Bairros

Pé na estrada: as rodovias de Bauru e seus vizinhos

Wanessa Ferrari
| Tempo de leitura: 10 min

Douglas Reis

Trevo da Eny é o encontro das rodovias Marechal Rondon, Bauru-Ipaussu e Bauru-Jaú

Quando se fala em rodovias, logo vem à mente a ideia de longas estradas emolduradas por belas paisagens, responsáveis por ligar uma cidade à outra; terra de aventureiros, de trabalhadores e de belas plantações.


Contudo, em Bauru, rodovias não se resumem somente a essa descrição, vão além disso: são vizinhas da civilização, servem como palco para relacionamento entre  diversos bairros e são parte integrante do espaço urbano.


No total, a cidade conta com cinco delas: a SP-294, mais conhecida como Bauru-Marília, que passa por bairros como o Núcleo Fortunato Rocha Lima e o Parque Jaraguá; a SP-321, mais conhecida como Bauru-Iacanga, que beira o Jardim Pagani e a Vila São Paulo; a SP-300; também nomeada de Marechal Rondon, que corta a cidade na diagonal e passa por bairros como o Jardim Panorama, a Vila Engler, o Jardim Marabá e o Núcleo Gasparini; a Bauru-Jaú (SP-225) que faz vizinhança com o Núcleo José Regino e o Parque Tangarás; e a Bauru-Ipaussu (SP-225), que liga o município à vizinha Piratininga e passa pelo Residencial Lago Sul.


Esse recorte rodoviário na malha urbana da cidade influencia diretamente na composição das características dos bairros. Quem mora lado a lado com essas vias de tráfego intenso convive com dores e delícias.


Por um lado, as rodovias promovem a evolução dos bairros e facilitam o acesso de quem mora próximo. A Vila Engler, por exemplo, tornou-se referência em mecânica pesada e atrai pessoas de diversos estados do País, principalmente caminhoneiros, por conta da proximidade com a Rodovia Marechal Rondon. Já a rodovia Bauru-Ipaussu atrai investimentos em condomínios fechados e comércio, especialmente na região do Lago Sul e dos condomínios Villagios.


Contudo, como diz o ditado, nem tudo são flores. Morar lado a lado com uma rodovia implica em acostumar-se com o barulho do trânsito intenso, ter de lidar com os veículos transitando em alta velocidade e, principalmente, redobrar a atenção.


De acordo com Wanderlei de Andrade Junior, capitão da Polícia Militar Rodoviária, os principais riscos oferecidos pelas rodovias estão relacionados à falta de atenção, à alta velocidade e ao desrespeito às regras, como a tentativa de ultrapassagens em locais proibidos.


“A orientação, tanto para pedestres quanto para motoristas, é: sempre usar as rodovias de forma prudente, com a consciência de que a via não é uma simples avenida. Além disso, é importante respeitar a sinalização de trânsito e dirigir com atenção, sem se distrair com celulares, rádios, DVD’s e conversas entre os passageiros”, orienta.

“Vira e mexe tem acidente por aqui, moça. É muito comum. Eu mesmo, já presenciei alguns”. A declaração de Sebastião Alexandre dos Santos, 75 anos, que mora há mais de 20 anos próximo à rodovia Bauru-Iacanga é uma declaração comum de quem convive lado a lado com as rodovias em Bauru.

Acidentes

De acordo com dados da Polícia Militar Rodoviária, acidentes são comuns à rotina dos vizinhos das vias de alta velocidade.


A rodovia Marechal Rondon, uma das mais movimentadas e com maior número de vizinhos, é também a campeã em registros de acidentes. Em 2011, por exemplo, foram 340, sendo 4 com vítimas fatais.


Já a Bauru-Jaú e a Bauru-Ipaussu, que juntas formam a SP-225, registraram 99 acidentes com três vítimas fatais.


“Isso acontece porque os condutores se sentem encorajados pelas melhores condições das rodovias e exageram na velocidade”, explica Wanderlei de Andrade Junior, capitão da Polícia Militar Rodoviária.


Em terceiro lugar aparece a Bauru-Iacanga, com 69 acidentes e quatro vítimas fatais. Em último, a Bauru-Marília, com 65 acidentes e uma morte.

Bauru-Marília (SP-294)


O Parque Jaraguá e o Núcleo Fortunato Rocha Lima são os principais vizinhos da rodovia que liga Bauru à Marília, a SP-225. Com pista dupla e asfalto em boas condições, a via não representa incômodo para quem mora em seus arredores. Os acidentes, geralmente, são fruto da imprudência de alguns motoristas que se aproveitam das boas condições da pista para exagerar na velocidade


Jesuíno Rodrigues Pereira, 71 anos, morador do Parque Jaraguá há 20 anos, é prova disso. Segundo ele, apesar de próxima, a rodovia não incomoda ninguém no bairro.


“Afinal, a pista é lugar de carro. Quem tem de tomar cuidado são os pedestres”, opina. “Eu canso de falar para as crianças brincarem longe dali. Em época de pipa é bem pior, difícil controlar. Mas cada pai tem de fazer sua parte”, salienta.


De acordo com ele, o principal incômodo não está exatamente na vizinha rodovia, mas, sim, nos carros que saem da via em alta velocidade e entram no bairro.


“Eles saem da rodovia e entram aqui na minha rua com tudo, se esquecem que não estão mais na pista. Isso é muito perigoso. Penso que deveriam colocar lombadas por toda a extensão da rua Pastor Eduardo Alves Leite para coibir isso”, sugere.


A Bauru-Marília é administrada pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e recebe manutenção constante do órgão.

 

Bauru-Ipaussu (SP-225)


As placas espalhadas ao longo da rodovia Bauru-Ipaussu (SP-225) alertam: ao transitar pela via, é preciso reduzir a velocidade e prestar muita atenção. O aviso tem muitas justificativas e deve ser levado a sério.


Uma delas é o fato de que o trecho da rodovia localizado na Zona Urbana da cidade combina elementos que durante muito tempo lhe renderam o infame título de “a rodovia da morte de Bauru”. A pista simples, somada ao intenso tráfego de pessoas, muitas vindas da vizinha Piratininga para trabalhar e estudar em Bauru, e ao grande fluxo de caminhões é um convite ao abuso.


Além disso, o crescimento do município fez surgir no entorno da pista alguns residenciais, aumentando a necessidade de infraestrutura como acostamentos, retornos e acessos. E, desta forma, exigindo atenção redobrada.


“Penso que a rodovia tem, atualmente, uma combinação de fatores perigosos. A pista simples, as obras e o número de caminhões faz com que alguns motoristas percam a paciência e se arrisquem no trânsito. Boa parte do problema da região é fruto da imprudência dos motoristas”, avalia o arquiteto Maurício Costa, morador do Residencial Lago Sul.


Vladimir Govedise, que também mora no Lago Sul, concorda com Maurício Costa. Segundo ele, o pior horário é durante a noite. “Nos horários de maior movimento, a espera para cruzar a rodovia chega a ser bem grande”, ressalta.


Para sanar muitos destes problemas, atualmente, a rodovia está obras. A Concessionária Auto Raposo Tavares (Cart), que administra o corredor desde março de 2009 investiu mais de R$ 33 milhões na obra que vai materializar a duplicação da rodovia e os dispositivos de acesso – no km 237, para chegar aos Villagios; no km 239, para regularizar o acesso ao Lago Sul; e no km 241, para retorno. Tanto Maurício quanto Vladimir acreditam que a duplicação da pista e a conclusão das obras vai melhorar bastante a situação dos vizinhos da rodovia e de quem passa por ela diariamente


Até lá, paciência será fundamental para quem tem de passar pela rodovia diariamente.

 

Marechal Rondon (SP-300)


A rodovia Marechal Rondon é marcada por um grande trecho urbano, que corta bairros como o Jardim Panorama, a Vila Engler, o Parque São Geraldo, o Núcleo Gasparini, entre outros, o que torna a via semelhante a uma grande avenida, onde é permitido transitar em alta velocidade.


Em vez de canaviais e plantações, como é tradicional em estradas, prédios, comércios e casas. Característica que tende a se tornar ainda mais acentuada com a expansão da cidade. No quilômetro 335, por exemplo, está em construção, às margens da rodovia, um grande hotel. Já no quilômetro 338, um condomínio com 260 apartamentos receberá seus primeiros moradores dentro de um mês.


A Vila Engler e o Jardim Auriverde também são exemplos de bairros afetados pela presença rodovia. Isso porque foi justamente a proximidade com a Rondon que fez com que estes bairros passassem a concentrar um grande número de empresas voltadas à mecânica pesada, determinando a principal característica do local.


Com tantos vizinhos, não é de se estranhar que a rodovia seja marcada pela disputa de espaço entre veículos e pessoas. Cena nada rara é ver pedestres cruzando a pista apressadamente para escapar dos carros, motos e caminhões.


“Aqui é assim, direto. É que muita gente pega ônibus nas margens da pista e, para isso, precisa atravessar de um lado para o outro”, explica Alvanil Pereira Rosa, 35 anos, que mora em Agudos e trabalha como babá na Vila Universitária. “No começo da manhã e no fim da tarde o movimento atinge seu pico. Muita gente de Bauru usa a rodovia para ir de um bairro para o outro”, completa Selma Felix, que também mora em Agudos e trabalha como empregada doméstica no Jardim Panorama.


Como se não bastasse a perigosa combinação entre veículos, alta velocidade e pessoas, a Rondon conta ainda com outro agravante: a ausência de marginais em alguns trechos, como o que liga os quilômetros próximos a Vila Engler ao Jardim Santa Luzia.


De acordo com a ViaRondon, concessionária que administra o trecho, alguns estudos para a realização de obras para a construção de marginais estão sendo realizados e, caso seja comprovada a necessidade, pode ser implantada uma terceira faixa em alguns trechos.


Nenhum prazo para a realização das obras foi informado pela ViaRondon.

Bauru-Iacanga (SP–321)


Olhos atentos, passos largos e rápidos e (por que não?) uma oração com muita pressa fé. Esse é o ritual cumprido por quem precisa cruzar, diariamente, as pistas da rodovia Bauru-Iacanga (SP-321) para transitar entre bairros como a Vila São Paulo e a Quinta da Bela Olinda.


O asfalto irregular, a pista simples, a alta velocidade dos carros e, principalmente, a confusa entrada que dá acesso aos dois bairros resultam em uma grande somatória de riscos para quem passa pelo local diariamente, seja de carro ou caminhando.


“Para quem mora aqui por perto, não é bom, não. Morei na Vila São Paulo por 20 anos e atualmente moro na Quinta da Bela Olinda. Neste tempo, já vi muito acidente acontecer”, conta Sebastião Alexandre dos Santos, 75 anos, que tem um pequeno comércio às margens da estrada, na entrada da Vila São Paulo.


Nos poucos minutos que a equipe do JC nos Bairros permaneceu no local, foi possível notar a evidencia do problema. Enquanto uns tentavam sair do Quinta da Bela Olinda e entrar na pista, outros faziam o caminho inverso. Nesta confusão ainda estavam carros que passavam pelo local ignorando as placas de velocidade máxima permitida e pedestres que tentavam cruzar o trecho correndo.


Segundo informações do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) já foi concluído um projeto de melhorias para o trecho, que inclui recapeamento, implantação de faixas adicionais e pavimentação dos acostamentos. A obra deve ser licitada no próximo mês de junho e custará em torno de R$ 60 milhões.

 

Bauru-Jaú (SP-225)


Pistas duplicadas e com asfalto em boas condições, marginais de acesso aos bairros, acostamento, monitoramento inteligente das condições de tráfego, atendimento 24h aos usuários e equipamentos fiscalizadores de velocidade. A combinação destes elementos garante à rodovia Bauru-Jaú o título de a mais segura e tranquila de Bauru.


Em Bauru, ela tem início no quilômetro 235 e passa por bairros como o Núcleo José Regino, o Jardim Tangarás e o Parque Baurulândia. Contudo, seus principais usuários são pessoas vindas das vizinhas Pederneiras e Jaú para trabalhar e estudar na cidade.


A designer Carla Frascareli é um exemplo desta situação. Moradora de Pederneiras, há um ano e meio ela viaja diariamente pela rodovia para trabalhar em Bauru.


“Acho a infraestrutura da rodovia excelente. A pista sempre passa por manutenção e isso a torna bastante segura. Os acidentes que acontecem, geralmente, são por imprudência dos motoristas”, avalia.


De acordo com ela, apenas os radares que ficam escondidos e o pedágio de Jaú incomodam.


Quem administra o trecho é a Centrovias, que atua no local desde 1998. A concessionária realizou a duplicação da Bauru-Jaú em 2001, quando foram construídos novos dispositivos de acesso e retorno, uma nova ponte sobre o rio Tietê e passarelas para pedestres. Atualmente, a concessionária apenas atua na conservação da rodovia.

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