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Brasil - Líbano: um amor antigo

Gesner Abdala Aude
| Tempo de leitura: 4 min

É sabido que as relações dos povos brasileiro e libanês antecedem a própria independência do Líbano, em 22 de novembro de 1943. Em 1808, quando a família real portuguesa chegou ao Brasil e ao saber que não havia encontrado em sua chegada um local digno dela, um libanês ofereceu a sua casa para D. João VI a fim de servir como residência para a Família Real. Essa história consta dos arquivos da Biblioteca Nacional de Portugal. No documento, o nome do homem que praticou o nobre gesto: Antun Elias Lubbos, também conhecido pelo nome Antônio Lopes. E a casa que ele ofertou a D. João VI se tornou o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. (No Museu Histórico e Geográfico e Nacional estão as provas).

Em 1876, D. Pedro II fez uma visita de caráter turístico e científico ao Oriente Médio, mas que teve porém grande importância histórica. O imperador brasileiro era fluente em árabe. Admirador da cultura, iniciou as aulas para aprender o idioma. Quando chegou ao proto de Beirute em um navio de bandeira verde-amarela, jornais e revistas fizeram vários artigos sobre o Brasil. "Até então a América para os libaneses eram os Estados Unidos".

Os libaneses na ocasião o presentearam com uma biblioteca e um trono feito com a madeira de seus cedros, que simboliza a eternidade. Este trono pode ser visto hoje no Museu Imperial de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Em retribuição, D. Pedro II ofereceu aos libaneses uma caixa de ouro e diamantes, que representa a riqueza das terras brasileiras. A imigração contemporânea iniciou-se em 1880 com a chegada simbólica de Youssef Mussa ao Rio de Janeiro.

O Imperador ficou encantado com o dinamismo do povo libanês e disse: "Gostaria de ver o maior número de vocês no Brasil, prometo recebê-los bem e tenham certeza de que retornarão prósperos". E ele tinha razão: hoje vivem aqui mais de 10 milhões de libaneses e descendentes, o maior número de imigrantes libaneses do mundo, que pela força do seu trabalho, perseverança e inteligência alcançaram notáveis posições em todas as áreas de atividades, contribuindo decisivamente para a formação da nacionalidade brasileira. A História é pródiga em exemplos que marcam o elo afetivo entre os dois países Brasil e o Líbano.

Em Bauru, os libaneses estão desde 1895, antes da fundação da cidade, quando da chegada de Alexandre Nasralla. Em 1922 nascia a Sociedade Beneficente Síria de Bauru, eram os primeiros passos que a comunidade árabe, ainda pequena, dava para fortalecer sua identidade cultural em terras estrangeiras. Os nomes foram mudando: Sociedade Beneficente Sírio-Libanesa de Bauru, em 1938; Clube Recreativo Sírio-Libanês, em 1948; Clube Monte Líbano de Bauru, em 1983. Muita história se fez nestes anos de existência. Aos poucos, os cidadãos libaneses, sírios, jordanianos, turcos, palestinos..., entre outras nacionalidades árabes foram se integrando à cidade e, o que é mais importante, entre si mesmos. Nos períodos difíceis, onde as notícias de guerras e conflitos afligiam a comunidade, o Clube sempre procurou se posicionar publicamente.

Depois de um período de inatividade, o Clube teve seu ritmo retomado em 1978 há exatos 35 anos. Preocupados em resgatar o seu papel e suas tradições, um grupo apaixonado de pessoas pelas tradições e a cultura tomou a iniciativa de promover uma reunião e dar nova vida à entidade. Nesta nova etapa, o primeiro presidente foi Hecmet Farha, que ocuparia o cargo por mais quatro vezes. Seus sucessores foram Chafic Elia Said, Massad Kalim Massad, Hanna Georges Saab e Munir Zugaib, sendo atualmente presidente Massad Kalim Massad.

As famosas festas anuais tiveram início em 1983 e, de lá pra cá, tornaram-se atividade obrigatória no calendário social da cidade, antes eram realizadas no mês de agosto em comemoração ao aniversário de Bauru, e atualmente na data nacional de Independência do Líbano. As diretorias procuraram, em cada uma delas, homenagear cidadãos ilustres da comunidade árabe local e, em alguns casos, de fora de Bauru. Os jantares do Clube Monte Líbano, já tradicionais em Bauru, são realizados sem interrupção desde 1983. A cada ano, são mais disputados e revelam a necessidade de manter acesa a chama da tradição, dos costumes e da alma do povo árabe. E como a história não pára, o Clube Monte Líbano de Bauru ainda tem muito a conquistar. Nos planos da entidade estão o seu fortalecimento junto à comunidade, mais eventos sociais... entre outros.

O autor, Gesner Abdala Aude, é secretário geral do Clube Monte Líbano de Bauru desde 1981 e membro fundador da Federação das Entidades Líbano-Brasileiras, com sede em Belo Horizonte - MG

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