Regional

Médicos são afastados de hospital

José Maria Tomazela
| Tempo de leitura: 4 min

Botucatu - Os médicos Reinaldo Volpi, ortopedista, e Emanuel Castilho, otorrinolaringologista, flagrados batendo o ponto e abandonando os plantões no Hospital das Clínicas de Botucatu (100 quilômetros de Bauru), foram afastados de seus cargos, informou ontem a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. A medida foi tomada preventivamente e uma sindicância foi aberta para apurar a denúncia de não cumprimento das jornadas de trabalho.

Médicos contratados para dar expediente no Hospital das Clínicas de Botucatu marcam o ponto e não atendem os pacientes que lotam a sala de espera do hospital público. Eles voltam para a rua para fazer compras, atender em clínica particular e até malhar numa academia de ginástica, enquanto os doentes esperam horas pelo atendimento. O Ministério Público de São Paulo vai investigar as irregularidades, mostradas pela TV Globo. O HC está sob a administração da Secretaria da Saúde do Estado.

As imagens, captadas com uma câmera escondida, mostram o médico ortopedista Reinaldo Volpi, que recebe entre R$ 7 mil e R$ 8 mil mensais por uma jornada diária de oito horas, marcando o ponto no relógio digital às 7h da manhã e seguindo direto para uma academia de ginástica localizada no mesmo bairro do hospital. Uma hora depois, ele deixa a academia e vai para casa. De acordo com a reportagem, Volpi não cumpre a jornada porque tem outro emprego. Ele também é contratado para dar atendimento em um ambulatório do Sistema Único de Saúde (SUS), em plantões de quatro horas diárias, também não cumpridos integralmente.

O ortopedista só retorna ao Hospital das Clínicas às 15h para fechar o ponto no marcador digital. No dia em que foi acompanhado pela reportagem, ele não atendeu um paciente sequer. O médico otorrinolaringologista Emanuel Castilho também não cumpre a jornada de oito horas para a qual foi contratado. No dia 4 de agosto, ele marcou o ponto às 5h45 e quatro horas depois foi atender em sua clínica particular. No trajeto, passou por uma feira livre para comprar frutas, legumes e verduras. Às 14h55 ele voltou para o hospital para fechar o ponto.

A médica Lara de Toledo Curceli, que deveria trabalhar das 18h às 22h na central de vagas do hospital, também não foi encontrada no serviço. Ela justificou sua ausência alegando que tem autorização da chefia para trabalhar em casa. O chefe de Lara é seu próprio marido, Emílio Curceli, superintendente do Hospital das Clínicas. Ouvido na ocasião, ele disse que os casos de médicos que não cumprem o horário são isolados. "Não é uma prática corrente no hospital e não é uma prática tolerável", afirmou.

Ontem, nem Curceli nem os médicos falaram com a reportagem. A reportagem foi orientada a se dirigir à assessoria de imprensa da Secretaria da Saúde do Estado.


Sindicância


Em nota, a Secretaria informou que o Departamento Regional de Saúde de Bauru abriu sindicância para apurar a atuação da servidora Lara Toledo Martins Curceli. "A funcionária trabalha atualmente na regulação de vagas não urgentes, sendo responsável pelas autorizações de internação de pacientes em um grupo de hospitais da região. Trata-se de um serviço integralmente online", informa a nota. "Caso seja constatada qualquer irregularidade, o DRS irá adotar as sanções administrativas cabíveis."

Ainda segundo a nota, o hospital abriu sindicância para apurar a denuncia de não cumprimento das jornadas de trabalho por dois médicos do corpo clínico - Volpi e Castilho -, e todas as medidas administrativas cabíveis serão tomadas. "Após a instauração da Comissão de Sindicância, que está prevista para ser publicada nos próximos dias no Diário Oficial, os médicos envolvidos serão afastados preventivamente, nos termos da lei. Ressalta-se ainda que os dois médicos envolvidos são servidores públicos federais."

Segundo a informação da Secretaria, o Hospital das Clínicas de Botucatu promoveu em junho deste ano uma auditoria com relação aos plantões médicos realizados na unidade e na ocasião não foi encontrada qualquer irregularidade.

O Ministério da Saúde informou que os dois médicos são concursados no serviço público federal, mas estão cedidos à Secretaria Estadual, à qual compete supervisionar a jornada de trabalho. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) passou para a administração do Estado em janeiro deste ano. O hospital conta com 210 médicos, a maioria docente, e atende mais de mil pacientes por dia.

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