Malavolta Jr. |
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Deve acabar hoje julgamento de Renato Valderramas, Ricardo do Amaral e Lincoln Cares |
O promotor Djalma Marinho Cunha Filho manteve a opinião de absolver os réus, durante sua fala no segundo dia do julgamento do caso Jorginho, que começou com pouco mais de uma hora de atraso. "Vocês já sabem qual é a minha opinião. Não posso trai-la", disse. Djalma falou por cerca de 10 minutos.
A mãe de Jorginho, Edith Francisquini Lourenço, não pôde assistir ao julgamento nesta quarta-feira (15) por determinação do juiz. Ontem ela se exaltou e acabou sendo retirada do Fórum.
Julgamento
Começou ontem o julgamento dos três ex-policiais militares acusados do assassinato do mecânico Jorge Luiz Lourenço, 22 anos, o Jorginho. Mais rápido do que o esperado após a dispensa de várias testemunhas, os réus foram interrogados ontem. Além deles, foram ouvidas oito testemunhas de defesa. Entre elas, o perito que realizou a reconstituição (leia mais abaixo). A postura do promotor surpreendeu os presentes, principalmente a família de Jorginho. A mãe do mecânico foi expulsa da sessão.
O julgamento dos ex-policiais Lincoln Cesar Cares, Renato Valderramas De Favari e Ricardo Antônio do Amaral começou com uma hora de atraso e se estendeu até as 22h. A acusação havia arrolado cinco testemunhas. Uma delas não foi e o advogado Sérgio Ribeiro decidiu dispensar o restante.
Já a defesa havia convocado 15 testemunhas, cinco para cada réu. Delas, uma não compareceu e seis foram dispensadas. Assim, oito foram ouvidas.
No começo da noite, começaram os interrogatórios. O primeiro dos réus a ser ouvido foi Lincoln Cesar Cares, 46 anos. Ele era o cabo e comandante da guarnição na noite em que Jorginho morreu.
Em sua versão, os policiais perseguiram Joginho até a entrada de um terreno baldio, quando pararam de ouvir o barulho da moto do mecânico. Com isso, Lincoln e Ricardo Amaral desembarcaram da viatura, que era guiada por Renato De Favari, e começaram a procurar o jovem.
Segundo o ex-cabo, ele foi pela esquerda enquanto seu parceiro foi pela direita. Já Favari ficou em um local mais alto. Foi quando viram “lampejos” de disparos e atiraram. “Chegamos perto e vimos o jovem caído. Peguei a arma dele e coloquei na minha cintura. Ele estava com a respiração ofegante. Percebemos que ele havia sido atingido e eu acionei o De Favari para vir com a viatura”, conta Lincoln.
O ex-policial, que tinha 17 anos de corporação, alega ter realizado quatro disparos com seu revólver 38, sendo que um deles “picotou”.
Renato Valderramas De Favari e Ricardo Amaral relataram terem disparado, cada um, três vezes na direção de Jorginho. Ambos confirmaram a mesma história de Lincoln, narrando detalhes desde o momento em que a viatura cruzou com Jorginho na Nuno de Assis com a Nações Unidas.
Um dos pontos debatidos foi em relação a uma possível adulteração do capacete da vítima. Ricardo, que foi policial por oito anos, afirma que, assim que viu Jorginho no chão, tirou o equipamento de Jorginho e jogou de lado, não tendo mais contato com o objeto. Testemunhas afirmaram que ele fora apresentado na delegacia por um perito.
O ex-soldado Renato De Favari confirmou que eles realizaram o socorro de Jorginho ao Pronto-Socorro Central. Contudo, o motorista foi questionado por ter, ainda no hospital, lavado a viatura. “O sangue iria penetrar no carpete. Por isso, usei luvas, uma vassoura e uma substância que espumava para lavar a viatura”.
O promotor
Uma das nuances do caso era a atuação do promotor Djalma Marinho Cunha Filho. Em 2010, ele havia pedido a absolvição dos réus, algo que foi revertido no ano seguinte no Tribunal de Justiça (TJ), em São Paulo.
Ao contrário do esperado, a postura inquisitiva e firme dele surpreendeu os presentes, principalmente a família de Jorginho, que chegou a pedir a anulação do júri. “O promotor não é de acusação. Ele é promotor de Justiça. Ao longo do processo e dos depoimentos, nossa decisão sempre pode mudar. É por isso que o Direito é lindo”, disse Djalma Filho, mesmo assim sem revelar se vai pedir a acusação ou a absolvição dos réus.
Por volta das 21h, após os interrogatórios, a sessão foi suspensa e recomeça na manhã de hoje com os debates. A previsão é de que, ao final do dia, saia o veredicto do corpo de jurados formado por três mulheres e quatro homens.
O caso
O mecânico Jorge Luiz Lourenço, 22 anos, foi morto no dia 5 de abril de 2007 com um tiro na cabeça após fugir de uma sinalização de parada da PM. Ele seguiu por várias vias, desobedecendo a sinalizações e dois bloqueios policiais. Durante a perseguição, nove tiros foram disparados, sendo um deles fatal.
Jorginho foi morto com um tiro que transfixou seu capacete. A bala que o atingiu não foi achada, o que impediu a comparação com as armas dos três policiais.
Segundo os acusados, antes de ser atingido, Jorginho, que estaria com uma moto com a placa virada, entrou em um terreno baldio e trocou tiros com a patrulha. No mesmo dia do ocorrido, houve uma fuga de presos do Instituto Penal Agrícola (IPA).
Já a família fala em execução e em adulteração de provas. Um dos indícios é que o jovem, que seria canhoto, apresentava resquícios de chumbo na mão direita.
O caso teve várias reviravoltas e, após seis anos, chegou ontem ao Tribunal do Júri.
Na mão do promotor
Uma das polêmicas que permeia o caso é a pólvora encontrada na mão de Jorginho. Os resíduos estavam na mão direita do jovem, que era canhoto. Além disso, a pólvora aparentava ter sido esfregada na mão do mecânico.
O fato gerou situação curiosa no Fórum. O promotor Djalma Cunha Filho pediu que o perito simulasse nele como é feito o exame residuográfico. Assim, o perito colocou um esparadrapo nas mãos do promotor, mostrando que a pólvora só é colhida da palma.
Drogas?
Perto do local onde Jorginho foi alvejado, a polícia encontrou pequenas porções de entorpecente. Há a hipótese de que a droga pertencesse ao jovem. Contudo, os policiais confirmaram ontem que o local era conhecido como um ponto de tráfico.
“Não seria incomum se droga fosse achada por ali”, afirmou o ex-cabo Lincoln Cesar Cares.
Bastidores
O promotor Djalma Marinho Cunha Filho, assim como o juiz e as advogadas de defesa das partes, Fernanda Cabello da Silva e Ieda Ribeiro de Souza, entraram no Fórum pelas portas dos fundos, que possui acesso restrito à imprensa.
Mais de 40 pessoas participaram do primeiro dia de julgamento. Entre elas, havia muitos estudantes de direito e familiares de Jorginho e dos três ex-policiais acusados.