculos geradores de morte, potencializando a cultura da vida e da paz. Ele foi um homem de profunda reflexão e incansável ação. Apontou caminhos, enfrentou crises e dificuldades, sofreu, ficou doente e continuou seu percurso com perseverança e fortaleza invencíveis. Sua morte foi entendida como coroamento e ápice de uma missão cumprida por amor e com amor.
A grande família de Deus se reuniu de modo físico, estando presente, ou espiritual, estando em comunhão solidária, em torno do Sucessor de Pedro, Servo dos Servos de Deus. Havia um sentimento comum de gratidão, afeto e respeito. Diziam que Roma tornou-se novamente a capital do mundo. A presença de milhões de peregrinos, oriundos de diversos países, a chegada de quase duzentas delegações estrangeiras com chefes de Estado, chefes de Governo, reis, rainhas, príncipes e outras autoridades constituídas, a participação das várias Confissões Religiosas e Igrejas com seus respectivos líderes ou representantes, sinalizaram que a concretização de um outro mundo possível é uma proposta viável e em construção. Creio que não foi a cidade de Roma que se tornou o centro do mundo, mas sim a esperança que a partir de Roma se tornou visível para todos. João Paulo II que tanto insistiu na globalização da solidariedade, com sua vida, missão e morte conseguiu globalizar de modo muito palpável a esperança.
A multidão durante a missa-funeral pediu "santo subito". A Igreja, contudo, seguiu o processo para uma beatificação. Não bastava a fama de santidade que João Paulo II tinha entre o povo. Era necessário um processo rigoroso, um milagre e o decreto para a beatificação. Foi o que ocorreu no período de seis anos. Resta ainda, após a beatificação, a comprovação de um outro milagre, atribuído a sua intercessão, para que João Paulo II torne-se santo, como era e é o desejo do povo de Deus.
Todos os fatos e expressões, ocorridos e manifestados naqueles dias, contribuíram certamente para potencializar a virtude da esperança. Abramos, com coragem, o livro do Evangelho, colocado sobre a urna fúnebre que acolhia o corpo de João Paulo II. O vento forte que virou suas páginas e o fechou simbolizava a esperança que soprava abundantemente naquela manhã primaveril e pascal. Ninguém ousou tocar naquele livro sagrado. Foi respeitada a decisão do sopro-esperança. O vento o fechou para que cada um pudesse abri-lo livremente, com a convicção de que nele existe uma proposta segura e viável, pautada no amor que quer estar em ação por meio do nosso empenho incansável e quotidiano. João Paulo II foi um infatigável trabalhador. Não é por acaso que sua beatificação acontecerá no Dia do Trabalho, celebrado em todo mundo. Sigamos trabalhando, com fortaleza invencível na messe do Senhor, produzindo e colhendo bons frutos para a vida do mundo. João Paulo II, muito obrigado por potencializar em nós fé, esperança e amor! Sua beatificação oferece-nos uma preciosa ocasião para retomar o seu rico legado atual e oportuno.
O autor, Luiz Antonio Lopes Ricci, é sacerdote