A comunicação deve ser precisa. Cada palavra tem um significado específico, ou mais que um, e deve ser escolhida com maestria, tal qual o operador do bisturi na cirurgia. Na comunicação científica, deve ser ainda mais precisa, para não dar espaços a dúvidas impertinentes: abaixo a sinonímia! Eis três razões pela precisão das palavras e significados:
1ª razão. O conceito contemporâneo de hereditariedade humana têm quatro faces: a) genética, b) epigenética com ambiente interferindo na genética sem mutações, c) o comportamento que leva ao aprendizado social pela postura, hábitos e formas de reação com os novos membros desenvolvendo características do grupo ou família e d) a simbologia da comunicação na qual os símbolos da linguagem entre os membros de uma geração para com a outra se faz via escrita e outros ícones: o patrimônio cultural da humanidade. Estas quatro facetas da hereditariedade representa o diálogo com as demais gerações, implica em deixar um mundo codificado e melhorado.
Quanto mais precisa e simples for a simbologia da linguagem, mais as futuras gerações nos compreenderão! As mutações do DNA para nos adaptarmos ao mundo são lentas, ocorrem a cada 100 anos em média. O homem também não consegue aumentar a capacidade de armazenamento do cérebro, pois teria que aumentar seu tamanho, o que dificultaria o parto.
Pelo DNA lento e tamanho limitado do cérebro, o homem aprendeu transmitir informações para as futuras gerações deixando registros por meio de símbolos e comunicação. Para isto, constrói melhores máquinas e sistemas de armazenamento de informações na forma de palavras e símbolos.
2ª razão. Cada palavra representa a chave ou senha para ser colocada no banco de dados ou no computador para se resgatar o que foi armazenado pelas gerações atual e anteriores sobre o assunto. Uma letra errada e toda a busca, pesquisa ou resgaste de dados e informações fica alterada, imperfeita ou incompleta.
Uma palavra inoportuna e o resgate vai trazer muitas informações equivocadas. Um banco de dados, as verdadeiras bibliotecas de hoje, será melhor utilizado quanto mais precisas forem as palavras chaves ou senhas. Quanto mais certeira for a palavra empregada, mais completa e rápida será a pesquisa, o trabalho, o uso da máquina e o tempo.
3ª razão. Até bem pouco tempo era muito elegante e erudito referir-se ao mesmo fenômeno ou objeto com várias palavras diferentes em um mesmo texto: a sinonímia! Hoje isto tende para o antiquado e inoportuno, pois dificulta a compreensão, tira a precisão da comunicação e amplia o número de palavras chaves a ser utilizadas nos bancos de dados para resgatar o que se pensa e pesquisa.
Resgatar informações anteriores e atuais sobre um assunto também foi chamado de levantamento bibliográfico. Era feito em livros de registros conhecidos como índices ou obras de referência; a cada mês se listava todas as obras publicadas no mundo sobre uma área. Um trabalho insano: folhear milhares de páginas com letras miúdas para saber se alguma coisa nova existia nas recentes publicações para acompanhar a evolução científica! Se quisesse saber o publicado nos últimos 20 anos, mais milhares de páginas e centenas de grossos volumes. Nas bibliotecas físicas, prateleiras orgulhosamente apresentavam as obras de referências como o “Current Contents, Biological Abstracts, Index Medicus Literature” e outros bancos de dados manuais.
Até hoje, os livros quando se refere a uma doença, produto químico ou fenômeno físico, antes de começar o texto, já no primeiro parágrafo coloca a sinonímia, um termo coletivo que engloba todos nomes para um mesmo evento. Algumas doenças chegam a ter 20 a 50 nomes, uma teia de dificuldades para o resgate de informações em levantamentos, uma armadilha intelectual.
Na ciência de todas áreas do conhecimento poderia se adotar uma campanha para diminuir ou acabar com a sinonímia: em nada ajuda e em tudo atrapalha. Uma sinonímia vasta em um mesmo texto confunde, atrapalha a compreensão e dificulta o futuro resgate do mesmo pelas futuras gerações. Abusar da sinonímia pode representar apenas uma pseudo-erudição.
Os amantes do rebuscamento de textos me desculpem por ceder à modernidade e praticidade em meus prolegômenos de epistemologia, ou seja, em minhas singelas abordagens preliminares sobre o conhecimento!
Até logo, até a próxima, tchau, bom dia, até breve, até daqui a pouco, obrigado, volto logo, até mais, volto já, fui, me vou, adeus e vambora...!
Alberto Consolaro é professor titular da USP e colunista de Ciências do JC