Articulistas

A professorinha

professora Valderez de Mello
| Tempo de leitura: 2 min

Professorinha! Assim era chamada carinhosamente a jovem que, recém-formada na Escola Normal, tinha como primeiro trabalho lecionar na Escola Rural. Quando apeava da charrete de manhãzinha, ainda com o orvalho matinal a brilhar sobre a grama verde da fazenda, os alunos já aguardavam a mocinha que abraçava confiante os livros sobre o peito e adentrava no prédio rústico, de chão de tijolos, sem forro, onde um quadro negro, o apagador, a caixinha de giz e quatro fileiras de carteiras formavam o curso primário: cada fileira uma série. No telhado tosco as andorinhas faziam seus ninhos e pela porta da frente galinhas d?angola entravam e saiam, cantarolando: tô fraca... tô fraca...

A menina de lindas tranças oferecia um buquê de sempre-vivas e girassóis do campo e o menino alegre debruçava sobre a mesa, uma exuberante cesta de maracujás amarelinhos. A professorinha dizia bom dia, colocava as flores no vaso, enchia a moringa de água fresquinha tirada do poço e iniciava a aula, com os alunos entoando com emoção a inesquecível Oração à Pátria: "Brasil! Nesta casa de educação e ensino, constantemente pensamos em ti. Em teu passado de glórias, em teu presente de realizações salutares, em teu glorioso porvir, possas tu, Pátria amada, te orgulhares um dia dos filhos teus que nesta hora te saúdam."

A cartilha, o caderno, a régua de madeira, o lápis preto e a borracha: tudo o que precisavam para aprender. E, entre o cantar ritmado da tabuada e o recitar da pata-nada, a hora do recreio chegava e as crianças desembrulhavam o alvo guardanapo a exibir grandes fatias de pão caseiro recheados de queijo fresco e goiabada. A professorinha partia alguns maracujás, misturava a polpa dourada com a água da moringa, adoçava com açúcar cristal e enchia as canequinhas luzidias com o suco natural. No imenso gramado, alguns brincavam de pega-pega ou ciranda-cirandinha, outros se deliciavam no vai e vem do balanço pendurado nos galhos do jatobazeiro.

Meio dia! Sol a pino! A charrete da fazenda aguardava a professorinha que, feliz, voltava para a cidade. As crianças, com o embornalzinho de brim a tiracolo, a brincar pela trilha ladeada de flor-de-São João, acenavam na curva do caminho. Era nessa escola simples, onde a professorinha era importante e respeitada, que milhares de cidadãos aprenderam a ler e escrever. A simplicidade nunca deveria fenecer, pois é das coisas simples que nasce o que fica para sempre.

A autora, professora Valderez de Mello, é escritora, advogada, autora do livro "Quintal de Sonhos"

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