Bairros

Eles fugiram! E agora?

Wanessa Ferrari
| Tempo de leitura: 14 min

João Rosan

Natália Siqueira e a filha Maria Clara paparicam as fujonas Mel e Amarelinha; muito carinho na volta para casa

Os frequentes abandonos e maus tratos praticados contra os animais domésticos são, atualmente, graves problemas existentes no município. Sem uma difusão massiva da importância da prática da posse responsável e sem políticas públicas que possam diminuir a incidência de casos do tipo, a bicharada da cidade fica a mercê da boa vontade de seus nem sempre conscientes donos e das Organizações Não-Governamentais (ONGs) que atuam nos bairros.

Contudo, o que pouca gente sabe é que tão frequente quanto os casos de abandono e maus tratos são os pedidos de ajuda para reencontrar animais desaparecidos.

Mensalmente, o site Mania de Cão recebe cerca de 120 apelos desesperados de pessoas que buscam ajuda para reencontrar cães, gatos e até mesmo pássaros e hamsters desaparecidos. O número, considerado bastante grande pelas organizações protetoras de animais da cidade, assusta e serve de alerta: quando se tem um bichinho de estimação em casa, todo cuidado e atenção são poucos.

E se de um lado tem gente que ignora a posse responsável e pouco se importa com a saúde e integridade dos animais que cria, por outro, há pessoas que fazem de tudo para reencontrar o companheiro perdido.

Thaís Helena Areco de Góes, 29 anos, é uma delas. A primeira vez que viveu a traumática experiência de ter perdido um bichinho de estimação foi no ano passado, quando sua cachorra Missy, da raça akita, fugiu de casa. Na tentativa de encontrá-la, além de anunciar em sites, redes sociais e na mídia, Thaís Helena contratou um carro de som para percorrer as ruas do bairro e espalhou pela cidade cartazes informando o sumiço.

“Foi terrível. Eu só chorava”, conta ela, que há pouco tempo viveu novamente uma experiência do tipo, desta vez, com o gato Teddy. “Foi outro susto grande”, comenta.

Outro exemplo de dedicação e sucesso na busca é Daniela Barbuti Crescione, que, além de recorrer aos mesmos meios de Thaís Helena, passou madrugadas procurando por seu cachorro Puppy.

“Teve dias que eu não queria nem voltar para casa porque todo lugar que eu olhava via a carinha dele”, conta ela, que reencontrou o animal após 20 dias de procura.

Segundo Luciana Farah, do site Mania de Cão, felizmente, 80% dos casos de animais perdidos terminam com um final feliz. Mas a estatística tem também seu lado triste. “Infelizmente, a maioria dos animais que não retornam para seus lares morrem atropelados”, lamenta.

 

Final feliz

 

Amarelinha e Mel: uma dupla do barulho

Se perder um bichinho de estimação já é uma experiência dolorosa para qualquer pessoa, perder dois, então, é ainda pior. E foi justamente isso que aconteceu com Natália Godiano Siqueira, 31 anos, moradora da Vila Independência.

Era tarde do último dia 18 de agosto quando ela se deu conta de que suas duas cachorras, uma basset, chamada Mel, e uma sem raça definida, chamada Amarelinha, haviam sumido do quintal de sua casa.

“Fiquei desesperada. Elas nunca tinham saído de casa antes, por isso, imaginava que tudo podia acontecer. Minha primeira providência foi publicar o sumiço delas em sites e redes sociais. Depois, espalhei cartazes e panfletos pelo bairro e acionei os meios de comunicação”, conta Natália.

Mel foi a primeira a ser reencontrada. Estava em frente a um estacionamento, na avenida Castelo Branco, localizada no mesmo bairro onde Natália mora. Ela chegou até a cachorra por conta do dono do estacionamento, que sabia de sua procura e desespero para reencontrar o animal. Contudo, ao mesmo tempo em que ficou feliz por rever Mel, Natália sentiu-se um pouco decepcionada.

“É que até o momento eu acreditava que a Amarelinha estava junto. Neste momento, comecei a cogitar mil hipóteses. Cheguei até a pensar que ela podia ter sido atropelada”, relembra.

Com Mel em casa, Natália concentrou seus esforços na busca por Amarelinha. A cachorra, que não tem raça definida, chegou à vida de Natália há cinco anos.

“Eu havia acabado de sacrificar um cachorro por conta de uma doença. Certo dia, estava caminhando pela rua e notei que havia uma caixa de papelão no chão com um cachorrinho. Era a Amarelinha. Ela era tão pequena e tão novinha... Não tive coragem de ignorá-la”, conta.

A busca só terminou no dia 26 de agosto, nove dias depois do sumiço da cachorra. Ela foi encontrada por um policial militar, escondida no jardim da Base Sul.

“Ele viu que ela estava perdida e decidiu entrar no site Mania de Cão para ver se tinha alguém procurando por ela. Foi então que ele achou meu telefone e entrou em contato”, comemora.

Apesar de estar magra e com as patinhas machucadas por tanto andar, Amarelinha sobreviveu ilesa à aventura, para a alegria de Natália, que, mais descontraída, anunciou o reaparecimento da companheira nas redes sociais.

“Família completa! As duas cachorrinhas estão em casa.”

E acrescentou, em tom de brincadeira: “De tonta a Amarelinha só tem a carinha (rsrsrs), a baladeira estava na Getúlio!”

 

Bebê: vontade de voar

Quem já perdeu um cão ou um gato sabe que cada nova pista sobre o paradeiro do bichinho é um verdadeiro alento. Informações vindas de pessoas que por acaso cruzaram com o animal na rua servem como pistas e ajudam muito na localização. Já quem já perdeu uma ave de estimação, sabe que não pode contar com este tipo de ajuda, pois estes animais costumam passar a maior parte do tempo voando ou empoleirados em algum galho.

Débora Regina Pereira, 29 anos, viveu uma experiência bastante traumática. Apaixonada por calopsitas, ela mantém em sua casa uma verdadeira família da espécie, que soma 13 pássaros.

“Elas ficam soltas durante todo o dia. Tenho dó de manter no viveiro, elas reclamam muito. Por isso, costumo colocá-las lá dentro somente durante a noite”, conta.

E foi em um dia comum que Bebê, uma calopsita de 4 anos, desapareceu da casa de Débora.

“Quando dei conta, ela já não estava mais aqui”, afirma.

Apesar de ter 13 pássaros da espécie, Débora garante que reconhece cada um deles e que seria impossível não notar o desaparecimento de Bebê. Segundo ela, a ausência do pássaro foi percebida em pouco tempo.

“Assim que notei, coloquei anúncios em sites e redes sociais e comecei a busca pelo bairro. Fiquei muito preocupada. Apesar de ser um pássaro, Bebê é bastante carinhosa e fiel. Ela se comporta como um cachorro”, destaca.

Entre o sumiço de Bebê e seu reaparecimento se passaram três dias. Débora estava procurando pela ave nas redondezas de sua casa, na Vila Giunta, quando o bicho respondeu ao seu chamado com muitos piados.

“Eu ouvia e não sabia de onde estava vindo o som. Então comecei a bater na casa dos vizinhos e perguntar”, conta.

E foi umas três casas para baixo da sua que ela reencontrou a ave.

“Quando a vi nem acreditei. Estava na casa de uma vizinha. Ela não sabia que era meu. A mulher o encontrou no quintal da casa dela e resolveu cuidar dele. Essa foi a minha sorte. Se ninguém tivesse o encontrado, não sei o que teria acontecido”, cogita, realizada.

 

Teddy e Missy: pregando sustos na família

Para a maioria das pessoas, a passagem do ano significa uma época de mudanças e de renovação da esperança. Por conta disso, o fim do último dia do ano velho e a chegada do primeiro dia do Ano Novo é comemorado em todo o País com muitos fogos, pompa e circunstância.

Porém, para Thaís Helena Areco de Góes, 29 anos, a chegada de 2012 foi bastante diferente. Nada de alegria nem de curtição. Isso porque os fogos de artifício da noite anterior acabaram assustando um dos membros da família Góes, o gato Teddy, que, com medo e sem entender nada da festança, acabou fugindo de casa.

“Foi terrível. Minha casa tem tela em todos os lugares, exceto na janela da parte de cima do sobrado. Neste dia, o Teddy ficou tão aterrorizado com os fogos, que pulou a janela e desapareceu. Levou 10 dias até encontrarmos ele”, relata.

Enquanto o gato não aparecia, Thaís Helena fez o que pôde: anunciou em sites, jornais, redes sociais, rádios, além de alertar toda a vizinhança, espalhar cartazes com a foto do bichano pelo bairro e rezar diariamente.

A notícia alentadora veio no dia 10 de janeiro, quando uma vizinha resolveu ir até uma casa de sua propriedade que estava fechada para verificar como estava o imóvel e encontrou Teddy escondido lá.

“Então, ela veio correndo me contar. Mas, como ele estava muito assustado, acabou escapando e a vizinha não conseguiu pegá-lo”, conta.

Sabendo que o gato estava próximo, Thaís Helena espalhou a comida do animal pela calçada e esperou até que ele reaparecesse em busca de alimento.

“Deu certo! Agora o Teddy está em casa e a família está completa novamente”, comemora ela.

Mas esta não foi a primeira vez que Thaís Helena perdeu um de seus bichinhos. Em agosto de 2011, sua cachorra Missy, da raça akita, desapareceu. A família estava em viagem quando a cachorra escapou pelo portão, que havia sido esquecido aberto.

“Quando cheguei foi um susto enorme. Fiz o que pude para reencontrá-la: até carro de som eu contratei. A Missy voltou para o nosso lar três dias depois. Foi um alívio. Eu não conseguia parar de chorar”, lembra.

Para comemorar a família completa, Thaís Helena agendou um horário em um estúdio de fotografia, onde posou ao lado de toda a família.

“Fiz questão de leva-los ao estúdio, pois queria uma foto da família inteira”, afirma.

 

Puppy: escapadinha para namorar

 

Desespero. Esta é a melhor palavra para definir o que Daniela Barbuti Crescione, 32 anos, sentiu ao se dar conta de que seu cachorro Puppy havia fugido de casa. No total, foram 20 dias de busca incansável pelos bairros da cidade regadas a muito choro e oração.

Puppy, que não tem raça definida, chegou à vida de Daniela há 1 ano e meio. Ela o encontrou em um terreno baldio, ao lado de sua casa, depois de seguir o barulho choro do animal que quebrava o silêncio da madrugada.

“Foi amor à primeira vista. Assim que o encontrei, levei ele para casa, preparei uma caminha bem quente e dei água e comida”, lembra.

E se aquele foi um dia de boas lembranças para Daniela, o mesmo não se pode dizer do último dia 17 de agosto. Ao chegar do serviço, notou que havia algo errado: o cão, que estava habituado a esperá-la no portão, não estava por lá.

“Foi o pior dia da minha vida. Chamei por ele e nada. Então, uma vizinha veio falar comigo e me contou que um outro vizinho foi cortar uma árvore e que, por acidente, o muro de casa havia quebrado e o os meus três cachorros tinham fugido. Ela disse que chamou e dois voltaram, menos o Puppy”, conta.

Com a notícia do desaparecimento, Daniela passou a madrugada procurando o cão. No dia seguinte, recorreu às redes sociais e aos meios de comunicação.

“Fiquei muito desesperada. Como não consigo engravidar, meus cachorros são como se fossem meus filhos”, resume ela, que diz ter chorado muito durante o período em que Puppy ficou desaparecido. “Teve dias que eu não queria nem voltar para casa porque todo lugar que eu olhava via a carinha dele. Só voltava porque sabia que os outros cachorros dependiam de mim”, explica.

O desespero de Daniela teve fim 20 dias depois quando, ao caminhar do trabalho para casa, avistou um grupo de cachorros atrás de uma cadela no cio. Entre eles, estava Puppy.

“Fiquei tão feliz que não parava de tremer. Ele veio correndo me encontrar, começou a pular em mim. Uma vizinha do lugar presenciou nosso reencontro e me ajudou a segurá-lo, emprestando uma cordinha para amarrar ele. Foi o dia mais feliz da minha vida”, resume ela, que dá notícias de Puppy: “Hoje ele está muito bem. Aos poucos, está voltando a engordar e tem muito carinho”, frisa, feliz.

 

Samuel: uma aventura de 35 dias

 

Uma das características mais marcante dos gatos é, certamente, a independência. Acostumados a sair de casa para passear, se alimentar ou namorar, diferentemente dos cachorros, a maioria dos gatos pouco depende dos donos.

Mas este não é o caso de Samuel. Com 3 anos, o bichano de Lisete Agnelli não tem o hábito de sair de casa desacompanhado da dona. A única vez que se arriscou, acabou se perdendo.

“Além do Samuel, tenho outras três gatas em casa. Destas, apenas uma tem o hábito de sair. Quando o Samuel desapareceu, fiquei muito preocupada”, conta Lisete.

Ela se deu conta da perda do animal em uma segunda-feira pela manhã, quando acordou e viu que o bicho não tinha dormido com ela. Após chamá-lo e procurá-lo pela casa e não obter resposta saiu em busca pelo bairro. Além de espalhar cartazes pelas redondezas do Centro da cidade, região onde mora, anunciou o desaparecimento nas redes sociais.

“O sumiço do Samuel demorou 35 dias. É muito tempo! Neste período, recebi seis telefonemas informando sobre o seu paradeiro. Infelizmente, sempre que ia ao encontro do suposto Samuel, sempre me decepcionava, pois nunca era ele”, conta.

Neste meio tempo, além da angústia, Lisete teve de conviver com a vergonha.

“Quando espalhei os cartazes pelo comércio do bairro, pedi que as pessoas não tirassem até que eu não encontrasse o Samuel. Passou um mês e nada. Comecei a pensar que os comerciantes podiam estar incomodados com aquele anúncio... E nada do Samuel aparecer”, revela.

Depois de mais de um mês de angústia, finalmente Lisete recebeu a informação que a levaria a reencontrar seu gato: uma vizinha disse ter visto o bichano em uma casa abandonada próxima da padaria que durante 35 dias estampou o cartaz com as informações do desaparecido.

“Quando o vi, nem acreditei. Eu não tinha perdido as esperanças, é claro, mas sabia que seria difícil reencontrá-lo. Felizmente, deu tudo certo. O Samuel estava magro, sujo e fraco, mas com muito cuidado e carinho já está se recuperando”, conta Lisete, que afirma que o gato chegou a receber muitas visitas depois que retornou para a casa.

 

Para não perder

Se você, leitor, não quer ser mais um a fazer parte das estatísticas de donos que procuram por animais desconhecidos, vale seguir as dicas dadas por Luciana Farah, do site Mania de Cão. Confira abaixo:

•Identifique seu animal: uma simples plaquinha metálica pendurada em uma coleira contendo seu nome e telefone pode ser a solução no caso de seu cão, gato ou ave se perder.

•Mantenha portões fechados e cercas bem cuidadas: a maioria de casos de desparecimento de animais domésticos é causada por simples distração. Por isso, atenção ao portão e manutenção constante nas cercas.

•Leve seu cão ou gato na guia: elas são essenciais para sair para passear ou para levar seu pet ao veterinário. Cães e gatos, ao sair de seu ambiente, podem se sentir desorientados e assim escapar do controle de seu dono.   

 

•Cuidados nas viagens: a atenção deve ser redobrada nas viagens com cães e gatos. Caso precise deixar o bicho em casa, certifique-se de que ele terá um lugar adequado e seguro para ficar. Animais desaparecidos em viagens são mais comuns que se possa supor e sua recuperação é mais trabalhosa e difícil.

 

Dicas importantes

Além dos cuidados que devem ser adotados para evitar que seu bichinho se perca, outras dicas servem como precaução. Castrar os animais é uma delas. Este cuidado funciona especialmente com gatos, que se tornam mais caseiros após o procedimento.

Outra dica importante está relacionada às festividades em que se utilizam fogos de artifício. O ideal é separar um cantinho especial para o bicho em datas como o Ano Novo, finais de campeonatos de futebol e festas juninas. Os fogos costumam deixar os animais desorientados, aumentando assim as chances de tentativa de fuga.

Por último, tenha sempre fotos de seu pet atualizadas. Elas podem ser muito úteis na produção de cartazes, panfletos e anúncios em meios de comunicação e redes sociais caso ele escape.

 

Perdi!

Se caso as dicas para evitar a perda de seu animal de estimação chegaram tarde demais, não se desespere. Há várias formas que podem ajudar você a recuperar seu companheiro. Enxugue as lágrimas e leia abaixo as dicas dadas por Luciana Farah, do site Mania de Cão.


•Anuncie: rádios, jornais, redes sociais e sites de animais perdidos ajudam (e muito!) nesta busca.

•Faça panfletos: cartazes coloridos, com a foto do animal perdido, podem ajudar nesta busca. Além disso, é preciso informar se o bicho é dócil ou agressivo, qual seu porte, o nome pelo quaI atende e o telefone de contato. Ao invés de apelos emocionais, como “criança doente”, recomenda-se colocar “recompensa”.

•Espalhe os panfletos: Contrate um motoboy de sua confiança para afixar os cartazes na região onde o animal desapareceu. Bons pontos são pontos de ônibus, escolas, mercearias, supermercados e telefones públicos, além do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e clínicas veterinárias.

•Alerta: nos primeiros dias após a perda do animal, passe a madrugada atenta. Se ele estiver em alguma casa nas proximidades, certamente, vai latir nas primeiras noites.

•Cuidado: nunca vá sozinho em busca do animal quando receber denuncia sobre o paradeiro do bicho. Pode ser bandido aproveitando a recompensa para assaltar.

•Não desista: cães e gatos não evaporam. Você vai encontrá-lo de qualquer maneira!

 

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