Renan Casal |
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A aposentada Nancy Bentini reclama da sujeira e do ruído que os morcegos emitem |
Para alguns, eles são vistos como um incômodo por fazerem sujeira e barulho durante a noite. Já para outros, são vistos como um animal inofensivo e que auxilia no equilíbrio da natureza. Vilão ou super-herói, o mamífero que inspirou a criação do personagem Batman e que protagonizou o terror em produções cinematográficas está a cada dia mais presente no cenário de algumas ruas em Bauru.
Basta anoitecer para que a árvore chapéu-de-sol, mais conhecida como sete-copas ou castanhola, comum na zona urbana de Bauru, fique tomada por morcegos.
O fenômeno, conforme explica o biólogo do departamento de zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu e especialista em morcegos, Wilson Uieda, decorre do período de frutificação dessas plantas, que culmina com a abundância dos chamados “coquinhos” nesta época do ano.
“São morcegos frugívoros e inofensivos aos seres humanos. Eles se alimentam da polpa externa desses coquinhos, quando maduros. O ‘grosso’ do período de frutificação da chapéu-de-sol é de maio a agosto. Esse tipo de morcego está presente o ano todo na zona urbana, mas a concentração maior nesta árvore acontece nessa época. Em setembro, será a vez das jabuticabeiras e amoreiras e, em novembro, das mangueiras”, acrescenta o biólogo.
Embora o plantio desse tipo de árvore em calçadas não seja proibido, é contraindicado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) por ser de grande porte. Contudo, não é preciso andar muito para encontrar uma sete-copas pelos bairros de Bauru, principalmente nas regiões centrais da cidade.
Incômodo?
Na quadra 9 da rua Aviador Gomes Ribeiro, na Vila Mesquita, o aposentado Ricardo Wagner Souza, de 64 anos, reclama da quantidade de morcegos que tomam as duas árvores existentes no local ao anoitecer. “Já liguei até na Semma pedindo para podarem essas árvores, para que diminua a quantidade de morcegos que ficam rodeando ali. A rua já é escura e eles ficam o tempo todo dando rasantes, quase tomei uma ‘morcegada’ outro dia. É perigoso, assusta e pode causar até um acidente”, critica.
Já a artesã Ninfa Zillmer, de 51 anos, que mora há dez anos quase em frente às árvores em questão, contesta. “Eles são totalmente inofensivos e ajudam no equilíbrio da natureza. O povo reclama demais. Se podarem essas árvores, ninguém vai aguentar o sol que bate aqui na rua”, rebate.
Moradora há oito anos da quadra 10 da rua Benjamin Constant, onde existem três sete-copas, a aposentada Nancy Bentini, 74 anos, reclama da sujeira e do barulho que a “morcegada” tem feito.
“Pode lavar com o que for que essas marcas não saem. Todo inverno é a mesma coisa, eu estava estranhando a demora deles neste ano, mas chegaram. A morcegada suja tudo por aqui e faz um barulhão à noite derrubando os coquinhos em cima da casa. Já cheguei a assustar pensando que era ladrão”, conta a aposentada, mostrando as várias marcas de fezes dos animais na parede da casa.
Proteção
Por meio de nota, o Centro de Controle de Zoonoses, órgão da Secretaria Municipal da Saúde, informa que o morcego é protegido pela fauna silvestre, ou seja, sua eliminação é permitida somente em área rural (silvestre) e quando o animal se alimenta de sangue.
Na área urbana, os animais se alimentam de frutas ou insetos e somente atacam o ser humano para se defender, quando se sentem, de alguma forma, ameaçados. Sua eliminação, portanto, é considerada crime ambiental.
“A orientação é para que a população vede vãos em telhados e muros que possam servir de abrigos aos morcegos e elimine as árvores frutíferas do quintal”, recomenda.
Além disso, o órgão aponta que os morcegos fazem o controle ambiental de pragas, além de realizarem a polinização e a distribuição de sementes.
O recolhimento do animal pelo CCZ é feito apenas quando o animal é encontrado dentro da residência ou caído ao chão.
Já quanto às árvores, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) ressalta que a poda não interfere no controle dos morcegos.
A mesma observação, porém com uma ressalva, é feita pelo biólogo Wilson Uieda. “A poda das árvores adianta se for feita antes do período de frutificação”.
Ainda de acordo com a Semma, a poda é de responsabilidade do morador do lote que abriga a árvore, e deve ser realizada somente diante de autorização obtida junto à prefeitura.
Curiosidades
Apesar da cultura do terror criada ao longo dos anos diante da imagem do morcego nas telas do cinema, o biólogo Wilson Uieda afirma que as espécies existentes na região de Bauru são inofensivas e não integram o rol das chamadas pragas urbanas.
“Rato é um bicho introduzido, pomba é um bicho introduzido, já o morcego não. É uma espécie nativa e colabora no reflorestamento, no controle de doenças transmitidas por mosquitos e na polinização de flores. Infelizmente os filmes de terror passaram uma imagem errada dos morcegos”, pontua Uieda.
Normalmente, os morcegos voam de forma solitária ou em grupos de dois ou até dez animais.
Comunicam-se por som e se orientam pela emissão de sons de baixa frequência, que informam a distância e composição de obstáculos. Possuem visão em preto e branco e enxergam apenas de perto.
A média de vida de um morcego varia de 10 a 20 anos. A reprodução ocorre, geralmente, uma vez por ano e contempla o nascimento de apenas um filhote, que é carregado pela mãe.
Serviço
Em casos de morcegos dentro da residência ou caídos ao chão, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) deve ser acionado para realizar o recolhimento por meio do telefone (14) 3103-8050.
A solicitação para autorização de podas de árvores deve ser feita à Semma por meio do guichê da Prefeitura de Bauru no Poupatempo. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (14) 3235-1037 ou (14) 3235-1284.
Divulgação |
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Morcegos frugíveros se alimentam da polpa externa de coquinhos quando estão maduros |