Recife - Um dos principais personagens na apreensão recorde de cocaína no Nordeste, feita neste fim de semana no porto de Suape (PE), Nauê, o cão farejador da Polícia Federal, adoeceu após farejar centenas de sacos de gesso à procura da droga.
Em dois dias de buscas, o pastor alemão de capa preta, de quatro anos, inalou grande quantidade de pó de gesso, passou mal e está em tratamento. "Ele ficou apático, quieto", disse o policial federal responsável pelo animal, José Mário Ribeiro.
Segundo ele, Nauê foi medicado com antialérgicos e passa bem. Ele deverá voltar ao trabalho hoje, no terminal de cargas do aeroporto de Recife.
Filho de um cão farejador de explosivos dos Estados Unidos, Nauê foi treinado em Brasília para encontrar drogas. Na operação em Suape, ele trabalhou sexta-feira e sábado. Identificou os quatro primeiros sacos de gesso onde havia cocaína.
"Quando ele encontrou a droga no meio daquilo tudo, levei um susto, porque pensei que toda a carga poderia ser cocaína", disse o tratador. "Se fosse, Nauê corria um grande risco de overdose", disse.
O cão foi retirado imediatamente do local e levado para um banho. Após constatar que o entorpecente estava embalado em saquinhos de um quilo, isolado dentro de sacos maiores de gesso, o animal voltou ao trabalho. Só parou sábado, quando passou mal.
"Os cães farejadores trabalham poucas horas, intercaladas com brincadeiras", afirmou Ribeiro. "O problema foi a quantidade de pó de gesso que ficou no ar, devido à movimentação das pessoas e da carga", disse ele.
Nauê foi treinado por um ano, mas começou a procurar drogas para a polícia com 10 meses de idade. Trazido para Pernambuco, ele atende também as delegacias da PF de Caruaru e Salgueiro e, eventualmente, é cedido para operações da Polícia Civil do Estado.
O cão tem em seu currículo descobertas como a de dez quilos de pasta-base de cocaína em um ônibus que vinha do Acre e 43 quilos de maconha em outro veículo que saiu do sertão. No último dia 5, encontrou mais 25 quilos de maconha em um ônibus.
Várias raças podem ser treinadas para encontrar drogas, mas a PF em Pernambuco utiliza apenas pastores alemães e pastores belgas marinois. "São raças mais rústicas, que suportam bem as condições locais, de temperatura alta, poeira e umidade", disse o tratador.
Segundo ele, atualmente, os cachorros farejadores já não estão mais sendo treinados para descobrir drogas como se estivessem à procura de brinquedos. "O treinamento, hoje, busca aguçar o seu instinto de caça", afirmou. "Eles buscam droga como se estivessem caçando. E a recompensa não é mais o brinquedo ou o petisco, é o carinho e o afago."