O choque de um veículo contra um estabelecimento comercial na quadra 29 da rua Rio Branco, esquina com a rua Elzeário Barbosa, zona sul de Bauru, tirou a vida do comerciante Gustavo Lambertini Rineri, de apenas 23 anos, na madrugada de ontem. O condutor do veículo, Lucas Aguirra, teria perdido o controle da direção após passar em uma valeta.
Além de Gustavo, outros quatro jovens estavam no Gol, ano 1985, no momento do acidente. Até o fechamento desta edição, o caso mais grave era o de Lucas Aguirra, 20 anos, que dirigia o carro no momento do acidente. Ele está em coma induzido na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base (HB).
Os demais jovens foram atendidos no Pronto-Socorro Central (PSC). Junto com o motorista do carro, José Adolfo Rosica Júnior, 23 anos, também foi internado no HB. As últimas informações dão conta de que ele apresenta estado de saúde estável e está no quarto.
Lucas, porém, foi ferido na cabeça e, pela manhã, apresentava dificuldades para lembrar do ocorrido e não conseguia urinar. De acordo com informações do hospital, ele sofreu traumatismo craniano encefálico (TCE) leve.
Os namorados Luiz Gustavo Motta Fonzir, 20 anos, e a adolescente M.C.C., 16 anos, também estavam no veículo no momento do acidente, mas tiveram apenas ferimentos leves.
Fatal
O acidente teria sido ocasionado pela perda do controle do automóvel por parte do condutor, que seguia pela rua Rio Branco, via de sentido único, quando ocorreu o choque contra o estabelecimento após passar sobre uma valeta na rua. Um médico que mora em frente ao local dos fatos ajudou no socorro dos jovens.
O ponto já foi palco de outros acidentes graves, segundo moradores (leia mais abaixo). Gustavo Lambertini Rineri, que estava no banco do passageiro do carro, não resistiu à colisão e morreu no local do acidente.
A mãe do jovem que dirigia o veículo - e que segue internado na UTI do Hospital de Base -, Leonilda Batista, conversou com a reportagem do JC ontem e disse estar bastante abalada com o acidente. Por conta de alterações na pressão arterial, ela sequer conseguiu ir ao hospital, mas confirmou o estado de saúde do filho, que será submetido a uma avaliação neurológica e exames clínicos.
Leonilda disse que não sabia onde seu filho estava na madrugada de ontem e afirmou não conhecer nenhum dos outros jovens que estavam com ele no veículo. A mãe do motorista garantiu ainda que Lucas não consome bebidas alcoólicas e tem habilitação para dirigir.
"Tudo muito rápido"
Demonstrando confusão mental, a adolescente que estava no carro no momento do acidente relatou à reportagem do JC, por telefone, que seus amigos e ela estavam em um churrasco quando, por volta das 2h30 da madrugada, saíram para buscar um baralho.
"Não me lembro de muita coisa, foi tudo muito rápido. Sei que estávamos um pouco rápido, e depois do choque, eu não conseguia sair do lugar", diz.
Outro caso
Antes da colisão registrada na madrugada de ontem na quadra 29 da rua Rio Branco, o último episódio trágico envolvendo acidente de carro dentro da cidade havia ocorrido no feriado de Corpus Christi, que resultou na morte da diarista Vanessa Menezes dos Santos, 27 anos.
Ela - que não tinha habilitação para dirigir - invadiu a calçada da quadra 19 da rua Salvador Filardis, na Vila Industrial, passando por cima de uma lixeira de ferro e colidindo o veículo contra um poste de iluminação. Três ocupantes do Ford Ka ficaram feridos. Entre eles, havia uma criança de 9 anos.
Jogadores do Itabom vão ao velório
Aos 23 anos, Gustavo Lambertini Rineri, que faleceu ontem no acidente ocorrido com o veículo em que estava com amigos, era um jovem engajado nas causas em prol do meio ambiente, estudante de cursos relacionados à biologia e que tinha uma grande paixão: o basquete.
"A grande alegria dele era o basquete. Na semana passada chegou a viajar a Limeira para ver o Itabom/Bauru jogar, deixando a mãe no dia de seu aniversário", conta Clodoaldo Gazzetta, tio de consideração da vítima. "Na verdade sou primo da mãe dele, mas como ela foi criada como irmã, o Gustavo era como um sobrinho pra mim. Ele era um garoto nota dez".
A trágica notícia da morte de Gustavo abalou profundamente familiares e amigos, que compareceram ao velório do jovem ontem na Vila Falcão. "A gente sempre vê nos jornais, mas nunca acha que isso vai acontecer na nossa família. É muito triste", disse Clodoaldo.
Mais velho de três irmãos, o jovem, que trabalhava em um estacionamento em frente à Prefeitura Municipal, foi sepultado com a camisa da equipe de basquete bauruense, que esteve representada ontem no velório por jogadores e comissão técnica.
"Foi um choque para todo mundo. Ele era um dos torcedores que mais incentivavam o time", disse o auxiliar técnico Hudson Previdello, que deve comandar a equipe hoje em Santos no lugar de Guerrinha. Além dele, jogadores como Jeff, Fischer e Larry Taylor estiveram no velório do jovem que fazia parte da torcida organizada "Fúria". Na partida de hoje contra a equipe santista, o Itabom/Bauru deve prestar uma homenagem ao torcedor Gustavo Lambertini Rineri.
Valeta sem sinalização vira ?rampa fatal?
A combinação de alta velocidade com uma valeta sem sinalização na altura da quadra 28 da rua Rio Branco é tida como o principal motivo do acidente que tirou a vida do jovem Gustavo Lambertini Rineri na madrugada de ontem. Mas o fato não é novidade. Morador da quadra 2 da rua Elzeário Barbosa, defronte ao estabelecimento que foi atingido pelo carro no acidente de ontem, o médico Tabajara Trindade, 60 anos, relata ter presenciado outras tragédias no local.
"Nessa rua já foram uns cinco acidentes. Só no meu muro foram duas batidas fortes. O mais grave aconteceu com uma moto que acabou deixando o motorista tetraplégico. Infelizmente, desta vez acabou levando a vida de um rapaz", conta o médico, que mora no local há 20 anos e foi o primeiro a atender o acidente na madrugada, acionando o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
"Sempre é um grande susto. Imagine que tenho três filhos jovens, um de 22, um de 21 e uma filha de 18 anos. Eles estavam na rua na hora do acidente. Foi um susto enorme".
O morador conta que a falta de sinalização já é de conhecimento dos órgãos públicos, mas que até o momento, nada foi feito. "Infelizmente no Brasil é assim, precisa morrer alguém para tomarem as providências. Falo como médico e como cidadão bauruense, porque acho que a cidade não merece uma incompetência do Executivo e nem do Legislativo. Talvez se o poder público tivesse feito a parte dele, hoje não precisaríamos estar lamentando", desabafa.
Trindade explica que muitos motoristas desavisados e que não conhecem a região são surpreendidos pela valeta. "Foi o que aconteceu desta vez. O motorista vê uma rua livre, de madrugada, e acaba indo um pouco mais rápido. Quando cai na valeta, acaba rampando e perde o controle. Mas aqui é assim, parece que o governo faz o efeito Robin Hood inverso. Quando foi pra ajudar o pessoal dos prédios e fazer a rua (Elzeário Barbosa) de mão única, não pensaram duas vezes. Agora o trânsito aqui ficou crítico. Todos que saem da Praça Portugal para chegar à Getúlio Vargas passam por aqui. O incompetente sistema viário de Bauru precisa de pessoas habilitadas em seu comando."
Prejuízo material
Ainda ontem, por volta das 14h30, quando a reportagem do JC novamente esteve no local do acidente, dois pedreiros já trabalhavam na reconstrução do prédio que teve sua fachada totalmente destruída com o acidente, na quadra 29 da rua Rio Branco.
"Vou gastar no mínimo uns R$ 5 mil e só devo voltar ao atendimento na semana que vem. Mas isso é o prejuízo financeiro, o pior foi o acidente que acabou tirando a vida de um jovem", comenta Thiago Aidar Moreira, 26 anos, proprietário do estabelecimento há dois anos.
Sem seguro, o empresário, que foi avisado do ocorrido com o soar do alarme na hora do acidente, conta que além da porta de ferro completamente arrancada, parte do muro foi destruída pela batida. "Estou sem dormir desde as 2 horas da manhã. É muito triste e complicado. A gente nunca espera isso", diz.
