Geral

Entrevista da Semana: Olavo Fernandes Gil

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 7 min

À primeira vista, a simpatia e o sorriso acolhedor são as características marcantes de “seo” Olavo Fernandes Gil. Mas basta tocar em assuntos queridos, como família e o hobby jardinagem, por exemplo, que o homem bastante emotivo se deixa notar.


Foi com lágrimas nos olhos que o proprietário da Gilar Imóveis, imobiliária que existe há 42 anos em Bauru, falou do trabalho passado de pai para a filha Patrícia: “Hoje ela assumiu e é a principal comandante. Nas mãos dela a empresa cresceu ainda mais. Ela aprendeu comigo e me superou. Tenho um orgulho sem tamanho dessa menina”, diz.


Nascido em Pederneiras, “seo” Olavo veio para Bauru no final da década de 1950 por ter passado em um concurso público e porque queria fazer Faculdade de Direito.


Faculdade que fez dele um especialista na lei do inquilinato. Ele chegou a ter uma coluna de consultas no extinto jornal Diário de Bauru.


E foi em razão dos seus estudos no setor que nasceu a imobiliária Gilar. “Fui procurado por um sócio que estava interessado em montar uma imobiliária. Ele se aposentou e eu fiquei com a firma”, lembra.


Da juventude, as lembranças mais frescas vêm da conturbada Bauru da década de 1960. Em meio aos movimentos contra o regime militar e trabalhando como advogado trabalhista, ele acabou preso por oito dias.


O entrevistado de hoje é um dos fundadores do Lions Sul. Sempre de olho na política e nos movimentos da sociedade, ele também fala sobre religião e sobre o seu hobby, a jardinagem. Confira os principais trechos da entrevista, a seguir.




Jornal da Cidade - Quando Bauru passou a fazer parte da sua história?

Olavo Fernandes Gil - Vim para Bauru em 1959 porque passei em um concurso da Caixa Econômica Estadual e também queria cursar a Faculdade de Direito.



JC - O senhor já tinha a intenção de trabalhar no ramo imobiliário?

Olavo - Não. Entretanto, assim que terminei a faculdade de direito eu comecei a me especializar em alguns ramos, como o trabalhista, por exemplo. E, na época, havia a lei do inquilinato que estava muito confusa. Foi quando eu resolvi estudar para entender melhor essa questão. Isso foi me dando uma certa projeção e cheguei até a escrever uma coluna de consultas para o extinto jornal Diário de Bauru. Em razão disso, fui procurado por um sócio que estava interessado em montar uma imobiliária, o Armando Turtelli. Dessa procura saiu a sociedade de muito tempo. Depois, ele se aposentou e eu fiquei com a imobiliária, que foi crescendo e existe há 42 anos.


JC - E está passando os negócios para a sua filha?

Olavo - Ah, sim. Hoje ela assumiu e é a principal comandante da firma. Nas mãos dela a empresa cresceu ainda mais. Já temos uma filial, a Gilar Universitária, e ela abriu uma outraempresa com uma amiga, N&A Condomínios. Ela aprendeu comigo e me superou. Tenho um orgulho sem tamanho dessa menina. Hoje, a Gilar emprega mais de 30 pessoas.


JC - Com mais de quatro décadas de atuação no setor imobiliário, o senhor deve ter acompanhado o crescimento de Bauru bem de perto.

Olavo - Sem dúvida. Bauru teve um crescimento extraordinário e um desenvolvimento muito grande em todas as áreas da atividade humana. A cidade quadriplicou desde que eu aqui cheguei, e não cresceu apenas fisicamente, mas também humanamente. Bauru é praticamente uma metrópole, uma cidade acolhedora, bem mais do que quando aqui cheguei.


JC - O senhor foi um dos fundadores do Lions Sul, certo?

Olavo - Isso. Minha história com o clube tem cerca de 40 anos, praticamente desde que vim para Bauru. Depois de ter passado por praticamente todos os cargos e ter sido presidente três vezes, hoje eu componho algumas comissões. Eu e o Ari Sampaio somos os dois fundadores sobreviventes (risos).  


JC - E quais são os melhores feitos dentro do Lions, na sua visão?

Olavo - Foi a fundação da Legião Feminina de Bauru, em conjunto com o Lions Norte. Até hoje estamos ligados à instituição, tanto é que minha esposa ainda pertence à diretoria. Ela foi presidente durante muito tempo. O trabalho social é algo extraordinário e temos muitas organizações e clubes que dirigem instituições sociais na cidade. O Lions de Bauru, por exemplo, terá grandes novos projetos de ajuda aos cegos com o apoio do Lions Internacional.


JC - A sua juventude foi marcada pela militância. Soube, inclusive, que o senhor chegou a ser preso na década de 1960. Como foi essa história?

Olavo - Vivi o período transitório da política nacional, onde os estudantes se movimentavam nas escolas, faculdades e estavam sempre acompanhando o desenvolvimento político da época, da revolução de 1964, do governo de João Goulart, e todas as escolas estavam engajadas. Eu, como estudante, era a favor da mudança e contra a ditadura militar. E a minha prisão se deu quando eu já era formado, em plena ebulição do período. Bom, o prefeito Edson Gasparini estava recolhido na Câmara Municipal porque estavam querendo prendê-lo. O pai do Gasparini pediu para que eu fosse até lá como advogado para saber o que estava acontecendo. Fui e, ao chegar, não vi o cordão de isolamento e entrei. Quando saí da Câmara, fui preso.


JC - Ou seja, já estavam de olho no senhor?

Olavo - Acho que sim, até porque tive outras passagens interessantes. Bom, foram presas duas funcionárias da Superintendência da Política Agrária (Supra), que eram minhas amigas. Eu entrei com os habeas corpus. Então, quando eu cheguei à polícia, depois do episódio da Câmara, eu achei que havia chegado lá em função do meu trabalho como advogado. Até disse que havia uma confusão e que eu havia sido flagrado em atividade profissional. Entretanto, o delegado me viu e deu um sinal para que os agentes me prendessem. Fiquei lá junto das pessoas que eu admirava, embora não fosse subversivo. Também participei de uma greve dos ferroviários por ser advogado deles, além de greves de professores... E acabei sendo “contaminado” e contagiado (risos).


JC - Ficou preso por muito tempo?

Olavo - Fiquei preso por oito dias. Mas até que tive sorte, já que tive amigos que ficaram presos por meses. Entretanto, foram dias ruins, sem direito algum.


JC - O senhor cita política e religião em dois itens do “Perfil”. Como o senhor avalia essas questões atualmente?

Olavo - Bom, eu não estou satisfeito com a hegemonia do Partido dos Trabalhadores (PT), mas explico o porquê. Algumas coisas têm me desagradado. Acho que ministérios e instituições não foram feitos apenas para políticos, e sim para cientistas, professores e para pessoas que entendem de cada setor. Hoje, há ministros meramente políticos, sem experiência nas áreas que atuam. Isso é o que mais me desagrada. As instituições foram partidarizadas, não se colocam mais os técnicos e profissionais, colocam-se políticos.


JC - Por que o senhor dá “Nota 10” para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC)?

Olavo - Porque, além de ser um homem muito inteligente, acredito que ele fez um governo popular, ou melhor, público e democrático.


JC - E quanto à religião?

Olavo - Não sou um antirreligioso. Eu sou um “arreligioso”. Eu acho que a religião presta um ótimo serviço à humanidade porque prega o bem e leva essa ideologia às pessoas. Agora, tem uma religião que está vergonhosamente explorando o povo. Dessa eu não gosto mesmo. Tive um caso na família, em que uma pessoa estava mal e o dirigente da igreja que ela frequentava disse que ela estava assim porque não colaborava com a igreja e, por esse motivo, ele não podia ajudar em nada.    


JC - Além de se interessar por política e religião, o senhor se dedica às plantas?

Olavo - (Risos) Gosto muito de jardinagem. Fiz cursos e leio muito sobre o assunto. Tenho uma chácara que é o meu refúgio, a minha terapia. Como não uso celular- não gosto da ideia de ter alguém me ligando onde quer que eu esteja-, quando estou na chácara eu me desligo do mundo. Tenho uma variedade imensa no jardim e tenho algumas plantas em casa, também. Meu forte são as bromélias e foi minha esposa quem me apresentou a jardinagem. Se as pessoas soubessem como a jardinagem é uma terapia poderosa, todo mundo iria ter um jardim em casa. As plantas irradiam bem-estar em cores e beleza.

 

Comentários

Comentários