Não precisa ser muito atento para observar a quantidade de cabos e fios baixos e pouco tensionados em postes de luz em todas as cidades, sem distinção. O emaranhado, além de esteticamente ruim, pode ocasionar acidentes. Em Bauru, é comum caminhões atingirem fios e, por consequência, derrubarem postes. E quando isso acontece, transito lento e algumas horas sem telefone, Internet ou mesmo eletricidade são algumas das consequências.
De acordo com o professor e vice-diretor da Faculdade de Engenharia de Bauru (FEB) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), José Ângelo Cagnon, há alguns anos os postes foram projetados para a fiação elétrica de baixa e de alta tensão. Posteriormente e separadamente, veio a fiação telefônica. Entretanto, quando estes foram agrupados em cabos, passou-se a utilizar a posteação de energia também para este fim.
“Hoje, temos cabos de Internet e muitos outros serviços que criam um peso extra e exigem um esforço maior destes postes que chegam a ficar flexionados”.
E em função da utilização da telefonia celular e da Internet como comunicação, a tendência é que a rede física de telefone se torne totalmente obsoleta em um curto período de tempo. “Entretanto, ela está se tornando obsoleta, sendo desligada, mas esquecida nos postes”, enumera Cagnon.
Cada empresa com o seu fio
Mas de quem deve resolver o problema? A CPFL Paulista informou que não pode mexer em fios e cabos de empresas de TV a cabo ou telefonia, por exemplo, e que todas as manutenções e substituições de postes que possuem serviços compartilhados com as empresas de comunicação são programadas e as empresas parceiras avisadas com antecedência para que as mesmas possam garantir a integridade de suas redes e o funcionamento de seus respectivos serviços.
A CPFL Paulista garantiu ainda que, sempre que for identificado algum cabo de energia elétrica rompido ou caído no chão, o serviço emergencial da empresa pode ser acionado pelo telefone 0800 010 1010, pelo e-mail paulista@cpfl.com.br ou pelo site www.cpfl.com.br.
Já a Telefônica/Vivo informou que realiza constantemente manutenções preventivas seguindo as normas técnicas brasileiras e que mantém a central de atendimento 103 15, 24 horas por dia.
A NET esclarece que suas redes estão localizadas, em grande parte, em áreas externas, compartilhando postes das concessionárias de energia elétrica e que a empresa realiza constantemente a manutenção de seus cabos. O cancelamento de serviços, retirada de equipamentos e reparação nos cabos devem seguir um procedimento feito por telefone ou pessoalmente, em Bauru, na avenida Duque de Caxias, 466 – Jardim Marambá.
No meio do caminho...
Enquanto rodava pela cidade, a reportagem não só encontrou muitas histórias e reclamações sobre a fiação baixa, como também se deparou com cabos que praticamente vieram ao solo na avenida Pinheiro Machado, esquina com São Sebastião. Sem visibilidade, alguns motoristas precisaram da ajuda de pedestres para passar pela avenida, que só foi sinalizada pelo frentista Benedito Aparecido Caviochiolli.
“É comum caminhões passarem e arrancarem até postes por aqui. A fiação é muito baixa. No posto de gasolina onde eu trabalho temos cones preparados para sinalizar que há perigo na rua. Já pensou se escurece e vem um veículo em alta velocidade? Leva fios e pode até causar um acidente se derrubar cabos de alta tensão”, preocupa-se.
População ‘se vira’ como pode
Cansados de esperar e sem saber a quem recorrer, moradores se sentem prejudicados
Cansado de ligar para a operadora de telefone responsável pelos fios soltos no poste em frente ao seu trabalho - uma sapataria localizada na quadra 7 da rua Luiz Bleriot, no Jardim Europa -, e não ter o seu problema resolvido, o sapateiro Manoel Marcos Bonfim decidiu agir por conta própria: ele cortou os fios e os amarrou junto ao poste.
“Não aguentava mais esses fios frouxos. Clientes meus já enroscaram o pescoço nesses cabos. Eles ficaram assim depois que os postes foram trocados. São fios de linhas telefônicas desligadas. Eu ligo para a operadora responsável e nada. Cansei e cortei. Quem sabe agora eles olham para o problema”, desabafa.
O coordenador da Defesa Civil de Bauru, Álvaro de Brito, alerta que, apesar de não conduzirem energia elétrica, fios e cabos telefônicos não devem ser manuseados pela população porque podem estar desencapados e em contato com a rede elétrica e, dessa forma, podem causar acidentes por descarga elétrica.
Apesar de não ser o recomendado, a ação de Manoel é facilmente notada em outros bairros da cidade. A reportagem encontrou cabos cortados e amarrados a postes em várias localidades de Bauru.
No Núcleo Residencial Presidente Geisel, por exemplo, quem se preocupa é a vendedora Cristiane Edilene Martins. Na rua Cyrênio Ferraz de Aguiar, ela diz já ter visto faíscas saindo do emaranhado de cabos e fios. “A nossa preocupação é grande, principalmente pela proximidade com as casas”.
‘Não sabemos de quem é a criança’
Que parte da fiação de Bauru está baixa, isso muita gente nota e se preocupa. Mas o problema maior, segundo moradores, está na falta de informação sobre a quem recorrer para solucionar o incômodo.
Na quadra 2 da rua Antônio Molina, no Jardim Marambá, além de cabos baixos, são as caixinhas penduradas na fiação que incomodam os moradores, como a secretária Nádia Duque Ferreira Pavanato, que diz já ter presenciado caminhões derrubarem fios baixos no bairro.
“Aqui na rua os postes foram trocados há alguns meses e os fios ficaram frouxos. Ligamos para várias empresas prestadoras de serviço para saber quem é que deve colocar os fios em ordem e ninguém veio. Elas alegam que uma não pode mexer nos fios e cabos das outras e fica essa vergonha. Ninguém sabe de que é a criança”, exclama.
Indagada sobre a questão, a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal informou que o município não realiza a fiscalização de fios soltos. Reclamações deste tipo devem ser feitas diretamente às empresas.
Assim como outros vizinhos, Nádia ainda destaca que a fiação enrolada promove problemas como a interferência nas ligações telefônicas. Isso sem falar na preocupação gerada nessa época do ano onde chuvas e ventos fortes são constantes. “Os cabos parecem dançar na chuva. O que falta também é mais cobrança por parte da população, que se acomoda muito e não exige seus direitos”, finaliza.
A assessoria de imprensa da Telefônica/Vivo informou que mobilizou equipes técnicas e está tomando as providências necessárias para realizar os reparos na fiação de responsabilidade da empresa, citada pela reportagem dentro do menor prazo possível.
Subterrânea
Para Brito, uma cidade ideal teria toda a cabeação subterrânea, como o projeto inicial de Brasília. Entretanto, por ter um custo alto, dificilmente isso acontecerá a curto ou médio prazo em Bauru.
“Há um projeto para médio prazo que visa trocar a cabeação aérea do Calçadão da Batista de Carvalho por uma subterrânea. E, em alguns condomínios fechados da cidade, isso também já acontece”, destaca.
‘Gatos e escuridão’ também preocupam
Postes tortos, ruas escuras e o perigo das ligações clandestinas rondam muitos pontos da cidade
Se por um lado o emaranhado de fios e os cabos baixos incomoda e preocupa os moradores, por outro, a iluminação pública também é motivo de queixas constantes. Postes tortos e instalados de forma errada e lâmpadas apagadas são as principais queixas que chegam até a imprensa.
Não é difícil encontrar quadras onde apenas um poste tem lâmpada funcionando, o que representa uma afronta à segurança do cidadão. A reportagem do JC flagrou, várias lâmpadas apagadas nas quadras 5 e 6 da avenida Nuno de Assis, uma das principais vias de Bauru.
Elber Cano da Silva Miranda, morador da rua Tósio Fuzuoka, no Núcleo Fortunato Rocha Lima, recentemente procurou o JC, por meio da Tribuna do Leitor, para expor o seu descontentamento com o se serviço de iluminação pública e, segundo ele, descaso por parte da CPFL.
“Faz cerca de dois meses que estamos com vários postes sem luz na rua Tósio Fuzuoka. Foram várias tentativas de contato com a CPFL, sempre com a promessa de reparo em no máximo dois ou três dias e nada. Registrei o pedido de reparo e anotei o número do protocolo, mas continuamos com a rua às escuras. A população paga os impostos, as contas e não pode continuar com uma rua às escuras. É impossível transitar a pé depois das 21hs, sem contar o perigo por se tratar de uma região próxima à rodovia”, disse.
“Gatos”
Além de configurar furto pelo Código Penal, os gatos (como são popularmente conhecidas as ligações clandestinas de energia elétrica) representam perigo para quem faz e para quem vive próximo a esse tipo de instalação, segundo o professor e vice-diretor da Faculdade de Engenharia de Bauru (FEB) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), José Ângelo Cagnon.
De acordo com o professor, esse é um problema nacional mais expressivo nos estados do Norte e Nordeste, onde os gatos chegam a representar 40% do total da energia consumida pelos moradores. Em Bauru, somente no ano de 2010, a CPFL Paulista flagrou 180 ligações clandestinas em residências e estabelecimentos comerciais e industriais da cidade, o que somou cerca de 90 megawatts, o suficiente para abastecer aproximadamente 300 famílias durante um mês inteiro.
Entretanto, segundo a CPFL, a região de Bauru está entre as que menos apresentam problemas com ligações clandestinas de energia no Interior do Estado de São Paulo.
“Normalmente, o gato é feito por uma pessoa não habilitada que faz uma ligação não padronizada, então há risco tanto para quem faz, quanto para quem vive no lugar. Quando você faz uma instalação de energia elétrica nova, seja em residência ou indústria, ela é normatizada e vistoriada. Agora, conectada de qualquer maneira, com certeza é feita também de maneira errada”, alerta Cagnon.