Cultura

Morre Manito, ícone da Jovem Guarda que morou em Bauru

Mariana Cerigatto e Roger Marzochi
| Tempo de leitura: 5 min

Morreu ontem, aos 68 anos, o músico e saxofonista Antônio Rosas Seixas, o Manito, que foi integrante da banda "Os Incríveis". O ícone da banda que fervilhou os anos 60 na Jovem Guarda morou por aproximadamente 4 anos em Bauru e também participou da fundação do grupo instrumental "Saxomania" junto com o músico João Cueca, entre vários outros projetos do cenário musical, acumulando um extenso currículo.

Vencido por um câncer na laringe, ele precisou enfrentar uma quimioterapia em 2006. O tumor voltou em 2010, conforme informou Lucinha, companheira há 13 anos do músico, que morreu em casa na tarde de ontem, em São Paulo. "Ele sempre foi um grande guerreiro. Vivemos com empenho para ele se recuperar, tivemos momentos animadores. Isso foi uma libertação e está sendo recebido com alegria. Já está dando o tom, com certeza, está em uma luz aconchegante e recebendo os últimos momentos das pessoas que o quiseram muito bem", declarou Lucinha.

Em entrevista concedida ao Jornal da Cidade, em 2008, Manito falou de sua carreira e de suas inúmeras passagens em Bauru, cidade onde fez bons amigos e mostrou seu trabalho em bares, bailes da cidade e outros eventos diversificados. Em Bauru, morou cerca de alguns anos ao lado de bons amigos, como Edevard Ziotto, mais conhecido como Badê, Luiz Ornelas e vários outros. Deixa cinco filhos: três do primeiro casamento, dois do segundo.

Nascido em Vigo, na Espanha, ele chegou ao Brasil com 9 anos. O pai tinha orquestra na Espanha e o contato com a música foi logo cedo: aos 5 anos. Começou como baterista. Com 18 anos, conheceu o saxofone.

Foi morar em São Paulo e, por quatro anos, esteve em Bauru, onde tocou por várias vezes no Templo Bar. Em seu extenso currículo, estão participações em gravações com Raul Seixas, Rita Lee, Zé Ramalho e até mesmo com a dupla sertaneja Leandro e Leonardo, no sucesso "Pense em Mim". Participou junto ao "Jazz Quarteto" e também da banda Ultraje a Rigor como tecladista. "Sinto profundamente pelo seu falecimento. Ele era um músico que não tem igual. Um músico como Manito nasce apenas a cada cem anos", lamentou o amigo Badê, com quem atuou durante sete anos em apresentações diversas durante sua trajetória em Bauru.

Com "Os Incríveis", Manito permaneceu de 1962 até 1972, quando a banda se separou. Em 1982, o grupo se reuniu novamente, mas mais uma vez se separou em 1992. Com "Os Incríveis", Manito passou pela Itália, Espanha, Portugal, Estados Unidos e Inglaterra. Quando saiu da banda, chegou a montar o "Som Nosso de cada Dia", conjunto que fez a abertura do show de Alice Cooper, no Brasil.

Lívio Benvenuti Júnior, o Nenê, contrabaixista da banda "Os Incríveis" lamentou a morte do amigo. "Ele foi para o outro lado porque estava sofrendo muito. Acompanhei toda sua trajetória, foi muito difícil para ele. É muito chato isso, um grande amigo, perdi um grande cara, é muito difícil. mas venho chorando faz tempo de vê-lo definhando. Graças a Deus ele vai lá pra cima", disse.


Momentos marcantes


"Na década de 80, mais ou menos, ele veio para Bauru atuar em um conjunto da região de Ibitinga, o Musical Pedras. Foi nessa época que o conheci através do empresário Rene Bovolini. Nessa epóca, ele já não integrava mais Os Incríveis", contou Badê. "Tocamos no Templo Bar, nos bailes da cidade e em outros eventos e locais", explicou.

Em Bauru, o grande amigo Badê lembra de momentos emocionantes da trajetória do músico. "Aqui em Bauru me lembro de uma cena marcante, quando ele tocou com saxofone ?Imagine? na inauguração da Praça da Paz", recordou.

"Ele era extravagante, um músico tipo ?Mozart?, era muito capaz, uma raridade. Sempre muito sorridente e alegre", destacou. "Ele se viu obrigado a voltar para São Paulo, pois o centro da música era lá. Sempre foi muito solicitado para atuar nos demais diversos conjuntos", contou.

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"Meu ídolo virou amigo"


Imagine, um certo dia, você se deparar com seu ídolo em um ponto de ônibus de uma pacata cidade do Interior de São Paulo? E melhor: tornar-se amigo dele?

Foi exatamente assim que Manito entrou na vida do músico Luiz Ornelas, que até então tinha o músico apenas como ídolo e acompanhava seu trabalho na banda "Os Incríveis".

"Foi algo surpreendente. Eu jamais imaginaria que isso poderia acontecer. Eu estava passando próximo a um ponto de ônibus em Bauru e avistei Manito. Ofereci uma carona a ele e, a partir daquele dia, começamos uma forte amizade", relatou Ornelas.

Além de amigo, Luiz Ornelas também teve o prazer de poder atuar com o músico nas apresentações em Bauru nas quais era convidado para atuar.

"Fizemos duas apresentações juntos em bares. Foi um enorme prazer, eu tocava violão e o forte dele sempre foi realmente o saxofone. Tocávamos MPB e músicas da década de 60", contou o amigo bauruense.

"Mesmo quando ele foi para São paulo, nunca esqueceu dos amigos do Interior", salientou.

O ídolo que se tornou amigo deixou muita saudade para Ornelas. "Manito foi um artista marcante da Jovem Guarda, um companheiro de verdade. Me lembro quando ia desfazendo o saxofone até que o instrumento ficasse menor, era demais", emociona-se.

Outro ponto forte da personalidade marcante de Manito foi a humildade. "Ele era muito humilde. Quem chegava perto nem imaginava como ele era famoso", assinalou.

"Eu jamais esquecerei o Manito. Foi mesmo uma grande perda. Nunca imaginaria que meu ídolo dos Incríveis viria para Bauru e se tornaria um grande amigo. Uma pena ele ter ido", lamentou.

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