Hoje, é dia dos namorados. Aqueles que criticam até o molho de macarrão feito pela mãe no domingo dirão que é uma data puramente comercial do capitalismo que nos devora e blá blá blá (provavelmente, finalizando com um "acorda Brasil" ao fim da fala). Porém, acredito que o mais pertinente e óbvio da data é falar sobre o que existe (ou deveria existir) entre todos os casais: o amor. Mas, o que é o amor? Segundo o maior pensador atual (só perdendo para o "pai Google"), a Wikipédia, amor "é o nível ou grau de responsabilidade, utilidade e prazer com que lidamos com as coisas e pessoas que conhecemos". Mas, espera aí... alguém entendeu tal definição?
Com certeza, não. É que o amor não tem definição. Calma. Este texto não vai descambar para a pieguice (ou vai) de descrever o amor por meio de vários paradoxos que ninguém entende e, por isso, concorda. É que, para mim, o conceito mais próximo do amor é o egoísmo. Egoísmo, sim senhor. O amor é, sem dúvida alguma, um dos sentimentos mais egoístas que existe.
Sabe aquela saída do seu namorado com os amigos? Lembra aquele "divirta-se" que você disse antes de ele sair? Ou aquele "boa festa" que ele mandou ao fim da mensagem de texto. Desculpe, entretanto, é tudo mentira. O namorado não quer que a namorada se divirta no chopp as amigas. Tampouco a namorada quer que o namorado curta assistir ao jogo de futebol com os amigos. Ambos esperam que não tenha ninguém no bar. Eles dizem um "bom passeio", mas o que queriam dizer é um "tomara que chova". Quando ela dá "boa sorte" no futebol, ela quer, na verdade, que acabe a energia bem na hora do pênalti aos 45 do segundo tempo.
Em relação às mensagens e ligações, há uma palavra sincera apenas. É o tal "juízo" que sempre está ali camuflado em meio a juras de amor. Ela não ligou para saber se você realmente está curtindo a noite. Só queria te lembrar de ter e usar o tal do "juízo".
E pasmem-se. Mas nem o "eu te amo" é sincero nessas horas. Nessa hora, ela não te ama. Ela quer mais é que te dê uma diarréia e que você tenha que voltar correndo para casa.
Lembra daquele ex que insiste em manter a amizade? É uma pessoa boa e tudo mais. Eles não estão mais juntos e você nem acha que haja um sentimento entre ambos. Tinha tudo para ser uma situação normal e bem resolvida. "Por isso, eu aceito a amizade de vocês dois". Mentira. Falácia. Você quer mais é que o ex morra trucidado por três tigres tristes e, depois, seja atropelado por três trens de trigo (tente falar isso rápido).
Anexo a esta lista de mentiras do amor, há o tão usado "boa sorte" que você diz (ou escuta) quando termina o namoro. Quando ouvir um desses, entenda como um "boa sorte, mas, espero que seu próximo namorado seja horrível, chato, tenha mau hálito, não te leve em lugar nenhum, te traía e que você sempre lembre que me perdeu e chore um monte". A verdade é que quem ama faz de tudo para ver o outro feliz. Mas quer essa felicidade por estar próximo. E, ora bolas, que mal tem isso? Que mal tem em querer ficar perto de quem ama? Que mal tem em desejar uma leve dor de barriga nela por querer sair sozinha? Como já diria Camões, "amar é nunca contentar-se de contente" (e lá vêm os paradoxos indecifráveis...).
Antes de sucumbir na pieguice de quem gosta de comédias românticas e novelas (sim, eu gosto. E daí?), encerro por aqui. Desejo um feliz Dia dos Namorados a todos. Enquanto isso, vou ali verificar se tem uma certa pessoa estendida nos trilhos do trem.
O autor, Vitor Oshiro, é um eterno sofredor do amor, repórter do JC e especialista em Linguagem, Cultura e Mídia