O mercado brasileiro de televisores está prestes a aposentar a velha TV de tubo. Com a rápida queda nos preços das TVs de tela fina, que em um ano recuaram até 40%, a diferença entre o custo de um aparelho que usa a tecnologia mais antiga, do cinescópio, e uma TV de LED, com recursos mais modernos, ficou praticamente insignificante. É exatamente por isso que especialistas preveem o fim da produção do televisor de tubo neste ano.
Dos 14,160 milhões de aparelhos fabricados em 2012 no País, os televisores de tubo somaram 1,215 milhão, segundo estatísticas da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). A maior parte das vendas (91,4%) foi de televisor de tela fina (plasma, LCD e LED). O curioso é que a pequena parcela 8,6% da TV de tubo nas vendas da indústria de 2012 corresponde praticamente à participação que as TVs de tela fina tinham cinco anos atrás. Em 2007, a fatia das TVs de tela fina no total era de 8,8%, com cerca de 1 milhão de aparelhos.
O avanço tecnológico e o aumento na escala de produção reduziram os custos de fabricação e também os preços ao consumidor das TVs de tela fina. Isso contribuiu para ampliar o mercado dos aparelhos fininhos em detrimento das TVs de tubo, que chegaram até a ter alta de preços em alguns modelos por causa da escassez de componentes.
Levantamento feito pela reportagem em sites de comércio eletrônico na semana passada mostrou que as ofertas de TVs de tubo eram raras. Numa dessas raras ofertas, uma TV de tubo de 21 polegadas saía por R$ 419 ou 12 prestações de R$ 34,92. Já uma TV de LED de 22 polegadas, Full HD, custava R$ 590, ou 12 vezes de R$ 49,17. A diferença entre o valor das prestações era R$ 17.
“Os preços entre as TVs de tela fina e as de tubo do mesmo tamanho estão cada vez mais semelhantes”, diz o presidente da Eletros, Lourival Kiçula. Ele acredita que a produção de televisores de tubo esteja perto do fim.
Essa também é a avaliação do diretor de pesquisa da consultoria IT Data, Ivair Rodrigues. “O preço da TV de tubo ficou pressionado. A tendência é acabar a produção local de TV de tubo este ano porque a tela fina está muito barata”, prevê o consultor.
Para o gerente-geral de marketing da Sony Brasil, Carlos Paschoal, “já passou o tempo de a TV de tubo sair de linha”. Faz cinco anos que a Sony parou de fabricar o produto. “Fomos os primeiros.” Há duas marcas de TV de tubo ativas: Philco e Semp.
A TV de tubo com a marca CCE parou de ser produzida em 2011. A Cemaz, que ficou com a linha de produção de tubo, após a venda da Digibrás para a chinesa Lenovo, informa que hoje só administra a assistência técnica para as TVs de tubos vendidas.
“A TV de tubo ficou pressionada”, afirma Rodrigues, do IT Data. Ele observa que o que apressou o fim de TV de tubo foi o barateamento das telas de TV de LCD produzidas pelos coreanos. Um ano atrás, um televisor de tela fina de alta definição custava R$ 3 mil. Agora pode ser comprado por R$ 1,6 mil.
Em contrapartida, os preços das TVs de tubo tiveram comportamentos distintos no mesmo período. Pesquisa da Shopping Brasil, consultoria especializada em pesquisa de preços no varejo, feita a pedido da reportagem, mostra que o preço médio da TV de tubo de 14 polegadas em anúncios impressos aumentou 23% entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012. No mesmo período, o modelo de 21 polegadas ficou, em média, 7,3% mais barato. Já a TV de 29 polegadas praticamente deixou de ser ofertada.
Na avaliação da Viavarejo, que reúne as redes Casas Bahia e Ponto Frio, a venda de TV de tubo deve acabar este ano. Já as Lojas Colombo informam que os televisores de tubo representam entre 8% e 10% das vendas de TVs.
Eventos esportivos vão impulsionar o mercado de TVs
Fabricantes de televisores iniciaram os preparativos para ampliar as vendas de TVs neste ano por causa da Copa da Confederações, marcada para junho, e da Copa do Mundo de 2014. Normalmente, em anos desses eventos, há um pico de vendas de televisores.
Mas há dois ingredientes adicionais para impulsionar o mercado de TVs no biênio 2013/2014. O primeiro é que o País será a sede das duas Copas. E, pelo alto custo dos ingressos, a maioria dos brasileiros certamente não terá acesso aos estádios. Isso reforça a opção por uma TV mais moderna para assistir aos jogos.
O segundo fator que deve ampliar as vendas de televisores é que existe um potencial muito grande de renovação de tecnologia. Nas contas do gerente-geral de marketing da Sony Brasil, Carlos Paschoal, a velha TV de tubo está presente em 82% dos lares brasileiros, enquanto a fatia dos televisores fininhos ainda é pequena, de 18%.
A Sony, uma das patrocinadoras oficiais da Copa, aposta na TV 4K 3D para os dois eventos. O diferencial dessa TV é a qualidade de resolução das imagens, que é quatro vezes superior à proporcionada pelos aparelhos com tecnologia Full HD.
Importado da China, atualmente o produto disponível tem tela de 84 polegadas e custa R$ 100 mil, preço equivalente ao de um carro zero de luxo. Paschoal conta que em maio deste ano essa TV começará a ser produzida no País, na fábrica de Manaus (AM), em modelos a partir de 40 polegadas. A fabricação local deve fazer o preço cair. “Esse televisor terá preço acessível à nova classe média”, prevê.
O executivo acrescenta que a estratégia da companhia para ampliar as vendas de TVs com as duas Copas será unir produto com entretenimento. Por isso, a empresa acaba de lançar uma plataforma online de relacionamento, batizada de “Campo Sony”. Por meio dessa plataforma, a fabricante de TVs vai promover uma espécie de “Copa” na rede social, com sorteio de ingressos para os jogos, prêmios e até descontos na compra de aparelhos.
A expectativa da companhia, que, segundo Paschoal, ocupa a terceira posição no mercado de TVs, é ampliar a sua participação com esses dois eventos. No ano fiscal que termina em maio, as vendas de TVs da Sony Brasil cresceram 15% em valor, na comparação com o ano anterior.
“Serão dois anos (2013 e 2014) muitos bons para vendas de TVs”, prevê o diretor de marketing para TVs da Samsung, Marcelo de Mello Franco. Ele diz que, “em breve”, a companhia vai apresentar os lançamentos de TVs para Copa. O executivo observa que a tendência é a migração para telas maiores, com destaque para as TVs inteligentes (Smart TV), controladas por comando de gesto e voz.
Oled
Segundo José Francisco Alvarenga, coordenador setorial de áudio e vídeo da Eletros, a aposta da indústria para a Copa será em Smart TV e nos aparelhos com tecnologia Oled. A TV Oled é a sucessora do LED, com melhor resolução de imagem e muito mais fina do que a TV de LED. “É como se fosse um papel”, compara Alvarenga. Ele observa que essas TVs são grandes, com telas acima de 50 polegadas. O preço desses aparelhos varia entre R$ 30 mil e R$ 40 mil.
Eduardo Toni, diretor de marketing da Semp Toshiba, não considera que a TV Oled terá escala de produção e venda para Copa. “O produto está em fase de protótipo.” A sua empresa apresenta em abril uma nova linha de TVs de tela fina, com tamanhos que variam entre 21 e 65 polegadas. O foco será a TV 3D e a Smart TV. Diferenças de tecnologia à parte, a Eletros projeta para este ano vendas de 14,5 milhões de TVs. Para 2014, deve passar de 15 milhões.
Sobrevida
“Para nós existe uma demanda muito grande por TV de tubo”, afirma Marcelo Granja, diretor de áudio e vídeo da Britânia, que produz TVs com a marca Philco. Ele observa que o consumo desse tipo de aparelho é significativo no Nordeste, no Sul, no interior do Estado de São Paulo e de Minas Gerais.
Mas ele pondera que a produção começa a ficar inviável por causa do aumento de preços dos componentes, que subiram cerca de 20% em dólar na contramão dos componentes das TVs finas, que ficaram mais baratos.
“O mercado de TVs de tubo está em fase final. A produção vem caindo mês a mês”, afirma Eduardo Toni, diretor de marketing da Semp Toshiba. Ele não revela volumes fabricados, mas diz que a fatia do produto no total de TVs não chega a 2 dígitos. “Não consigo afirmar se a produção será encerrada este ano.”