Geral

Entrevista da Semana: José Guerxis de Aguiar

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 9 min

Malavolta Jr.

Coronel Guerxis diz ter recebido de Deus o talento para trabalhar nos bombeiros. Mas tem outros, como o de pizzaiollo nas horas vagas.

Mais do que comandar, o tenente-coronel José Guerxis de Aguiar, comandante do 12º Grupamento de Bombeiros, busca inovação e solução para os problemas. “Fizemos uma verdadeira revolução na regional de Bauru. Hoje, todas as viaturas são novas e a nossa área tem alguns assuntos de ponta que as outras unidades vêm buscar”, destaca.

E foi ainda na infância que surgiram o talento e a vocação para a carreira militar quando o menino José se pegava olhando no espelho com as coberturas do um tio coronel da Polícia Militar: Eu gostava de ver como eu ficava vestido de militar”.

Já a carreira do tenente-coronel começou em 1980 com a sua entrada na Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB). De lá para cá, o trajeto percorrido foi grande, cheio de desafios e conquistas.

Homem religioso, o tenente-coronel também se dedica à ações solidárias, principalmente quando o assunto é colocar as mãos em massas de pizza. Isso porque fazer pizza é o seu hobby preferido. Conheça outras histórias pessoais e profissionais do comandante, abaixo.


Jornal da Cidade – A carreira militar sempre foi um desejo?

Tenente-coronel José Guerxis de Aguiar – Eu tinha um tio coronel da reserva da Polícia Militar e, quando eu era criança, sempre que ele visitava a nossa casa eu me pegava colocando as coberturas dele e indo ao espelho ver como é que eu ficava (risos). Em 1980, eu entrei para Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB) e, em 1983, terminei o curso e fui trabalhar como aspirante oficial em Araraquara. Trabalhei até agosto, quando fui promovido a segundo tenente. Uma semana antes eu me casei com a Márcia.


JC – Márcia foi a sua primeira namorada?

Guerxis – Sim. E eu também fui o primeiro namorado dela. Namoramos por cinco anos e estamos casados há 28 anos. Estamos juntos desde a nossa adolescência. Minha “nota 10” vai para ela.


JC – E continuou em Araraquara até quando?

Guerxis – Em 1985, eu prestei um concurso interno para os oficiais da polícia, passei, fiz um curso durante um ano na escola de bombeiros, instalada na época na Barro Branco e na Fatec de São Paulo. Em dezembro deste mesmo ano, eu fui classificado na cidade de Marília, onde trabalhei por 10 anos como tenente. Fui promovido a capitão e fiquei um ano fora no policiamento, em São Paulo. Voltei para os bombeiros e assumi Botucatu.


JC – E como chegou a Bauru?

Guerxis – Em janeiro de 1996, eu assumi o comando das regiões de Botucatu, Avaré e Piraju. Trabalhei durante nove anos como capitão dessa região até ser promovido a major e vir para Bauru. Nos três últimos meses antes da minha promoção, o coronel já me trouxe para Bauru. Isso aconteceu na época em que implantamos a taxa e o fundo do bombeiro na cidade. 


JC – O senhor é especialista neste assunto, certo?

Guerxis – Sim. Implantei o projeto em todas as cidades das regiões de Botucatu. Em 2005, eu fui classificado como major, mas aconteceu um fato interessante na minha promoção. Logo que eu fui promovido, o coronel disse que a unidade estava em boas mãos e que iria embora. Ele tinha afastamento até setembro e eu, da noite para o dia, passei a ser subcomandante e comandante, ou seja, não exerci a minha função de subcomandante e estou no comando desta região desde 2005. Comecei a comandar Bauru ainda como major. 


JC – E quais foram os seus primeiros passos?

Guerxis – Começamos a reestruturar a unidade que enfrentava problemas financeiros. Como eu já tinha implantado a taxa e o fundo do bombeiro em Bauru, eles permitiram que eu fizesse aqui o que eu fiz na região de Botucatu. Nossa meta era transformar esse primeiro subgrupamento, que envolve Bauru, Jaú e Lins, no mesmo que a gente tinha feito na outra região. E aí começou uma verdadeira revolução na regional de Bauru, porque, com recursos financeiros, você consegue dar asas aos seus sonhos.


JC – E quais eram esses sonhos?

Guerxis – Todo mundo sonha em ter viaturas, equipamentos de primeira, quartéis com condições técnicas para que os bombeiros possam treinar... E de 2005, 2006, para cá, nós começamos a desenvolver esse trabalho. Hoje, todas as nossas viaturas são novas. Foi muito gostoso eu ter começado cedo como comandante porque eu ganhei uma bagagem como major e, logo que eu fui promovido a tenente-coronel, eu fui convidado a montar um grupamento em Araçatuba, que era uma área problemática. Graças a Deus, em um ano, eu consegui deixar as coisas tranquilas para que eles pudessem continuar o trabalho. Depois, voltei para cá e terminamos o trabalho almejado. Hoje, a nossa área tem alguns assuntos de ponta que as outras unidades vêm buscar.


JC – Pode dar exemplos?

Guerxis – Além da taxa de fundo, em épocas de seca, a gente contrata avião para fazer frente aos incêndios florestais, temos equipamentos de ponta que são usados nos países ricos e que somente agora estão sendo comprados no Brasil, estamos mandando bombeiros para fazer especialização na melhor escola do mundo, que fica no Texas. Todo ano, a gente manda cinco ou seis bombeiros que aprendem novas técnicas e depois ensinam para os colegas. Tudo isso porque pensamos na parte financeira do Corpo de Bombeiros. Foi um desafio, mas foi um desafio que contou com as mãos de Deus.


JC – Novos planos?

Guerxis – O nosso recente desafio diz respeito à expansão dos serviços de bombeiro, onde estou como assessor direto do comandante, no Estado, para ajudar o Corpo de Bombeiros a ser colocado em todos os municípios. Hoje estamos em 140 das 645 cidades. Começamos o ano passado e já estamos operando em Bariri, Agudos e Itatinga. Cada município precisa de uma estrutura específica, de acordo com o tamanho de sua população. Contamos com a ajuda do deputado estadual Pedro Tobias (PSDB) e do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para a mudança de uma legislação em vigor desde 1675, que era muito fechada e encarecia a instalação dos bombeiros para os municípios. A ideia é também trabalhar com a comunidade. A gente coloca uma célula dos bombeiros na cidade, as unidades maiores dão suporte nas ocorrências maiores e o pessoal começa a trabalhar na comunidade treinando pessoas para ajudar em emergências, como já é feito nos países da Europa, por exemplo. Já estamos programados para chegar em mais umas 14 cidades da região.


JC – Qual foi a ocorrência que mais marcou?

Guerxis – Tem uma que eu sempre cito. Quando eu trabalhava em Marília, eu atendi a ocorrência de um suicida que era gerente de marketing de uma multinacional, até ganhei uma medalha na ocasião. O normal é você chegar e começar a conversar com a pessoa que quer se matar, mas ele já foi logo dizendo que era especialista em marketing e que não seria qualquer conversa que o impediria de morrer. Ele estava fechado em casa com dois botijões soltando gás. A casa era de laje e não tinha como entrar, as janelas tinham grade e eu comecei a conversar por um vidro quebrado. Só sei que a ocorrência começou às 10h e eu só consegui tirá-lo de lá às 14h30. Ele abriu a porta, eu fui lentamente entrando e abrindo as janelas. Deixei todo mundo afastado com as mangueiras ligadas. A única coisa que eu vi naquele momento, em que a casa estava com um risco enorme de explosão, foi um quadro de Jesus Cristo na parede. Depois que passa é que você vê o risco corrido, mas esse é o nosso trabalho. Ter participado dos Jogos Mundiais dos Bombeiros, ano passado, também marcou bastante.


JC – Em 2012, o senhor participou dos Jogos Mundiais de Bombeiros, certo?

Guerxis – Isso aconteceu entre os dias 17 e 27 de outubro de 2012, em Sidney, na Austrália. Recebi como prêmio da Fundação Conrrado Wessel  a missão de chefiar a equipe de 32 bombeiros (homens e mulheres) onde participamos de provas olímpicas e provas específicas. Em uma delas foi preciso subir em um prédio de 77 andares para resolver uma ocorrência dada. Formamos uma equipe de futebol dos bombeiros brasileiros e conseguimos a segunda colocação. Eu e minha esposa aproveitamos a viagem para fazer uma segunda lua de mel.


JC – O senhor sempre fala em Deus...

Guerxis – Eu fui criado assim. Sou católico, respeito muito as outras religiões e acho que a gente sempre precisa buscar o apoio de Deus, porque sozinhos não somos nada. Ele nos dá talentos para que a gente ajude as pessoas neste mundo. Eu recebi o talento de trabalhar no Corpo de Bombeiros e sempre busquei fazer o meu melhor. O que eu posso fazer para ajudar, eu faço. O conhecimento só é importante quando é passado para os outros.


JC – É um militar pizzaiolo (risos)?

Guerxis – Eu gosto de cozinhar. Gosto de fazer feijoada, carnes diferentes, mas a pizza é a minha paixão. Recentemente, eu até desenvolvi um jeito de fazer pizza que acabou ganhando notoriedade na região: a pizza de churrasqueira. Arrumei uma pedra de granito, cortei e mandei fazer uma tampa. A pizza nela fica uma delícia e já virou tradição em casa, entre os amigos, com os bombeiros... Aonde eu vou o pessoal pede para que eu ensine (risos).  Eu também tenho um sabor que é minha especialidade. Aprendi a fazer uma pizza baiana em Marília e minha filha a apelidou de “bombeirinha”, porque é ardida e você precisa tomar algo em seguida (risos).


JC – Como é o seu trabalho voluntário com a pizza?

Guerxis – Como voluntário, eu faço pizzas de forno à lenha no meio da praça em quermesses. Comecei a fazer para ajudar a Paróquia São Benedito de Botucatu há 15 anos e isso virou tradição. Também já ajudei na Apae ...


JC – Já pensa na aposentadoria?

Guerxis – Provavelmente, no final deste ano eu me afaste para a aposentadoria. Sinto-me bem pelas sementes que eu plantei, e trabalho desde os 8 anos de idade. Nessa época, em Pederneiras, eu ensacava  biscoitos para ajudar nas despesas de casa. Éramos em seis irmãos e para o meu pai não era fácil arcar com tudo. Tenho tido muito contato com prefeitos, vereadores, secretários, deputados... E tenho vontade de entrar para a política na minha cidade, em Botucatu. Já fui convidado, mas preferi esperar a aposentadoria.


Perfil

Nome: José Guerxis de Aguiar

Idade: 50 anos

Local de Nascimento: Pederneiras/SP

Esposa: Márcia Cristina

Filhos: Natália, Tatiana e Marcelo

Hobby: Fazer pizza e ajudar as pessoas

Livro de cabeceira: Bíblia

Filme preferido: Gosto de aventuras

Estilo musical predileto: Eclético

Time: Santos

Para quem dá nota 10: Para a minha esposa

Para quem dá nota 0: Para a corrupção no Brasil

E-mail: guerxis@gmail.com

 

Comentários

Comentários