Melhorar a relação humana com o meio ambiente e desenvolver tecnologias são duas das principais características dos projetos sustentáveis da escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) João Martins Coube, de Bauru.
Seguindo esses passos, os alunos do curso técnico de edificações apresentam mais uma inovação para a construção civil: blocos de alvenaria feitos de gesso reciclado e isopor.
Criado para ser capaz de compor paredes resistentes, os tijolos não propagam chama, ajudam a equilibrar a temperatura ambiente e são mais leves do que os disponíveis no mercado. “Já fizemos testes de resistência e, em termos de dureza, o tijolo foi classificado entre o latão e o alumínio. Quanto à resistência à compressão, o produto resiste de 60 a 70 quilos por centímetro quadrado”, explica Luiz Antônio Branco, arquiteto, professor do curso técnico de edificação do Senai e coordenador do projeto.
Segundo Branco, a construção civil descarta grande quantidade de gesso e tal descarte representa alto custo para essa indústria por ser necessário deslocamento até o aterro de destino do material. “Outra incômodo é a necessidade de separar e armazenar o produto até a hora do descarte, o que ocasiona bloqueio de áreas úteis nos canteiros de obras. Mais uma razão para o surgimento da ideia, destaca”.
Frutos
E tal ideia já tem rendido bons frutos. Em 2011, por exemplo, o projeto foi destaque no estande do Senai na Feira Internacional do Meio Ambiente Industrial (FIMAI), em São Paulo. Outro destaque foi o concurso Benchmarking Brasil Júnior, onde o trabalho de Bauru ficou entre os dez melhores projetos de todas as escolas técnicas de São Paulo. “A premiação será neste próximo 1º de agosto, na capital do Estado”, lembra o coordenador.
O concurso identifica, reconhece e apresenta à sociedade as inovações desenvolvidas por jovens talentos brasileiros capazes de contribuir com uma economia mais verde e inclusiva. Os alunos Rafael Yuri Souza Leite, Claudinei Pinheiro, Anderson de Mattos, Hélio Mizuno, Matheus Ciacca e Nelson Filho fazem parte do projeto.
Reciclagem municipal caminha a passo lento, mas há esperança
Sem empresas de reciclagem expressivas ou mesmo um cadastro de quem faça esse trabalho, a Cooperativa de Materiais Recicláveis de Bauru (Cootramat) comercializa o material recolhido pelos caminhões da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) e é vendido para empresas que repassam o material para cidades que abrigam usinas recicladoras.
Entretanto, um fio de esperança surge para o meio ambiente quando o assunto é o entulho produzido pela construção civil. Isso porque o titular da Semma, Valcirlei Silva, aponta que, provavelmente, nos próximos dois meses uma usina de reciclagem de entulho entrará em funcionamento no Distrito Industrial III.
“Tijolos, concreto, pedra, telha e outros resíduos serão reciclados e comercializados por uma empresa de caçamba”, destaca. O material poderá ser reaproveitado para a construção de bancos de praça, recuperação de ruas de terra, estradas da zona rural e concreto para pavimentação asfáltica.
Hoje, o gerador de entulho é responsável por contratar uma empresa para locar a caçamba e essa mesma empresa transporta o resíduo até uma área de melhoria, os bolsões de entulho, feitos com o intuito de recuperar erosões.
Nota 7
Em mesa-redonda realizada pelo Festival de Tecnologia e Inteligência Ecológica (Festieco) 2012 e a 3ª Feira Integrada de Meio Ambiente de Bauru (Fimab), foi apresentado um estudo realizado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (SindusCon), que avaliou 347 município de São Paulo quanto ao gerenciamento de entulho produzido pelo setor. Bauru recebeu nota 7.
Segundo barracão pode sair do papel no início de 2013
Hoje, a Cooperativa de Materiais Recicláveis de Bauru (Cootramat) é formada por 23 cooperados e cada um ganha, em média, R$800 por mês. Dinheiro esse que vem da venda do material reciclável coletado pelos quatro caminhões da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) que, juntos, recolhem de 10 a 12 toneladas por dia. Promessa é de que um segundo barracão comece a ser construído no início de 2013 no Pousada da Esperança I.
“Acredito que a gente consiga fazer a licitação ainda esse ano e, no começo de 2013, a obra comece a ser feita”. Ainda de acordo com o secretário, a maior parte dos catadores não tem cadastro ou carteira assinada, o que dificulta contabilizar ao certo a quantidade de empregos gerada pelo “lixo”, em Bauru. Entretanto, ele acredita que aproximadamente duas mil pessoas atuem na coleta e pequena reciclagem.
Vende mais
Valmir Moura é presidente da Cootramat. Ele avalia que o plástico da garrafa pet é o de maior valor de venda atualmente e, por isso, o de menor quantidade, já que carreteiros recolhem o material nas calçadas. O quilo da embalagem prensada gira em toro dos R$1,50.
Já o alumínio é artigo raro na cooperativa, pois, além dos carreteiros, a própria comunidade tem o hábito de vender o produto em ferro velho. O quilo da latinha de alumínio chega a ser vendido por R$2,20.
Por outro lado, papéis, incluindo o papelão, são os recicláveis mais abundantes nas calçadas e na cooperativa por serem mais baratos. O quilo prensado não ultrapassa os R$0,18.
‘Das caçambas para mesas de bar’
Consciência ambiental somada à criatividade e alguns sacos vazios de cimento. Pronto. Está formada a receita das bolachas de chope produzidas ainda em caráter experimental pelo tecnólogo Everton Barnez Bonfim. A produção é recente e ainda pequena, mas o entusiasmo e os elogios de quem conhece o trabalho do bauruense são grandes.
“Já vendi algumas delas no site Mercado Livre e tenho recebido consultas de donos de bares, colecionadores e de pessoas interessadas na confecção de brindes. Estão gostando bastante, mas eu ainda estou acertando alguns detalhes para a aceitação de mercado”, conta.
O tecnólogo trabalha com reciclagem de bombas de automóveis e diz que sempre gostou muito de ferro velho e de criar suas próprias máquinas, como as que ele “inventou” para transformar as embalagens de cimento em novos produtos. Ele também tem um blog sobre o assunto (http://reciclandosacodecimento.blogspot.com.br).
A ideia de trabalhar com os sacos de papel, resíduos de construções, veio depois de uma conversa com o dono de um ferro velho, onde ele ficou sabendo que muitas obras queimam tal material por eles serem desprezados por catadores e não serem recolhidos pela prefeitura.
O processo de transformação é simples e barato. O material é doado por obras de vizinhos e as máquinas utilizadas em todas as etapas de produção foram criadas por ele mesmo em sua oficina. Até mesmo a água usada é reutilizada, nesse caso, em novas levas de bolachas (Confira como o saco de cimento vira bolacha de chope na sequencia de fotos ao lado).
“Imagine quantas árvores são destruídas para a fabricação destes sacos? Pensei em fazer algo prático, usual e ecológico, e me veio a ideia das bolachas”, lembra.
Pastilhas de revestimento
Com a ajuda de um especialista em construção civil, o tecnólogo está desenvolvendo pastilhas para revestimento de parede com o mesmo material. Ainda em experiência, ele afirma que as “pastilhas recicladas” são duráveis e resistentes como as existentes no mercado.
“A ideia é que o produto tenha aparência rústica para mostrar que realmente é reciclada. Uma tendência atual de quem opta por construção sustentável”, comenta.
‘Ecoforro’ deve ser produzido com sacos de cimento em Bauru
Alternativa para o aproveitamento sustentável dos sacos de cimento vazios e impulso econômico para diferentes setores, o “eco-forro”- projeto dos formandos da primeira turma do curso técnico em construção civil-edificações da escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) João Martins Coube -, poderá ser produzido em Bauru. A expectativa é que a fabricação tenha início entre o final de 2012 e o início de 2013.
“Fizemos uma parceria para a produção de módulos do produto com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), que entrará com os maquinários. A Prefeitura Municipal também já foi contatada para entrar na parceria cedendo o espaço físico para a prática do projeto”, expõe Luiz Antônio Branco, arquiteto e professor do curso técnico de edificação do Senai.
O projeto de autoria dos ex-alunos Cosme Cipriano, Eliane Regina Ariosi Campos, Michel Lucas Medeiros e Gildo Bonfim da Silva está com patente requerida e pode resultar em material de moradia de menor custo, já que a matéria-prima é abundante, principalmente com o aquecimento da construção civil.
Sem valor?
Contudo, basta observar a grande quantidade de sacos dentro das caçambas na frente de construções para notar que essas embalagens raramente são recolhidas. Descartadas pelas obras e desprezadas pelos catadores, elas acabam indo para os bolsões de entulho com os demais resíduos das construções.
E isso acontece porque os sacos de cimento vazios têm alto valor de reciclagem por causa do custo para separar do papel o pó, resíduo que pode prejudicar o processo de reciclagem e até mesmo danificar as máquinas usadas para a transformação.
Sendo assim, a fabricação das placas é uma opção sustentável para o reaproveitamento desse tipo de resíduo.
A ideia fez sucesso na edição 2010 do programa “Inova Senai”, que dá prêmios para alunos e professores da escola com os melhores projetos de pesquisa aplicada. Selecionado entre 132 projetos apresentados por estudantes de todo o Estado, o trabalho bauruense ficou entre os 40 melhores.
Do ‘lixo’ surge o ‘sonho do luxo’
Quem nunca vivenciou, ao menos já ouviu histórias de crianças que, por dificuldades financeiras, passaram uma infância inteira sem ter um brinquedo, a não ser aqueles construídos rusticamente com as próprias mãos. Nascido em Conchas (152 quilômetros de Bauru), Ivanil Fernandes, 43 anos, que trabalha com reciclagem, conseguiu ter seus primeiros carrinhos em meio ao papelão que compra para revenda. Um sonho de criança que se tornou realidade e coleção com mais de 300 deles.
“E quem disse que eu não brinco com eles?”, disse no início da entrevista ao JC em meio a risos. Quem vê Ivanil, chamado simplesmente de Ivan, não sabe parte de sua história. “Eu nunca tive um carrinho como esses. Passei a minha infância inteira assim por isso hoje, o que eu posso, dou aos meus filhos”, disse, desta vez, mais sério.
Os seus primeiros carrinhos vieram, literalmente, em meio ao “lixo”, que na verdade são materiais recicláveis. “Eu compro papel, papelão, alumínio e em meio a algumas caixas de papelão começaram a aparecer esses carrinhos. Muitos são novos, alguns vieram danificados mas foram consertados”.
Ivan não sabe ao certo qual deles foi o primeiro e nem parou para contá-los. A única coisa que ele sabe é que os carrinhos, motos e até helicópteros “tomaram conta” de três das quatro paredes de seu escritório. “Conforme eu ia encontrando os carrinhos ia colocando um prego na parede para ajeitá-los lá. Assim eu consegui a minha coleção. É muito legal”.
Quando questionado sobre a venda ou doação de algum dos brinquedos ele diz “Cheguei até a dar uns para o meu filho de 9 anos, mas como ele brincava e não cuidava não dei mais. Não deixo ninguém mexer aqui. Não dou e não vendo”.
De dois helicópteros danificados ele conseguiu consertar um e fazê-lo funcionar. Os objetos à pilha, que possuem até controle remoto, hoje fazem parte das brincadeiras entre ele e os filhos. “Quem disse que eu não brinco? Os helicópteros viram diversão entre eu e meus filhos”.
Até dólar?
No meio das caixas de papelão Ivan encontrou muitos outros brinquedos, trenzinhos, bonecas, bonecos e até... dólar? Exatamente. Já encontrou notas de dinheiro de diversos países. É claro que as notas são de valores baixos, por isso, elas foram para um vidro que fica sobre a sua mesa e também fazem parte desta coleção “maluca”.
Os recicláveis
Com 19 anos, Ivan saiu de Bauru e foi a São Paulo para “tentar a sorte”. “Eu falo que me dei bem lá sim. Com muito trabalho consegui construir a minha família e resolvi voltar para Bauru. Faz cinco anos que eu cheguei aqui e comecei a trabalhar com reciclagem depois de um conselho de uma tia minha, que trabalha com isso há 30 anos”, contou.
E foi do “lixo” que ele tirou o luxo, constituiu família e criou os filhos. Hoje dois deles já trabalham com Ivan no depósito. “As pessoas pensam que todo reciclável é lixo e na verdade não é. Por isso acabam jogando fora muita coisa boa, que dá para reutilizar. No meu depósito tenho muito mais objetos. Vamos lá ver”, convidou.
Coleção maluca
Em meio a muitos papéis, plástico e alumínio, todos devidamente ensacados em grandes “bags” e acondicionados de modo com que tudo ali pode ser visto e manuseado sem dificuldade, Ivan esconde a segunda parte de sua coleção. Uma coleção “maluca”.
De modo impressionante ele consegue ajeitar tudo no depósito. Tudo o que conseguiu foi em meio à reciclagem. Tudo é quase tudo mesmo: garrafas térmicas, cafeteiras, esmaltes, ferramentas, patins, bonecas. Objetos novos, nunca sequer utilizados, ainda com a garantia.
“Alguns possuem um pequeno defeito e eu acabo consertando do meu jeito, aprendi fuçando. As pessoas não têm noção e acabam jogando tudo em meio à reciclagem. Tenho uma coleção de ferramentas que encontrei junto dos recicláveis. Aqui tenho de tudo: máquinas de costura antigas, árvores de Natal que as pessoas jogam fora e eu costumo revender no final do ano”.
Dentre as muitas coisas que guarda ali, naquele depósito, uma coisa chama a atenção: um antigo aparelho para analisar o ouvido. “Nem me lembro como encontrei isso, mas achei muito interessante e resolvi pegar. Ainda funciona, só precisa trocar a pilha para a luz acender”.
Ivan conta que recebe muitas visitas de colecionadores e que já vendeu muitos destes objetos antigos por preços justos. “Vendo pelo preço que vale mesmo. Tenho até piscina para vender”, acrescentou aos risos. “Muitas coisas que comprei, porque compro tudo e não aceito doações, levei para a minha casa. Lá tenho bicicleta, esteira de caminhada”.
Quando questionado pela reportagem se é feliz com o que faz ele diz que sim. “Sou muito feliz. Constitui minha família, criei meus filhos e trabalho com muita organização e honestidade”.