"Mulher atropelada na Rondon era uma eficiente professora da ITE", expressão elogiosa, mas muito pequena para definir Maria Isabel de Jesus Costa. Ela foi uma criança, uma jovem, uma mulher brilhante. Maria Isabel, a quem a partir de agora me permitirei chamar, carinhosamente, de "Bel", foi uma de minhas melhores amigas. Dos sete aos treze anos de idade, compartilhamos a mesma sala de aula, no colégio São José. Éramos inseparáveis; ela, a melhor aluna da classe, minha confidente, amiga para todas as horas.
Quanta felicidade aos sábados: eu, Cerlene, Cristina, Márcia Medina, mochila nas costas, com nossas bicicletas ou a pé, resolvíamos atravessar a grande erosão ? onde hoje se instala a imponente Nações Unidas ? para irmos à casa da "Bel", lá do outro lado. Era uma casa portuguesa com certeza e havia muito carinho e um farto lanche para todas nós. Passávamos a tarde e voltávamos antes do escurecer...E as matinais do cine São Paulo, aos domingos, depois da missa...Ao completarmos a primeira série ginasial, mudei-me para o Rio de Janeiro. Choramos juntas, abraçadas e continuamos a nos escrever. Nas férias, vinha passá-las em Bauru e aí o reencontro era maravilhoso.
Uma vez ela me escreveu: vou protagonizar a primeira novela de televisão produzida aqui em Bauru.Vou ser uma santa! Outra vez, escreveu: vão filmar a vida do Rei Pelé e eu vou fazer o papel de sua primeira namoradinha, aqui em Bauru. Não tenham dúvidas, todas as minhas amigas do Rio foram convocadas ao cine América na praça Saens Peña, para assistirmos ao filme. Quanto orgulho! Minha melhor amiga de Bauru, ali, nas telas de cinema de todo o Brasil! Depois, a vida se encarregou de nos separar. Fiquei noiva, casei, trabalhava no Rio...vida atribulada. Em 1972, quis o destino que eu retornasse para morar novamente em Bauru.
Revi a "Bel" que já era uma excelente professora de Literatura norte americana da então Fafil. Acompanhei o nascimento de seus primeiros filhos, mas não nos víamos com frequência. Certo dia em uma crise no meu casamento, lembrei-me da amiga "Bel", agora advogada das melhores. Procurei-a. Queria me separar. "Bel" ouviu-me por longos trinta minutos, calada. Quando terminei, olhou-me profundamente como se pudesse enxergar minha alma e disse: Não quero ser o instrumento da separação de uma família tão maravilhosa como a sua... Vai para casa, fale tudo o que me falou para seu marido... Se depois, ainda quiser se separar, cuido de tudo para você.
Fui para casa, falei e neste ano, em julho, completei quarenta e três anos de casada. "Bel" foi assim, muito mais que eficiente: sábia, perspicaz, honesta, sensível, inteligentíssima, intensa, moderna, meiga, amiga, brilhante! "Bel", eu e muitos vamos sentir a sua falta, mas tenho certeza: seu brilho estará lá... reluzindo para todos nós. Sua amiga de sempre, Élida Maria da Fonseca Costa Farias.
Élida Maria da Fonseca Costa Farias