Regional

Ele conserta sapato como um artista

Rita de Cássia Cornélio
| Tempo de leitura: 2 min

Quem conhece Sebastião de Oliveira Oliva, 68 anos, morador de Pederneiras, já sabe da beleza da história que vou contar. Ele é um artista sapateiro. Mexe com couro e com seus equipamentos como se estivesse pintando um quadro. Sabe o que está fazendo, por isso, resolve desde uma meia sola até problemas mais complexos, como alargar ou apertar o cano de uma bota que insiste em não fechar na perna da cliente. Embora sua profissão esteja em extinção, ele diz que não falta serviço. Bem-humorado, ele diz que para todo problema do sapato, seja masculino ou feminino, tem um jeitinho de melhorar. “A mulher chega com sapato apertado. Faço o teste do salto, muitas vezes, ele é alto demais, faço com que ele fique na altura ideal. Também faço meia sola, sola inteira, prego salto e troco zíper de bolsas.”

Oliva não acha que a profissão de sapateiro está em extinção, embora admita que em 1993, quando abriu seu estabelecimento, havia 21 deles na cidade e hoje só têm três. “As coisas mudaram muito. Antigamente, a gente trabalhava com couro, todas as solas eram desse material. A borracha substituiu. As colas são outras. Só os equipamentos continuam os mesmos. Tenho lixadeira e máquina de costura industrial.”

Ele lembra que chegou a fazer botinão, botas e  munhequeiras. “Antigamente, fazia muita meia sola e troca de saltinho. Hoje, o meu forte é a reforma do sapato novo que apresentou problemas. Como aprendi a fazer sapato, sei bem como resolver questões relacionadas à confecção.” Para se ter ideia do movimento da sapataria, Oliva mostra o talão de registro de entrada de serviço. São mais de 11 mil atendimentos nos últimos seis anos. “Anoto o nome, telefone, o tipo de sapato que o cliente está trazendo, o serviço a ser feito e o preço, além do dia da entrega. Há seis anos, quando retornei para a sapataria comecei do 001. Há duas semanas acabaram os talões no número 11.200. Atendo gente de Bauru, Lençóis Paulista, Bariri, Jaú, Barra Bonita, Macatuba e Boracéia.”


História “costurada” no couro

A história de seo Oliva sapateiro começa em uma fábrica de calçados de Pederneiras, onde ele trabalhou por 20 anos. Curioso e observador, ainda jovem passou a ver o trabalho do outro e do outro... Nas horas de folga, ajudava os demais funcionários em tarefas diferentes da sua. “Foi assim que aprendi a fazer sapato. Estou aposentado desde 1994, aposentei como sapateiro.”

Interessado, Oliva foi aos poucos comprando os equipamentos necessários para montar seu próprio negócio. “Chegou um tempo que eu já tinha uma sapataria comprada dentro da minha casa. Tinha lixadeira, máquina de costura, tudo. Aí eu pedi a conta para o patrão e me estabeleci, no dia 1º de fevereiro de 1973, instalei a 1ª sapataria na avenida Tiradentes.”

Ele chegou a ter lojas de sapatos na cidade, mas há seis anos retornou à profissão que garantiu o sustento dos três filhos durante muitos anos. “Eu tenho orgulho de ser sapateiro.” 

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