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O vice-treco do subtroço

Valderez de Mello
| Tempo de leitura: 2 min

Quando criança, aprendíamos que roubar era inaceitável, desrespeitar os mais velhos e os mestres demonstrava grande falta de educação, discriminar pessoas significava falta de amor ao próximo, mentir era pecado capital e matar significava pecado mortal sem direito à remissão. Crescemos seguindo princípios e valores recebidos desde o berço e no caminhar da vida nos deparamos com atitudes que contrariam tudo o que aprendemos: ladrões enaltecidos, agressores e traficantes transformados em ídolos, homicidas premiados com liberdade e inocentados pelos inúmeros benefícios legais, matricidas, simplesmente tratados como pobres coitados, doentes atrelados ao uso de drogas.

Gradativamente, valores éticos e morais foram atirados no fétido lixão da decadência moral, onde a ordem e a disciplina restam abandonadas e esquecidas. Com pesar e muita desilusão, os mais velhos não conseguem entender a anarquia social que estamos vivenciando. A população, simples plateia do frágil palco da cidadania, assiste a bandidagem tomar assento nas luxuosas e macias poltronas governamentais, doutores das leis vendendo a alma para o diabo, igreja silente e permissiva, enquanto a nação descrente e resignada se deixa oferecer em sacrifício.

Imaginem nosso imenso Brasil, o grande jardim das Américas, circundado por pesadas grades, assim como nossas praças, nossas casas e nossa liberdade de ir e vir. Vejam o território brasileiro transformado em gigantesco presídio a céu aberto, onde a bandidagem atrevida passeia à larga, de mãos dadas com a impunidade, devido ao abrandamento da pena através dos maléficos benefícios.

Vejam a Pátria sangrando, o povo laborioso sofrendo e a infância assistindo tão vergonhoso capítulo da história de nossa pátria. Se tudo isso pode ser denominado de ordem e progresso, não resta dúvida que a anarquia reina garbosa travestida de democracia, palavra que tem origem na Grécia Antiga, onde demo, significa povo e kracia, governo, ou seja, governo do povo. Porém, demo, na linguagem popular, significa demônio, logo, essa falsa democracia, onde a vontade do povo é ignorada, não poderia ser denominada de governo do demônio? Nome apropriado ao regime político onde o crime compensa, o embuste se aconchega nas dobras das togas, mentiras deslavadas se alevantam perante o mundo e onde importantes julgamentos públicos envergonham a nação. Por tudo isso, infelizmente podemos dizer que, além de lenta e cega, a Justiça foi transformada no "vice-treco do subtroço"!

A autora, Valderez de Mello, é advogada, pedagoga e psicopedagoga. Autora do livro Lágrimas Brasileiras e Trama e Urdidura - em fase de edição

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