Auto Mercado

Dr. Automóvel: A embreagem

Consultoria: Marcos Serra Negra Camerini*
| Tempo de leitura: 4 min

A embreagem ainda é grande maioria na frota brasileira, pois só recentemente tivemos a introdução dos câmbios automáticos em larga escala no mercado nacional, oferecidos como opcionais de fábrica pelas montadoras locais e na quase totalidade dos importados. Apesar dela ser conhecida há mais de 100 anos, alguns motoristas ainda dirigem mal e fazem mau uso dela.

A embreagem é um componente importantíssimo do sistema de transmissão, pois conecta e desconecta o motor ao câmbio conforme nossa necessidade. Consiste de um disco com material de atrito e uma tampa metálica (parafusada ao volante) que contém um disco de pressão chamado platô e um sistema de molas e alavancas. Hoje em dia geralmente se usa uma mola do tipo diafragma, também conhecida como "chapéu chinês", que pressiona o platô contra o disco de embreagem e este sobre o volante do motor, permitindo a transmissão do torque do motor para a transmissão e desta para as rodas. Ao pisar no pedal da embreagem, um sistema de alavancas afastará o platô do disco de embreagem e este do volante, desconectando o motor da transmissão e cessando a transferência de torque. Ao soltar o pedal, a mola diafragma pressiona novamente o platô sobre o disco de embreagem e este sobre o volante, restabelecendo o contato.

Existem vários tipos diferentes de embreagem, cada uma com uma aplicação específica. O sistema mais comum nos carros de rua (que incluem automóveis, picapes, ônibus e caminhões) é a chamada embreagem monodisco a seco, que consiste de um único disco de embreagem que trabalha seco, ou seja, limpo e com ar ambiente. Se vazar óleo do motor ou penetrar sujeira ou umidade dentro da carcaça da embreagem (também conhecida como "caixa seca"), o disco poderá deslizar e não transmitir adequadamente o torque, efeito conhecido popularmente como "embreagem patinando". O mesmo acontece quando o disco se desgasta e fica mais fino, não recebendo a pressão suficiente da mola para exercer pressão sobre o volante.

Outro tipo mais usado em veículos esportivos de alto desempenho é o conhecido como embreagem dupla, como o próprio nome indica, consiste de 2 conjuntos multidiscos de embreagem e permite a troca mais rápida de marchas em motores de alto torque.

Já as motocicletas têm outra característica construtiva, como baixo peso e motores mais potentes proporcionalmente, dando uma melhor relação peso-potência. Como também têm limitação de espaço físico no motor, não dá para instalar uma embreagem com discos grandes que forneçam a área de contato ideal para a transmissão do torque. Assim, opta-se por um sistema multidisco (podem chegar até 8 discos pequenos) a banho de óleo, o que serve tanto para resfriamento dos discos quanto para oferecer uma suavidade de troca de marcha e maior durabilidade do conjunto. É interessante dizer que os discos de atrito trabalham imersos em óleo lubrificante, o que seria um contra-senso total. O material de atrito usado nestes discos funciona assim mesmo, transmitindo torque mesmo quando imersos em óleo. Algumas motos pequenas ainda usam a embreagem centrífuga, onde contrapesos pressionam o disco contra o platô conforme aumenta a rotação do motor.

Como todo componente móvel em contato com outro gera atrito, a embreagem também gasta e precisa ser trocada de tempos em tempos. O que determina sua troca é a espessura do disco de embreagem, que quando chega a um limite começa a patinar, além de deixar o pedal mais duro. Os fatores que geram mais desgaste na embreagem são o mau uso do pedal e o excesso de carga em rotações inadequadas. É comum vermos no trânsito pessoas aguardando a abertura do semáforo com a primeira marcha engatada e segurando na embreagem com o pedal pressionado. Desta forma, eles estão forçando o rolamento da embreagem, diafragma e disco a toa. Depois saem com o carro e logo 3 metros à frente já colocam a segunda marcha... O motor ainda está em marcha lenta e começa a dar trancos na embreagem. O que espera com isso, economizar combustível? Pois acontece o oposto, já que o motor ainda não tem força suficiente e acaba consumindo mais. Experimente esticar um pouco mais as marchas e sentirá melhoras. Outro erro comum é dirigir com o pé esquerdo descansando sobre o pedal, o que é totalmente errado já que força o sistema. São estas bobeiras que fazem com que se tenha que trocar o conjunto embreagem antes do prazo normal, gerando gastos desnecessários.

Comentários

Comentários